sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Governo Lula assume, de fato, iniciativa no combate à crise mundial e enfrenta banqueiros

BC vai cortar remuneração de banco que não comprar carteira

Uma ótima ideia do presidente Lula que resolveu enquadrar os banqueiros que só pensam no vil metal e não estão nem aí para os problemas gravíssimos que deveriam ajudar a resolver. Agora, com as novas medidas, acabou a dúvida. Ou os bancos ajudam a resolver a grave crise de crédito e de liquidez ou serão punidos. O mesmo vale para a ponta do crédito para pessoal física, que também sofreu um tremendo abalo e ainda não tem preocupado muito as autoridades. Sem crédito para o consumidor final, a economia continuará estagnada.

Leia mais: Governo eleva pressão sobre banco grande. BC retira remuneração de compulsório para tentar forçar compra de carteiras de bancos menores em dificuldades

Com medida, R$ 28 bilhões em depósitos recolhidos compulsoriamente deixarão de ter o ganho da taxa básica de juros

O presidente do BC, Henrique Meirelles, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos no Senado sobre a crise financeira

Diante da resistência dos grandes bancos que atuam no país em injetar dinheiro nos seus concorrentes de menor porte, o governo Lula impôs prejuízos àqueles que preferirem deixar seus recursos parados nos cofres do Banco Central em vez de usar o dinheiro para ampliar o crédito no país.

Na medida mais dura já aplicada pela administração petista no setor bancário, o BC anunciou que tentará forçar bancos maiores a destinar até R$ 28 bilhões para comprar parte da carteira de bancos menores.

A medida ocorre uma semana depois de Lula ter conversado com representantes dos grandes bancos para pressioná-los a abrir as torneiras do crédito. Como ouviu respostas desanimadoras, pediu à equipe econômica medidas para pressioná-los. O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) já havia antecipado a possibilidade de punição à Folha no dia 19.

O BC espera que, com a medida, seja aliviada a secura do crédito. Com o agravamento da crise, as linhas externas ao Brasil secaram, e bancos e empresas passaram a ter dificuldades para financiar suas operações.

Assim como a maioria das medidas adotadas até agora contra a crise, a mudança de ontem atinge as regras do compulsório, parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC. Cada tipo de depósito tem uma regra diferente no compulsório. Nos a prazo (principalmente CDBs), os bancos são obrigados a recolher 15% dos saldos mantidos pelos clientes, e esse recolhimento é feito por meio de títulos públicos. Isso significa que, na prática, esse tipo de compulsório é remunerado pela taxa Selic (hoje em 13,75% anuais).

Desde o começo do mês, o BC oferece descontos no compulsório sobre depósitos a prazo de até 70%, a ser recolhido por bancos que adquirirem carteiras de bancos menores.

Isso significa que o banco que tivesse R$ 100 milhões de compulsório a recolher poderia usar até R$ 70 milhões para comprar carteiras de crédito de outras instituições. Quem optava por não fazer esse tipo de aquisição deixava os recursos depositados no BC e recebia em troca a correção da Selic.

Mesmo com esse incentivo, os negócios fechados nas últimas semanas somaram cerca de R$ 1,5 bilhão, o que, segundo o BC, deixou um potencial de R$ 28 bilhões sem ser usado. Esse valor, que equivale a sete vezes o lucro do Bradesco no primeiro semestre deste ano, continuou no compulsório.

"Já tomamos medidas no sentido de liberar o compulsório para ser usado na compra de carteira de crédito dos bancos pequenos e médios, mas isso não está ocorrendo na medida esperada", disse ontem o presidente do BC, Henrique Meirelles, no Senado.

Diante disso, o BC decidiu limitar o pagamento dessa correção e determinou que só 30% do compulsório poderá ser recolhido pelos bancos por meio de títulos públicos. Os 70% restantes serão pagos em dinheiro e não receberão remuneração se ficarem parados no BC.

Com a mudança, os bancos terão duas opções: deixar esses 70% no BC, sem remuneração, ou usar os recursos para comprarem carteiras de outras instituições. Se considerada a Selic de hoje, a aplicação de R$ 28 bilhões renderia aos bancos cerca de R$ 3,9 bilhões ao ano. Esses R$ 28 bilhões são pouco mais de 10% do total da carteira de crédito dos bancos de pequeno e médio porte no país.

A Febraban (associação brasileira dos bancos) não comentou a medida.

Montadoras e governo discutem pacote de crédito

Por trás destes atos das montadoras está a pressão para conseguirem mais facilidades ainda do governo federal e ter licença para reajustar os preços dos veículos. Quando o dólar estava nas alturas era usado como desculpa para os carros no Brasil serem mais caros que nos Estados Unidos. Quando o dólar caiu, os preços dos carros ficaram do mesmo jeito. Agora, com a subida do dólar, faz-se o teatrão de sempre. E da mesma maneira que o governo federal foi enganado pelos bancos não deve, agora, cair nas armadilhas das montadoras. Estamos atentos.

Leia mais: GM alega queda nas vendas e anuncia novas férias coletivas para 10 mil funcionários no ABC e Gravataí. 

Às vésperas da reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para montar um pacote de retomada do crédito para a compra de veículos, a General Motors anunciou ontem férias coletivas para mais de 10 mil funcionários das fábricas de São Caetano (SP) e Gravataí (RS).

Ficarão em casa por 16 dias em novembro os 5,2 mil funcionários da filial gaúcha onde são feitos Celta e Prisma. Em São Caetano, a dispensa atingirá 5 mil empregados das linhas de Astra, Classic, Corsa, Montana e Vectra. Eles param de trabalhar na segunda-feira e retornam dia 18. Cerca de 24 mil carros deixarão de ser produzidos.

Segundo a GM, a medida é para adequar estoques diante da "restrição de crédito que já impacta as vendas de veículos no mercado interno". A empresa espera "que a atual situação seja passageira e volte à normalidade em dois a três meses".

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Mantega e Meirelles discutirão com as montadoras medidas para a liberação de dinheiro extra destinado ao financiamento de carros novos e usados por parte do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

A reunião será realizada em São Paulo e os executivos do setor esperam sair de lá já com um pacote de medidas concretas. O governador de São Paulo, José Serra, disse na quarta-feira, durante a abertura do Salão do Automóvel, no Anhembi, que a Nossa Caixa também participará do esforço de reativação do crédito ao setor.

Além da já anunciada possibilidade de compra de carteira de clientes por parte do BB e da Caixa, as montadoras esperam uma linha especial para financiamento ao consumidor que permita a volta da oferta de juros mais baixos, prazos mais longos e menos restrição ao crediário. Cerca de 70% da venda do setor é financiada.

A farta disponibilidade de financiamento no mercado antes da explosão da crise internacional vinha contribuindo para sucessivos recordes de venda de veículos. Em outubro, pela primeira vez no ano, os negócios tiveram queda em relação ao mesmo período de 2007.

Até o dia 29 foram licenciados 214,1 mil veículos, número 5,8% inferior ao de outubro do ano passado e 15% menor ante setembro. No ano todo foram vendidos 2,42 milhões de unidades, 24% a mais que em 2007. O setor previa vender até dezembro 3 milhões de veículos. Pelas novas projeções, o volume pode ficar em 2,8 milhões.

Conselho amplia recurso do FGTS para habitação

Tem todo o apoio da UGT. Desde que o crédito chegue para o trabalhador e para a classe média. Senão vamos financiar imóveis para a elite, resolver o problema das construtoras. Queremos mais, mesmo nos mecanismos adotados pelo governo para sair da crise. O viés social tem que predominar porque se trata de dinheiro público, de todos nós, sendo colocado no mercado.

Leia mais: O Conselho Curador do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) aprovou ontem o orçamento de 2009, que prevê a liberação de R$11,9 bilhões para o setor de habitação. O volume é 40% superior ao autorizado para execução neste ano. O valor total para investimentos no próximo ano será de R$ 27,4 bilhões.

Na reunião de ontem, o conselho curador também alterou as regras do FI-FGTS (fundo de investimento em infra-estrutura) para permitir um repasse imediato de R$ 7 bilhões para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aplicar em projetos de infra-estrutura. Em uma negociação anterior com o banco, o fundo já havia repassado R$ 6,5 bilhões neste ano.

O ministro Carlos Lupi (Trabalho) afirmou que o orçamento de 2009 reflete o aumento da arrecadação do FGTS neste ano. Ele acrescentou que, no cenário de crise, os recursos serão importantes para manter o nível de atividade na construção civil.

Dos R$ 11,9 bilhões para habitação, R$ 7,4 bilhões beneficiarão famílias de baixa renda. Para o programa de financiamento exclusivo para cotistas do fundo (com juros diferenciado), foi reservado R$ 1 bilhão. Já a área de saneamento ficou com R$ 4,6 bilhões.

Capitalização — O BNDES vem buscando em várias fontes recursos para elevar sua capacidade de empréstimo às empresas. Setores do governo e integrantes do conselho vinham apresentando restrições ao empréstimo direto ao banco com o temor de que o FGTS tenha o mesmo destino do FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador).

O FAT é a principal fonte do BNDES e encontra-se em situação financeira delicada. Acredita-se que a partir de 2010 o fundo apresente resultados negativos.

Na reunião do conselho, as bancadas que integram o colegiado (governo, trabalhadores e empresários) precisaram interromper as discussões para acalmar os ânimos. Apesar do clima tenso, no final foi aprovado o repasse direto ao BNDES, que emitirá para o fundo debêntures (papéis) próprias lastreadas em um conjunto de projetos de infra-estrutura.

Esses projetos serão avaliados pela Caixa e pelo comitê de investimento do FI-FGTS e precisam ser das áreas de energia, rodovias, ferrovias, portos, saneamento e hidrovias -setores previstos na lei de criação do fundo de infra-estrutura. Segundo o secretário-executivo do FGTS, Paulo Furtado, o prazo de pagamento ao fundo acompanhará a curva média de retorno dos projetos.

Governo cria linha de crédito imobiliário para servidores

A iniciativa é excelente e deveria ser imediatamente seguida pelos governos estaduais. Os servidores têm uma renda garantida e estabilidade. Muitos ainda não têm casa própria. E o dinheiro injetado no mercado, ajudará a aumentar o emprego na construção civil, reforçará o PAC e aquecerá a economia. É uma medida tão importante, que não deveria ter esperado a crise mundial ter se instalado para ter sido adotada.

Leia mais: Para estimular construção civil, BB e Caixa darão financiamentos ao funcionalismo federal

Juros deverão ser mais baixos que os de mercado, em uma faixa de 8,4% a 13,95% ao ano, dependendo do valor do financiamento

Em mais uma medida para estimular o setor da construção civil, o governo federal acertou com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a criação de uma linha de crédito habitacional exclusiva para servidores públicos federais de todo o país -ativos, inativos e pensionistas. Os juros oferecidos serão mais baixos que os praticados no mercado e devem variar de 8,4% a 13,95% ao ano, dependendo do valor do financiamento.

A proposta inicial previa a criação da linha exclusiva apenas para os servidores da Previdência Social, Dataprev (empresa de processamento de dados da Previdência) e INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Na formatação do programa e com o agravamento da crise, o governo decidiu ampliar a linha de crédito a todo o funcionalismo -inclusive empresas públicas e sociedades de economia mista que desejarem aderir ao convênio.

As condições do financiamento ainda estão sendo concluídas, mas a proposta apresentada pelos bancos à Previdência estabelecia taxas e prazos variados. No caso da Caixa, o financiamento previsto é de até 100% do valor do imóvel, novo ou usado, e o prazo de pagamento pode ir a 30 anos.

Para imóveis de R$ 130 mil a R$ 350 mil, as taxas apresentadas vão de 8,4% a 10,5% ao ano, mais TR (Taxa Referencial). O financiamento de imóveis acima de R$ 350 mil prevê juros de 11% ao ano mais TR. Segundo a Caixa, o funcionário público não pode comprometer mais que 20% de sua renda com a prestação do imóvel. No pacote, também estava incluído financiamento para compra de material de construção, em condições mais favoráveis, com prazo de cinco anos.

Já o Banco do Brasil propôs financiar apenas 80% do valor do imóvel. No entanto, além de imóveis residenciais, abriu a possibilidade de emprestar recursos para aquisição de imóvel comercial. Nos dois casos, estão previstos imóveis novos ou usados. O prazo de pagamento: até 20 anos.

As taxas oferecidas, de acordo com a proposta inicial, são de 8,9% ao ano mais TR (modalidade pós-fixada) para imóveis entre R$ 120 mil e R$ 350 mil. Na opção por contrato com taxa prefixada, 11,9% ao ano. Acima de R$ 350 mil, 11,5% mais TR, nos contratos pós-fixados, e 13,95%, nos prefixados.

"Esse convênio é muito importante para os servidores, principalmente para aqueles que ainda não têm casa própria. No caso da Previdência, como planejamos abrir novas agências no interior do país, isso permitirá ao servidor comprar uma moradia", disse à Folha o ministro da Previdência, José Pimentel.

O ministério informou que o convênio somente com a Previdência deveria ser fechado hoje. Mas, com a ampliação para todo o funcionalismo, a assinatura foi adiada para a semana que vem. De acordo com o Ministério do Planejamento, haverá uma reunião na próxima semana para bater o martelo sobre as condições da linha especial para o funcionalismo.

Procurada, a Caixa disse que não haverá volume definido para a linha especial dos servidores. O BB disse que não poderia dar detalhes, pois a medida ainda está em fase de negociação.

IGP-M acelera e fecha outubro com alta de 0,98%

O que mostra a arrancada do IGP-M é que, infelizmente, a crise chega no bolso do trabalhador na forma de inflação. Inflação é transferência de renda para bancos, indústrias e comércio que pode estocar, com prejuízo direto para grandes massas de trabalhadores. Temos que enfrentar a crise mundial e ao mesmo tempo combater a inflação.

Leia mais: O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), usado para o reajuste de contratos de aluguel, tarifas públicas e planos de saúde mais antigos, acelerou mais que o esperado em outubro, refletindo, em boa medida, um reajuste mais forte dos preços no atacado. O indicador teve alta de 0,98% neste mês, ante avanço de 0,11% em setembro, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta quinta-feira. No ano, o índice acumula alta de 9,53%. Nos últimos 12 meses, o ganho foi de 12,23%.

No último Boletim Focus, do Banco Central (BC), a previsão do mercado era que o IGP-M ficasse em 0,78% em outubro. Esse avanço maior na inflação justifica de uma certa forma a prudência que o Comitê de Política Monetária (Copom), vem mostrando em relação à taxa de juros e a decisão na reunião de ontem de manter a Selic em 13,75% .

Entre os componentes do IGP-M, calculado com base nos preços coletados entre os dias 21 de setembro e 20 de outubro, o Índice de Preços por Atacado (IPA) registrou alta de 1,24% em outubro, ante avanço de apenas 0,04% em setembro.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou 0,25%, depois de cair 0,06% no mês passado. Os alimentos voltaram a ser a principal razão para o aumento dos custos no varejo, com avanço de 0,13%, abandonando uma retração de 1,04% em setembro.

"Nesta classe de despesa, os destaques foram: hortaliças e legumes (-8,84% para -3,78%), arroz e feijão (-4,34% para 1,87%), carnes bovinas (0,26% para 2,39%) e laticínios (-2,92% para -1,42%)", observou a FGV em nota.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou ampliação de 0,85% em outubro, ou 0,10 ponto percentual abaixo da taxa do mês antecedente, de 0,95%. Os grupos Materiais (1,73% para 1,63%) e Mão-de-Obra (0,30% para 0,14%) apresentaram decréscimos em suas taxas de variação. Em sentido inverso, Serviços foram de 0,40% para 0,59%.

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Nos move a certeza de que o povo brasileiro, otimista por natureza, é muito maior que a crise

Lula pede que 'síndrome do pânico' não domine economia e pede ousadia ao setor automobilístico

Em reunião que tive com Otávio Valejo, presidente do Sindicato das Revendas de Automóveis, concluímos que devemos apostar na transparência para mostrar a gravidade da crise, mas tomar todos os cuidados, conforme o faz o presidente Lula, para evitar a o terror de transformar a realidade num monstro muito maior do que poderia vir a ser. Neste blog procuramos contextualizar as informações, mostrar a quem interessa as manipulações, exigir punição exemplar para os especuladores e buscar mecanismos para proteger os trabalhadores e as empresas que produzem e exportam. Porque nos preocupa o Brasil e sua economia. E nos move a certeza de que o povo brasileiro, otimista por natureza, é muito maior que a crise.

Leia mais: Num novo alerta sobre os reflexos da crise financeira internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na noite desta quarta-feira, na abertura do Salão do Automóvel, em São Paulo, que o país não pode ser contaminado pelo que chamou de "síndrome do pânico". Segundo ele, o brasileiro não deve se render a uma espécie de guerra emocional que estaria tomando conta do mundo por conta da turbulência do mercado financeiro internacional.

- Temos que olhar para isso (a crise) com a atenção que ela merece de nós. Mas não podemos entrar na síndrome do pânico e paralisar nossas atividades por causa da crise - disse Lula, acrescentando que o sistema financeiro brasileiro mostrou que é mais sólido que o daqueles que antes "tentavam nos ensinar".

A isso, afirmou o presidente, somam-se "indicadores favoráveis" como a diversificação da pauta de exportações e as reservas cambiais.

Temos que olhar para isso (a crise) com a atenção que ela merece de nós. Mas não podemos entrar na síndrome do pânico e paralisar nossas atividades por causa da crise

- Entretanto é importante que a gente faça reflexão de que é uma crise possivelmente tão ou mais séria que a crise de 1929. É uma crise que nasce no coração da principal economia do mundo - emendou o presidente, durante abertura do 25º Salâo Internacional do Automóvel, no Parque de Exposições do Anhembi, ao lado do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e do prefeito reeleito Gilberto Kassab (DEM).

- Todos sabemos que tem uma crise que nasce um pouco da irresponsabilidade daqueles que querem ganhar dinheiro sem produzir absolutamente nada. O dado concreto é que, em alguns países, essa crise começa a chegar na economia real. Certamente, temos a perspectiva de que haverá problema de redução de consumo em alguns países, em especial nos Estados Unidos da América do Norte - disse o presidente Lula, garantindo que o governo tratará o setor automobilístico como uma de suas prioridades

Tenho feito questão de ser uma espécie de pregador do otimismo neste país. Tem gente que não gosta.

- Vamos tomar conta de alguns setores da economia que consideramos cruciais - disse Lula, citando como exemplo industria automobilística e a construção civil.

- O que nós não podemos é aceitar que o pânico, o medo, a desconfiança gere qualquer problema para a gente fazer as compras que a gente tem que fazer - advertiu o presidente no discurso, ao lado de Serra, para centenas de empresários e executivos do setor automobístico brasileiro.

- Mantenham os investimentos anunciados de US$ 22 bilhões até 2010. Não há nenhuma razão para vocês pararem com os investimentos. Não me negarei a ser garoto-propaganda dos produtos brasileiros onde o Brasil ainda puder vender. Acho que o momento é de ousadia - pediu Lula, sendo aplaudido pelos empresários.

Fed reforça o caixa do BC com operação de US$ 30 bi

Essa notícia nos mostra que a crise é grande. Pela primeira vez na História moderna temos um acordo de transferência de recursos entre bancos centrais. O lado positivo desta decisão, mesmo diante da crise imensa e global, é que o Real foi aceito na transação, o que legitima as políticas adotadas pelo governo brasileiro de manutenção da estabilidade da moeda. Hoje o Real é uma moeda com reconhecimento mundial e assim que superarmos essa crise, pois vamos superá-la, nossa moeda, nossa economia e nosso País estarão em um patamar mundial mais elevado.

Leia mais: Dinheiro extra deve ser utilizado para o País enfrentar a escassez de dólares no mercado.

O Banco Central anunciou ontem que recebeu um reforço de US$ 30 bilhões para as reservas internacionais, que poderão ser usados para controlar o mercado de câmbio. A ajuda é resultado de um acordo com o Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos), que terá validade até 30 de abril de 2009. O Fed anunciou entendimento idêntico e em igual valor com México, Cingapura e Coréia do Sul. Os dólares serão recebidos pelo Brasil e, como garantia, o BC vai enviar reais aos Estados Unidos.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, comemorou o significado do acordo porque inclui formalmente o Brasil no grupo de países com "economias sistemicamente importantes". Para Meirelles, o entendimento com as autoridades americanas representa o "reconhecimento da qualidade da política econômica" conduzida pelo País.

Com esse acordo, o Brasil terá recursos extras para amenizar o efeito da crise, que reduziu a oferta de dólares. Atualmente, a autoridade monetária tem atuado no câmbio, com a venda da moeda que está nas reservas internacionais, o que tem diminuído gradativamente esse montante.

O BC recebeu autorização para fazer acordos desse tipo com a Medida Provisória 443, a mesma que permitiu que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprem participação acionária em bancos e empresas. A partir da regulamentação do acordo - que será feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), será possível usar os recursos do Fed para aliviar a pressão do mercado. Assim, será preservado o nível das reservas brasileiras. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre enaltece o nível superior a US$ 200 bilhões das reservas, que funcionam como um dos escudos contra a crise.

Diferentemente de antigos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o entendimento com o Fed não implica "condicionalidades de política econômica", destaca nota divulgada pelo BC. Quando o acordo for regulamentado e houver a operação, o Fed vai creditar os dólares nas reservas brasileiras. Em contrapartida, o Brasil remeterá valor equivalente em reais aos EUA. Segundo o BC brasileiro, o crédito dos recursos será feito de acordo com a demanda, não necessariamente de uma só vez.

De acordo com a assessoria de imprensa do BC, não há custos nem variação cambial embutidos na operação. Ou seja, os dólares do Fed que ingressarem no Brasil serão devolvidos pelo mesmo volume de reais remetido aos EUA.

Para economistas, o BC ganhou mais poder para restabelecer a liquidez do mercado cambial. "A medida visa a maior liquidez ao mercado. Isso aumenta o poder de fogo do BC", disse o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos. Com avaliação semelhante, o economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale, disse que o acordo "aumenta a bala do BC".

Megale observa, porém, que a ajuda tem um aspecto que não deve ser comemorado: os países beneficiados são os que mais sofreram com os swaps corporativos, como os que provocaram prejuízos à Aracruz, Sadia e Votorantim. "Sabemos que México, Brasil e Coréia do Sul são os países cujas empresas mais sofreram com derivativos." Para ele, Cingapura seria o único que não estaria entre os mais prejudicados pelos derivativos cambiais.

Além de Brasil, Cingapura, Coréia do Sul e México, Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e a União Européia já têm acordos semelhantes com o Fed.

Decisão de manter taxa de juros em 13,75% divide indústria, comércio e centrais

A UGT gostaria que a taxa de juros fosse reduzida. Mas apoiou a manutenção como a escolha menos ruim, que mostrou bom senso do Copom neste momento de turbulência global.

Leia mais: A decisão do Copom de manter a taxa de juros em 13,75% ao ano dividiu a opinião da indústria, do comércio e das centrais sindicais. Para a indústria paulista, a medida não favorece a economia do país, em meio a uma crise internacional. Já representantes do comércio, do setor de infra-estrutura e da indústria nacional avaliam que a medida foi correta ao levar em conta o risco de recessão.

A Fiesp (federação das indústrias paulistas) ressaltou que, enquanto nos EUA os juros caíram de 1,5% para 1% ao ano e os bancos centrais do mundo sinalizam para o corte da taxa, o Brasil não agiu na mesma direção. Em nota, diz que, em abril deste ano, o Copom iniciou um processo de aumento da Selic, para encarecer o crédito e não deixar que o aquecimento da economia pudesse trazer aumento da inflação. "Essa intenção vai em sentido oposto à pretendida pelo mundo no atual cenário econômico."

Paulo Skaf, presidente da Fiesp, afirma que "a manutenção da Selic deve ser bem recebida pela sociedade, desde que seja vista como o início de um processo de queda continuada dos juros, fator essencial à retomada do crédito evitando, assim, maior freada da atividade econômica no Brasil".

Para a Associação Comercial de São Paulo, a decisão "decepcionou o lado real da economia". Alencar Burti, presidente da entidade, diz que os empresários esperavam corte da taxa, "tendo em vista a forte retração do crédito, o aumento dos juros e a redução de prazos de financiamento, que vêm afetando as vendas do varejo, provocando redução da produção e de horas trabalhadas em muitos segmentos, com risco de levar à demissão de trabalhadores".

Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) classifica a decisão de interromper o ciclo de elevação dos juros como "sensata". "Reduzir os compulsórios, liberar recursos para o sistema interbancário e interromper o ciclo de alta dos juros são ações corretas que buscam diminuir os impactos do empoçamento de liquidez", avalia. "Mas essas medidas podem não ser suficientes."

Para a Abdib (indústria de base), a decisão foi coerente e responsável. "O cenário econômico interno e externo mudou bruscamente nas últimas semanas, exigindo outras ações de política econômica, diferentes daquelas que vinham sendo adotadas. Tão importante quanto manter a inflação sob controle é agir para manter níveis razoáveis de crescimento econômico neste e no próximo ano, o que não significa atentar para um e descuidar do outro."

Abram Szajman, presidente da Fecomercio, diz que o Copom acerta ao levar em conta o risco de recessão, mas espera que, já na próxima reunião, prevista para dezembro, possa ser iniciado o processo de redução da taxa básica. "Se o governo não reduzir os juros, setores industriais dependentes de crédito, voltados apenas para atender o mercado interno, são os que sofrerão mais. É o caso do setor automobilístico e da construção civil, justamente aqueles que o governo considera como os mais relevantes para manter o ritmo de atividade e o nível de emprego", diz.

Para a Força Sindical, a decisão reflete a "insensatez" da equipe econômica e vai prejudicar os trabalhadores. A CUT chamou a decisão de "conservadora" e avalia que o Brasil "precisa baixar de forma agressiva os juros e diminuir o superávit primário". Para a CTB, o BC "joga contra o desenvolvimento nacional". A UGT apoiou a decisão do BC, embora reconheça que não é "a ideal".

Construtoras ganham até R$ 11 bi para aumentar o capital de giro

Mais uma vez se prioriza a construção civil o que é bom pois garante a geração de empregos. Nossa preocupação é com a outra ponta do crédito, ou seja, facilitar a compra dos imóveis pela classe média e pelos trabalhadores. Se não resolver essa ponta, vamos apenas estocar imóveis novos ou construir para a elite, o que não resolve o problema dos trabalhadores que querem ter o direito de comprar a tão sonhada casa própria.

Leia mais: Dinheiro sairá da liberação de 5% dos depósitos da caderneta de poupança; só a Caixa já garantiu R$ 3 bi

O governo anunciou ontem a criação de uma nova linha de financiamento do capital de giro das empresas de construção civil. O objetivo da medida é conter o desaquecimento do setor, que é um grande empregador.

A linha será formada por meio da liberação de 5% dos depósitos da caderneta de poupança e poderá atingir R$ 11 bilhões. Hoje, os bancos têm de destinar 65% dos depósitos da poupança ao crédito imobiliário. A partir de agora, 5% entre os 65% poderão ser usados para financiar as construtoras. A decisão dependerá dos bancos. A Caixa Econômica Federal antecipou que oferecerá R$ 3 bilhões para cobrir custos de construção e compra de carteira de recebíveis das empresas.

A linha oferecida pela Caixa terá garantia especial do próprio governo federal, por meio de retenção de dividendos, e será oferecida às empresas a uma taxa de 10% a 11% ao ano mais variação da Taxa Referencial (TR), que hoje está em torno de 1,38% ao ano. Ou seja, as empresas com dificuldades em manter suas obras em andamento poderão tomar dinheiro emprestado a um custo de 11,4% a 12,4% ao ano - menos do que a própria taxa Selic, de 13,75%.

"Tudo está sendo feito pela taxa de juros de mercado", disse o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

O argumento é que os recursos da poupança são captados a cerca de 7% ao ano - rentabilidade que os depositantes recebem pelo dinheiro que aplicam nos bancos. Portanto, se cobrar 12%, a Caixa ainda ainda teria cerca de 5% de lucro ao ano.

O problema é o risco da operação, e por isso o Ministério da Fazenda decidiu criar, por meio de medida provisória, um fundo garantidor dos empréstimos que serão concedidos pela Caixa. A MP "dispensa o recolhimento de dividendos e juros sobre capital próprio em montante a ser definido pelo ministro da Fazenda e respeitado o mínimo de 25% sobre o lucro líquido ajustado" durante os anos de 2008, 2009 e 2010.

Ou seja, o excedente de dividendos, além dos 25%, que a Caixa normalmente paga ao Tesouro, poderá manter em uma reserva para dar lastro às operações nos próximos três anos. "É uma garantia extra para reduzir o risco nestes momentos de turbulência internacional."

A adesão é opcional. Cada banco vai decidir se usa ou não os 5% de seus depósitos para oferecer esses empréstimos. Como o estoque de poupança no País soma R$ 220 bilhões, se todos os bancos aderirem ao mecanismo, as construtoras teriam cerca de R$ 11 bilhões em financiamentos.5

Diminuem as vendas em supermercados

É o terror chegando às gôndolas. Temos quer ir devagar com o andor. Não sair consumindo, como sugeriu levianamente o ministro Mantega, mas também evitar a retração por um medo descolado da realidade.

Leia mais: Queda é de 5,6% em setembro em relação a agosto; sobre setembro de 2007, houve aumento de 5,5%, segundo a Abras.

Para a Abras, há grande expectativa em relação ao consumo neste mês, pois lojas percebem consumidor cauteloso com os gastos

As vendas nos supermercados do país caíram 5,6% em setembro em relação a agosto e cresceram 5,5% sobre igual mês de 2007, segundo a Abras, associação que reúne o setor.

A queda nas vendas em setembro, além de ser sazonal, ocorreu porque, em agosto, houve queda nos preços de alguns alimentos, o que resultou em alta do consumo naquele mês, na avaliação da Abras. De janeiro a setembro, as vendas do setor cresceram 8,9% sobre igual período do ano passado.

"Setembro foi um bom mês para o setor, já que houve crescimento sobre 2007. A grande expectativa agora é em relação a este mês. O que já se percebe é que o consumidor está bem mais cauteloso com os gastos", afirma Sussumu Honda, presidente da Abras.

As notícias sobre os desdobramentos da crise financeira internacional tiveram forte impacto nos consumidores. "Por essa razão, a expectativa é que as vendas neste mês ainda cresçam na comparação com as de igual período do ano passado, mas num ritmo menor", diz.

Pelo fato de o mercado financeiro "estar muito conturbado", segundo ele, a Abras ainda não fez previsões para o último trimestre do ano. "O que podemos dizer é que havia expectativa de o setor vender, neste ano, 10% a mais do que no ano passado. Agora já estamos falando em algo próximo a 9%."

Os supermercados paulistas notaram que o consumidor reduziu o valor de compra neste mês e diminuiu os gastos com produtos supérfluos. Por conta disso, a expectativa da Apas (Associação Paulista de Supermercados) é que as vendas neste mês cresçam 4% em relação a igual mês do ano passado, e não mais 9% como estava previsto anteriormente.

"Com tantas notícias ruins sobre os efeitos da crise, o consumidor está muito indeciso neste mês -uma hora ele parece que está disposto a comprar; na outra, parece indeciso. Estamos até evitando falar em previsões neste momento", diz Martinho Paiva, vice presidente de comunicação da Apas.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

UGT nacional e UGTs estaduais avaliam crescimento de 54,78% em seis meses

UGTs nacional e estaduais confirmam crescimento de 54,78% em seis meses

As diretorias das UGTs estaduais se reuniram ontem em São Paulo, na sede da UGT nacional, para fazerem um balanço de um ano e meio de vida da terceira maior central brasileira e, ao mesmo tempo, traçar metas para o ano que se encerra.

O desafio, aceito por todos os presidentes das UGTs estaduais, é elevar o número de sindicatos filiados à UGT das atuais 765 entidades sindicais filiadas sendo: 468 sindicatos de base validados; 269 sindicatos filiados (em processo de validação); 26 Federações nacionais /regionais e estaduais e 2 confederações nacionais. “A nossa representação hoje é de cerca de 4,5 milhões de trabalhadores, dos quais 33% são sindicalizados, o que corresponde a 1,5 milhões de trabalhadores sindicalizados”, afirma o presidente Ricardo Patah, eufórico com o crescimento acelerado da UGT. “Do dia 31 de março deste ano até segunda-feira (27) o número de filiações pulou de 303 para 469 entidades. Um crescimento de 54,78% em número de sindicatos, confederações e federações”, afirma Ricardo Patah.

Participaram da reunião os presidentes e/ou representantes das  UGTs Amazonas (Nindberg Barbosa dos Santos); Bahia ( Álvaro Rios); Ceará (Francisco Teonio da Silva); Minas Gerais (Paulo César Dias de Souza); Pará (José Francisco); Paraná (Paulo Rossi); Rio de Janeiro (Zé Baiano, representando a UGT Rio); Rio Grande do Sul (Paulo Bark); Rio Grande do Norte (João Pereira dos Santos); Santa Catarina (Waldemar Schulz, o Nazinho, e Carlos Magno).

Na abertura da reunião, foi feito um minuto de silêncio em homenagem à memoria do companheiro Montanha, que faleceu recentemente, e que presidia a UGT do Rio de Janeiro.

Chiquinho Pereira, secretário de organização, afirmou que a UGT vai dobrar de tamanho no próximo ano. “Vamos dobrar não apenas de tamanho, mas intensificar ainda mais a nossa presença politica nas cidades, nas Câmaras de Vereadores, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, vamos participar de todas as manifestações que acelerem uma solução para a atual crise econômica, com o peso e participação da UGT em todos os níveis”, afirma.

Canindé Pegado, secretário geral, além de detalhar os procedimentos para acelerar a formalização dos sindicatos e entidades que estão se vinculando à UGT alertou para todos se manterem atentos à mobilização. “A UGT é uma central da mobilização permanente, da troca de ideias e da prestação de serviços para os sindicatos e entidades filiadas, para nos mantermos sempre unidos na defesa dos interesses da classe trabalhadora brasileira”, afirma Canindé Pegado.

Moacyr Pereira, secretário de finanças, detalhou os planos de consolidação das UGTs estaduais e insistiu na colaboração de todos para se manter o crescimento vigoroso e orgânico da entidade. “Vamos crescer uniformemente, amparando todas as UGTs estaduais, independente do Estado ou da região do País vamos consolidar a UGT para ser percebida e atuante junto aos poderes locais e nacionais”, diz Moacyr Pereira.

Câmara aprova MP que autoriza ajuda a bancos

 Felizmente a classe política brasileira amadureceu o suficiente para aprovar, em tempo recorde, a legislação que muda a relação do governo brasileiro com os bancos e com os banqueiros. Destacamos os ajustes feitos pela Câmara dos Deputados que responsabilizam os banqueiros e obriga o Banco Central a dar satisfações à Câmara dos Deputados.

Leia mais: Texto aprovado acrescentou punição para banqueiros em caso de inadimplência e envio de relatório trimestral do BC ao Congresso. 

A Câmara dos Deputados aprovou ontem a Medida Provisória nº 442, que autoriza o Banco Central a socorrer os bancos com operações especiais de redesconto e com garantia de empréstimos em moeda estrangeira. Uma das mudanças feitas pelos deputados no texto da MP prevê que, em caso de inadimplência nessas operações, por um período superior a 90 dias, os controladores das instituições financeiras passam a ter responsabilidade solidária e os seus bens ficarão indisponíveis.

Essa punição para os banqueiros, em caso de inadimplência, foi proposta pelo deputado Paulo Renato (PSDB-SP) e acolhida pelo relator da MP, deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Na justificativa da emenda, Paulo Renato observou que o objetivo da MP é restabelecer a normalidade das condições de liquidez, sobretudo das pequenas instituições financeiras, mas disse que ela "não pode estimular operações de crédito duvidoso".

Outra mudança no texto original da MP, feita pelo relator e aprovada pelo plenário da Câmara, determina que o Banco Central encaminhe ao Congresso Nacional, a cada três meses, relatório sobre as operações realizadas. O BC deverá indicar, entre outras informações, o valor total trimestral e o acumulado no ano das operações de redesconto ou empréstimos realizadas, as condições financeiras médias aplicadas nessas operações, o valor total trimestral e acumulado anual de créditos adimplidos e inadimplidos, além de um demonstrativo do impacto dessas operações nos resultados da instituição.

O texto aprovado pela Câmara obriga ainda o presidente do Banco Central a comparecer ao Congresso, a cada semestre, em reunião conjunta das Comissões de Finanças da Câmara e de Assuntos Econômicos do Senado, para informar e debater sobre os valores agregados e a taxa média praticada nas operações de redesconto em reais.

O relator aproveitou para fazer uma mudança que não está diretamente relacionada ao tema da MP. Ele acolheu emenda do deputado José Carlos Araújo (PR-BA) que dispensa de qualquer outro registro público as operações de arrendamento mercantil ou qualquer outra modalidade de crédito ou financiamento de veículo automotor.

Pela nova regra, a propriedade fiduciária de veículos será constituída tão somente mediante a anotação do respectivo contrato perante a repartição competente para o licenciamento do veículo (ou seja, o Detran). A MP será, agora, analisada pelo Senado.

 

Mantega: governo cogita prazo maior para empresa pagar impostos

Esse é um pedido antigo dos empresários do setor. Temos que ver se não estão atualizando agenda velha e tentando encaixá-las dentro da atual crise. O governo tem que se cuidar senão vai acontecer o mesmo desvio que os bancos adotaram. Pegam as facilidades do governo, economizam com a grana dos impostos e continuam a arrochar crédito e a demitir os trabalhadores.

Leiam mais: O governo estuda a possibilidade de ampliar temporariamente o prazo para que empresas brasileiras paguem seus impostos, diante dos efeitos mais duros da crise financeira internacional, informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O pleito foi feito nesta terça-feira pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), durante evento em Brasília.

- Essa medida, evidentemente, está sendo cogitada - respondeu Mantega, que participou nesta terça-feira do 3º Encontro Nacional da Indústria (Enai), promovido pela CNI.

" Vamos ter um forte impacto na atividade econômica, na economia real "

O ministro ressaltou, no entanto, que o governo também tem preocupação com o equilíbrio fiscal e já está atento a uma possível redução da arrecadação resultante da desaceleração econômica. Ele reconheceu que a crise terá longa duração e magnitude inédita.

- Vamos ter um forte impacto na atividade econômica, na economia real, e no mundo todo vai desacelerar e isso está ficando nítido agora.

O dia começou com o otimismo no mercado financeiro mundial, mas a volatilidade voltou no início da tarde. Os preços muito baixos das ações atraíram investidores em busca de boas compras, mas os índices de confiança do consumidor vieram abaixo do esperado nos Estados Unidos e arrefeceram o otimismo. Aqui no Brasil, o dólar registra queda.

Mantega se disse impressionado como o travamento do crédito pode se transmitir rapidamente para a economia real, mas ressaltou que no Brasil "não há um travamento (da liquidez) como ocorre na economia americana". Ele lembrou que está prevista uma recessão e até uma retração econômica, que se espera, não se transforme em depressão.

- Esse é um desafio que têm os países avançados. O pacote de medidas adotadas nos Estados Unidos e na Europa apenas mitigou o problema. O problema da liquidez do crédito não está resolvido e portanto vai afetar seriamente a economia real - afirmou, destacando que o impacto da crise sobre países emergentes é menor.

- O setor tem que ter garantias de que de vai dar continuidade a seus projetos - disse o ministro, que acrescentou que não serão desativados os projetos de investimento do governo, uma referência ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No 3º Encontro Nacional da Indústria, a principal cobrança dos empresários a Mantega foi a falta de irrigação de liquidez às empresas, enquanto o governo tem se preocupado em garantir a liquidez ao sistema bancário. Mantega disse que liberar compulsório e outras medidas para aumentar a liquidez dos bancos eram necessidades de curtíssimo prazo.

Governo anuncia nova linha de R$ 3 bi para construção civil

Este é o caminho natural para solucionar a crise, que ainda nos obrigará a passar por um período muito difícil. Mas com a construção de moradias, que devem ser populares, realiza-se o sonho da casa própria, diminui o deficit habitacional e faz a economia reaquecer.

Leia mais: O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia amanhã a criação de uma linha especial de crédito de R$ 3 bilhões para capital de giro para o setor da construção civil. Segundo ele, serão recursos da Caixa Econômica Federal (CEF) e não virão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O custo do financiamento ainda não foi definido, disse Mantega, "mas, seguramente, será a taxas abaixo do mercado".

A medida será mais uma resposta para irrigar o setor e evitar uma desaceleração muito forte do boom imobiliário dos últimos dois anos.

No 3º Encontro Nacional da Indústria, a principal cobrança dos empresários a Mantega foi a falta de irrigação de liquidez às empresas, enquanto o governo tem se preocupado em garantir a liquidez ao sistema bancário.

Para o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, "o governo tem que dar um sinal acelerado de que vai cortar gastos públicos para sobrar investimentos e garantir que a economia real não seja afetada pela crise de modo tão forte".

O ex-presidente do Banco Central (BC) Carlos Langoni concorda com Gerdau na avaliação de que o governo precisa reduzir gastos fiscais, pois, segundo ele, o setor público tem pouca "bala na agulha" para aumentar investimentos de forma a "socorrer o esfriamento da expansão da economia real".

Ele citou que a China, por exemplo, anunciou um pacote de US$ 280 bilhões para investimentos em ferrovias como forma de minimizar o impacto da crise na economia do país. Mantega disse que liberar compulsório e outras medidas para aumentar a liquidez dos bancos eram necessidades de curtíssimo prazo. Para o setor produtivo, ele citou que foi ampliado o crédito para a área agrícola e que o governo vai irrigar a área de construção civil com crédito a custos mais baixos.

O ministro refutou as críticas de descontrole fiscal e disse que o governo mantém todos os seus projetos de investimento para 2009, inclusive o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, sugeriu que o governo amplie o prazo de pagamento de impostos, "em caráter extraordinário", de forma a ajudar na liquidez de pequenas e médias empresas, que a seu ver podem ficar inadimplentes com a União em função da crise financeira.

O ministro Mantega, entretanto, disse que o governo pode cogitar a medida, "mas tem que olhar qual seria o impacto de uma desaceleração de receitas sobre as contas públicas, diante da perspectiva de queda de lucros das empresas".

Lula defende que o Estado passe a regular o sistema financeiro

Em Salvador, presidente afirma que vê a crise com duração e conseqüências imprevisíveis

Quando a nona Cúpula Brasil-Portugal foi agendada, a pauta do encontro entre chefes de governo e ministros dos dois países girava em torno de temas amenos, como a uniformização da língua portuguesa e as possibilidades de ampliação do comércio bilateral entre os países. O que se viu ontem, em Salvador, porém, foi uma discussão intensa em torno das possibilidades de ação do Estado sobre a economia.

"Chegou a hora da política", bradou Lula, em seu pronunciamento, no qual reconheceu que crise financeira global "tem duração e conseqüências imprevisíveis". "O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro", argumentou. "Está na hora de os políticos entrarem em ação para que o sistema financeiro tenha a obrigação de ganhar sobre a produção, sobre a geração de postos de trabalho, juntando dinheiro como faz qualquer trabalhador que quer comprar uma TV, não com a especulação, com a troca de papéis, para de uma vez por todas abolirmos o cassino que se transformou o sistema financeiro internacional." O primeiro-ministro português, José Sócrates Pinto de Sousa, diz concordar que, com a crise, ficou demonstrado que o Estado tem de estar mais presente na economia. "Não temos o direito moral de deixar o sistema financeiro atuando como atuava antes da crise", afirma.

"Estamos vivendo uma crise que se vive uma vez na vida - e ela não é justa. Todo mundo vai pagar um preço. Mas a crise mostra como estava errado quem seguia o pensamento único do mercado." Segundo Lula, o Brasil reunia condições para não ser tão afetado pela crise, mas foi afetado por uma suposta ganância excessiva. "Batalhamos honestamente por seis anos para tornar a economia brasileira respeitável, sólida. As empresas brasileiras ganharam, nos últimos anos, muito mais do que vinham ganhando", argumenta. "E por que estamos vendo sinais da crise? Porque algumas empresas resolveram investir em uma coisa chamada derivativo para ganhar um pouco mais. Neste país, ninguém tinha o direito de tentar, de forma quase ilícita, conseguir mais do que o mercado dava." Para o presidente, este é um momento de reflexão para os países. "As economias emergentes não podem seguir sendo vítimas de um receituário financeiro que nunca foi seguido pelos países ricos", acredita. "Por isso, é preciso investir no comércio, nos acordos da rodada de Doha, em desemperrar as negociações entre o Mercosul e a União Européia."

Além das discussões sobre a crise mundial, os chefes de governo assinaram memorandos de entendimento nas áreas de biocombustíveis, gás natural e energia elétrica. Um dos acordos firmados envolve a Petrobras Biocombustível, a empresa petrolífera portuguesa Galp e o Governo da Bahia e visa ao desenvolvimento de estudos para a implantação de um pólo produtor de biocombustíveis feitos de dendê e girassol em território baiano.

PESQUISA DA FECOMERCIO APONTA QUE 81% DOS PAULISTANOS ACREDITAM QUE A CRISE INTERNACIONAL AFETARÁ O BRASIL

Pesquisa realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) aponta que 81% dos entrevistados acreditam que a crise financeira mundial vai afetar o Brasil. Para mais de 38% dos entrevistados o receio é que a crise reflita o desemprego, enquanto 36%, a inflação, seguidos de 10% a perda do poder de compra, 8% o aumento do endividamento e 5% a falta de crédito.

A pesquisa mostra ainda que o medo de perder o emprego se reduz com o crescimento da renda do entrevistado enquanto o da inflação faz o caminho inverso. Para quem ganha até 3 salários mínimos, 48% temem o aumento do desemprego e 35% o aumento da inflação. Já para quem ganha acima de 10 salários mínimos, a relação se inverte: apenas 27% temem o desemprego e 44% o aumento inflacionário.

Na visão da Fecomercio, o consumidor teme que a crise atinja seu poder de compra, seu bolso, principalmente através dos efeitos que se podem antecipar sobre o emprego e os preços, mesmo sem entender ainda sob quais mecanismos isso pode ocorrer.

Quando indagados sobre qual âmbito os reflexos serão mais intensos, 67% dos entrevistados responderam que a crise externa afetará a economia brasileira e apenas 15% entendem que os reflexos serão mais graves sobre as condições financeiras de suas famílias. Essa preocupação com esses efeitos domésticos é maior nas famílias com renda de até 3 salários mínimos (18%) e menor entre a classe média (11%).

Os dados acima fazem parte de um levantamento feito pela Fecomercio no dia 14 de outubro, junto a 1.116 paulistanos, que teve como com o objetivo detectar a percepção que a população tem a respeito da crise financeira internacional e sua avaliação sobre o grau de risco que existe de eventual contágio da economia brasileira em médio prazo.

 

 

 

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mobilizar todos para resolver a crise o mais rápido possível, sem ajudar os especuladores

Perda de empresas com o câmbio pode chegar a US$ 20 bi, diz Mantega

Do mesmo jeito que o Brasil fez opção clara contra a inflação e a ditadura devemos ser claros quanto ao combate aos especuladores e agiotas de plantão. Os especuladores, por mais importantes que sejam suas empresas, devem pagar o preço do risco que correram e não terão o apoio dos cofres púiblicos se depender da UGT.

Lei mais: A Aracruz deve solucionar nos próximos dias o problema de crédito para equacionar o prejuízo bilionário por conta de operações com derivativos de câmbio. A informação foi dada hoje pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse que a economia brasileira estaria apta a absorver "com tranqüilidade" um rombo de até US$ 20 bilhões em perdas das empresas com este tipo de instrumento financeiro.

Ele fez questão de salientar, no entanto, que o governo não irá ajudar essas empresas a cobrir seus prejuízos.

"As empresas que ousaram terão que pagar por sua ousadia", disse o ministro.

Porém, Mantega lembrou que as companhias expostas aos chamados "derivativos exóticos" irão precisar de crédito para zerar os prejuízos e que o papel do governo é irrigar o mercado para que o funding possa ser oferecido.

Sem revelar projeções, Mantega disse acreditar que as perdas anunciadas por Votorantim (R$ 2 bilhões), Aracruz (R$ 1,9 bilhões) e Sadia (R$ 765 milhões) são as maiores do país e que, segundo ele, os "casos menores" estão sendo negociados "em condições normais".

Mantega informou ainda que o governo vem solicitando informações para a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM & F), Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip) e bancos de empresas na busca do valor total das perdas com derivativos, montante ainda desconhecido.

Mantega vê recessão mundial e pede que Brasil consuma

É uma brincadeira de mau gosto do ministro. Só pode ser. Claro que devemos manter a serenidade e consumir de acordo com nossas necessidades e condições de pagamento. Mas devemos ter o bom senso de adequar nosso desejo de consumo às condições externas, ou seja, se vamos ter condições de manter o emprego, se vamos poder honrar nossos compromissos. Por isso, deve ser apenas uma maneira de o ministro ganhar espaços na mídia, afirmar que é hora de consumir. É hora de ter bom senso e trabalharmos, todos, para ajudar o Brasil a superar a atual crise mundial.

Lei mais: O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta segunda-feira que a economia mundial caminha para a recessão, mas ressaltou que o governo brasileiro está tomando medidas para conter o impacto aqui e recomendou que a população continue consumindo para não prejudicar a atividade.

Ele acrescentou que as medidas que o Banco Central vem tomando nas últimas semanas estão servindo para recompor o crédito que tinha diminuído no país, mas lembrou que algumas delas não têm impacto imediato.

"É quase certo que haverá uma retração na atividade econômica (mundial) e até mesmo uma recessão", disse Mantega a jornalistas após reunião com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo.

"O impacto aqui no Brasil continua o mesmo. Temos uma escassez de crédito para operações de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio)... Estamos preocupados também com a irrigação de crédito no setor agrícola, que precisa de recursos nesta época do ano. Estamos ativando linhas para isso", acrescentou ele, referindo-se a medidas já anunciadas pelo governo.

Ele mostrou preocupação também com o capital de giro para pequenas e médias empresas e para a indústria automobilística. Depois da reunião com os ministros, Lula encontrou-se com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider. A Presidência não divulgou informações sobre a reunião.

"Há uma redução momentânea do crédito que está sendo sanada pelo governo. Nós sabemos que houve uma redução drástica... mas já há uma recomposição desse crédito", afirmou Mantega.

"O crédito vinha crescendo num volume muito grande, tinha alguma gordura. Então, de fato, houve uma redução, principalmente setorial. Com a liberação do compulsório pelo BC, nós estamos recompondo esse crédito."

Mantega afirmou que as medidas sobre o compulsório já liberaram R$ 50 bilhões na economia.

"Algumas medidas demoram um pouco porque é a primeira vez que nós a estamos tomando..., medidas que havia muito tempo não se fazia, e tivemos que aperfeiçoar os instrumentos."

Contágio psicológico — Mantega acrescentou que parte do impacto da crise financeira mundial no Brasil é psicológico e que as pessoas não podem ter medo.

"O contágio é um pouco psicológico, diante do quadro internacional muito forte nos Estados Unidos", disse.

Dando um exemplo pessoal, Mantega afirmou que está comprando um imóvel que será pago entre 8 e 10 parcelas. Mas a operação será feita diretamente com o proprietário e não por intermédio de um banco.

"Eu estou comprando um imóvel e nós devemos procurar ter uma vida normal. Se todo mundo ficar preocupado e ficar com medo, aí é que vai criar um problema econômico, porque as pessoas vão deixar de consumir e vão reduzir o nível de atividade", afirmou.

Mantega ressaltou que o governo "não vai salvar nenhuma empresa" de perdas com operações no mercado financeiro, mas ponderou que irá garantir crédito para as companhias.

"As empresas que ousaram no mercado futuro têm que pagar o preço de sua ousadia e não será o governo que vai cobrir isso. Agora, o governo tem obrigação de dar crédito e liquidez a valores de mercado", disse o ministro.

Na sexta-feira, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse que o banco de fomento iria ajudar empresas que tiveram problemas com derivativos cambiais.

Pequena empresa já enfrenta efeitos da crise

Essa é a grande preocupação da UGT. Como já alertamos, as empresas mais vulneráveis são as pequenas e médias. Que são as que mais geram empregos e retornos para o País. Vamos insistir junto ao presidente Lula para criar apoios de crédito para as pequenas e médias empresas, aliás função que o BNDES deveria cumprir com prioridade. Investir no pequeno e médio empresário é apostar no social e no retorno imediato para o Brasil.

Leia mais: Empresários estão com dificuldade para conseguir financiamentos nos bancos

Dona de uma indústria de produtos de higiene hospitalar e cosméticos, a empresária Fabiana Hübner estava animada com as perspectivas do negócio para 2009. A conquista de mercados e a expansão das vendas fizeram a pequena fábrica em São Paulo atingir o limite da capacidade produtiva. "Nossa produção cresceu sete vezes de 2002 até hoje", diz a empreendedora, que previa crescer mais de 50% no próximo ano.

Há dois meses, ela resolveu pedir empréstimo a um banco privado para financiar a expansão da fábrica e a compra de equipamentos. Os juros e o prazo do financiamento se ajustavam ao orçamento da companhia. "A chance de aprovação era grande", conta. Mas, desde o início de outubro, com o agravamento do crise financeira mundial, as negociações com a instituição travaram. "As linhas de crédito disponíveis foram todas suspensas."

O problema enfrentado por Fabiana mostra que a crise já bate à porta das pequenas empresas brasileiras. Para alguns especialistas, em momentos de crise econômica, elas sofrem até mais que as grandes corporações. "A pequena não tem o fôlego que uma grande empresa. Ela não possui reserva para parar e esperar o que vai acontecer", diz o professor de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Tales Andreassi.

A suscetibilidade dos pequenos negócios também se revela maior em um dos efeitos da crise: restrição ao crédito. "Os bancos estão apertando as empresas, em busca de garantias reais, como imóveis, para seus empréstimos", diz Laecio Barreiros, diretor da L & Barreiros Controladoria, especializada em gestão financeira e controladoria. As pequenas e médias empresas, muitas vezes, não têm os ativos exigidos. "Esse empresário vai crescendo com o próprio movimento do negócio. Poucos formam um patrimônio no curto prazo."

A informalidade dessas empresas também prejudica a busca de crédito. Isso porque a preocupação dos bancos com a saúde financeira das empresas aumentou. E as pequenas não mantêm o mesmo rigor que as grandes com os balanços e a documentação das finanças. "O que o mercado não quer hoje é garantia podre", diz Barreiros.

Já os microempresários sofrem de forma diferente os efeitos da crise. Segundo dados do Sebrae-SP, apenas 36% tomam empréstimos no sistema bancário. "Esses, se já tinham dificuldades antes, agora terão ainda mais", diz o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella.

Os que estão de fora do mercado tradicional usam recursos próprios ou da família, o que continuarão fazendo, afirma Tortorella. Por isso, o impacto imediato nesses empreendimentos virá da retração no consumo. "Em momentos de instabilidade, as pessoas compram menos", diz Andreassi, da FGV.

A desaceleração do consumo, segundo o professor, também acertará em cheio os pequenos negócios. A redução da atividade de indústrias que mantêm uma cadeia de produção longa, como a automobilística, também deve puxar para baixo o desempenho das pequenas, médias e microempresas. "A hora é de manter o rigor nos gastos e o conservadorismo no planejamento", aconselha.

Lula pede, mas banco não eleva crédito

Hoje torna-se pública uma notícia que sempre soubemos. Até mesmo o presidente Lula não é o último a saber. Os bancos privados brasileiros fazem o que está no seu DNA, ganhar dinheiro em cima de dinheiro. O que o governo tem que fazer, imediatamente, é buscar alternativas para fazer chegar o dinheiro público aos pequenos e médios empresários, ao comércio, aos consumidores em busca de crédito com juros decentes. É assim que entendemos a expressão “irrigar a economia com crédito” e não a facilitação da vida dos grandes bancos que só pensam nos interesses deles.

Leia mais: Presidente liga a banqueiros e ouve que momento é de erguer "muro de liquidez" contra crise financeira global. Bancos aumentam sua capitalização também de olho em possíveis aquisições e investem em papéis do governo atraídos por juro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com grandes banqueiros na semana passada para pressioná-los a abrir as torneiras do crédito. Ouviu respostas desanimadoras.

Segundo a Folha apurou, os grandes bancos disseram que a prioridade, no momento, é construir um "muro de liquidez" -ação preventiva e de sobrevivência no médio e longo prazo em relação à crise econômica mundial, que estrangula o crédito e as empresas.

Lula ficou contrariado, segundo relato de integrantes da equipe econômica. Os grandes bancos aumentaram muito o grau de seletividade para concessão de crédito. A maior parte do dinheiro que entra via redução do compulsório após medidas do Banco Central não retorna ao mercado sob a forma de empréstimo.

Receosos em emprestar e preocupados em manter sua solidez num momento de grandes incertezas, os grandes bancos seguram em caixa os recursos e aplicam nos títulos do próprio governo, atraídos por uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano.

A Folha apurou ainda que os maiores bancos privados do Brasil têm também procurado se capitalizar para, caso apareça uma oportunidade de compra estratégica de carteiras ou de instituição, terem recursos em caixa para a operação.

Ou seja, a liberação condicionada de estimados R$ 50 bilhões do compulsório (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC), deixando mais recursos livres para empréstimos, tem tido pouco efeito prático.

Os bancos acreditam que neste momento de incerteza o mais importante é manter o caixa reforçado e não comprar carteiras de crédito de instituições menores, que têm pouca liquidez.

Na semana passada, Lula enviou alguns emissários para conversas com empresários e banqueiros. O presidente tem ouvido opiniões de fora da equipe econômica tradicional -Fazenda, Planejamento e BC. Esses emissários detectaram um pessimismo maior do que Lula imaginava. Os contatos diretos do presidente com banqueiros receosos reforçaram a percepção do presidente de que o efeito sobre o Brasil será maior do que a "marola" prevista por ele anteriormente.

Mais informações na Folha

Governo quer liberar R$ 11,5 bi para compra de casa própria

Eis aí uma medida acertada do governo federal. Investir na casa própria é apoiar os sonhos dos brasileiros por uma casa própria e ao mesmo tempo ajuda a reaquecer a economia, investindo na construção civil.

Leia mais: O governo federal quer liberar R$ 11,49 bilhões para a compra da casa própria com os recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) em 2009. Neste ano, foram liberados R$ 8,49 bilhões. Se a proposta for aceita, haverá R$ 3 bilhões a mais em relação a que foi oferecido neste ano.

A proposta, divulgada pelo ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, deverá ser apresentada na próxima reunião do conselho curador do FGTS, na quinta. "Esse dinheiro é fruto da arrecadação do FGTS neste ano, e significa que a desaceleração da economia não deverá acontecer."

O conselho irá decidir se aprova ou não a proposta. Segundo Celso Petrucci, membro do conselho, a proposta poderá ser aprovada. "O ministro quer sinalizar que não irão faltar recursos para a construção em 2009. É um dinheiro de custo barato para o consumidor."

A proposta é aumentar os recursos na linha de crédito de habitação popular, que tem juros de 6% a 8,16% ao ano. A linha é oferecida a quem tem renda familiar de até R$ 4.900 e quer um imóvel de até RS 130 mil, dependendo do tamanho da cidade onde o imóvel será comprado. Quem é cotista do FGTS há pelo menos três anos tem 0,5 ponto percentual de desconto nos juros. Essa linha, hoje, tem R$ 4 bilhões para a compra da casa própria.

Segundo Petrucci, não há risco de faltar recursos para a habitação popular neste ano. Com a proposta, a linha deverá ter R$ 7 bilhões em 2009. Se a proposta for aprovada na quinta, irá entrar no Orçamento do ano que vem.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fim das eleições municipais: é hora de mobilizar prefeitos e vereadores para equacionar a crise muncdial nas cidades

Mobilizar prefeitos e câmaras municipais para buscar proteção para o cidadão e para os trabalhadores diante da crise mundial

A crise mundial que está chegando em ondas cada vez mais altas (não é marolinha não) vai atingir o cidadão e o trabalhador na cidade e no bairro onde mora. Por isso, a importância de estimular os prefeitos eleitos a criar um grupo estratégico para enfrentar a crise, minorar os efeitos sobre a vida dos trabalhadores e cidadãos, através de atitudes pró-ativas. É hora de fechar a mão e priorizar os investimentos. Escolher sempre o social e buscar estímulos tributários que facilitem a abertura de empresas familiares, para acelerar a geração de empregos e renda para as famílias que têm no município seu ambiente natural de sobrevivência. É a partir do município que vamos pressionar o governo federal para agir com critérios rígidos com o dinheiro público que não deve ser usado para salvar especuladores que se deram mal. Ao mesmo tempo, temos que manter o bom senso para proteger empresas e empregos ameaçados pela crise, especialmente empresas exportadoras. Temos que ficar de olho nas açoes do BNDES e blindar o banco social contra a ação dos lobbystas de plantão ávidos por dinheiro público (parte dele vindo do FGTS e do FAT) para continuar a ganhar com a crise.

Leia mais nos três textos a seguir:

1. Desafios de prefeitos são preocupantes diante da crise mundial

Os desafios a serem encarados pelos prefeitos vencedores nas eleições municipais deste ano são “bastante preocupantes” diante da possibilidade de reflexos da crise financeira mundial na economia brasileira – sobretudo na arrecadação de tributos e no repasse de recursos aos municípios. A avaliação é do presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski.

 “Estamos no limiar de uma crise mundial e não sabemos qual impacto vamos ter na economia brasileira. Algumas questões já nos apontam uma situação muito difícil para os novos gestores”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.

Ziulkoski lembrou que o maior tributo do país, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) chegou, no ano passado, a R$ 200 bilhões e que 25% ou R$ 50 bilhões retornaram aos municípios. Também o Fundo de Participação dos Municípios transferiu, segundo ele, 23,5% do total arrecadado em 2007 pela União aos municípios – R$ 40 bilhões. “Essas duas fontes de financiamento das políticas públicas atingem praticamente a metade de toda a arrecadação dos municípios”, disse.

Em seguida, segundo Ziulkoski, está o Imposto Sobre Serviços (ISS) que, no ano passado, somou R$ 19,5 bilhões. Havendo um desaquecimento da economia brasileira, os quatro tributos, de acordo com o presidente da CNM, provocariam um impacto imediato nos municípios. “Isso é muito grave. Não digo para agora, mas, ao final do ano, o novo gestor vai ter que readequar praticamente todo o orçamento”, destacou.

Outro desafio, na opinião de Ziulkoski, é que os municípios brasileiros têm cerca de 4,7 milhões de servidores em atividade, além de 400 mil já amparados pela Previdência Social própria de cada localidade. São 5,2 milhões de pessoas prestando serviços, direta ou indiretamente, para as prefeituras, o que corresponde, segundo ele, a R$ 190 bilhões do total de tributos arrecadados.

De acordo com o presidente da confederação, 44,5% das despesas dos municípios são de pagamento de pessoal. Ele lembra que, diante de possíveis reflexos da crise mundial, o setor privado, a indústria e o comércio vão demitir funcionários e “cortar onde podem”, enquanto o setor público não conta com essa “margem de manobra”. “Noventa por cento dos funcionários públicos são concursados, são efetivo permanente e esse é o problema da equação.”

Além de não ter a geração de tributos, aqueles desempregados vão para onde?, questionou Ziulkoski. "Não é para o estado e nem para a União, que estão muito longe. Vão se socorrer na prefeitura. A União continua jogando para cima dos municípios a responsabilidade, sem que haja recursos para financiar essas políticas públicas. Além da irresponsabilidade de muitos candidatos que foram para as televisões prometer creche para todo mundo quando se sabe que há como sustentar isso. Custa R$ 300 por mês uma criança em creche. Tem outros falando em segurança. Desde quando um candidato a prefeito pode dizer isso? No mínimo, isso não tem muita conseqüência, expressa competência do governador”.

2. BNDES estuda socorro a empresas que perderam com dólar em alta

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou nesta sexta-feira que a instituição pode ajudar as empresas exportadoras do país que tiveram problemas com derivativos cambiais (operações especulativas no câmbio), por causa do dólar em alta.

Segundo Coutinho, já há conversas entre o banco e algumas empresas afetadas pela forte valorização do dólar, mas o executivo não deu detalhes sobre como poderia funcionar essa ajuda.

"São empresas exportadoras que são robustas e de qualidade, que têm meios de solução com o sistema bancário privado e terão, se necessário, o suporte do BNDES para que nenhum problema de liquidez inviabilize empresas de grande qualidade e potencial", disse Coutinho a jornalistas.

Antes da eclosão da crise financeira, o dólar vinha caindo. Empresas como Sadia e Aracruz venderam contratos futuros de câmbio, apostando que a moeda americana fosse ficar com valor ainda mais baixo.

O intuito dessas empresas era, no vencimento desses contratos, que geralmente tinham prazo de um ano, comprar dólares a preços bem acessíveis para revendê-los a preços bem mais elevados para os compradores de seus contratos. Isso seria uma forma de a empresa lucrar com outros negócios além do seu principal.

Mas a disparada surpreendente da moeda, em razão da crise financeira global, causou prejuízos. A alta do dólar ocorreu porque, com a crise nos EUA, muitos investidores retiraram o dinheiro que possuíam em países como o Brasil para cobrir prejuízos no exterior.

Perdas milionárias — As empresas Sadia e Aracruz foram as primeiras a anunciar prejuízos com operações no mercado de câmbio. A perda da Sadia, que chega a R$ 760 milhões, provocou a demissão do diretor de Finanças e Desenvolvimento Corporativo da companhia, Adriano Lima Ferreira.

No caso da Aracruz, se os contratos fossem encerrados efetivamente no fim de seu prazo, a perda seria de R$ 1,95 bilhão.

O grupo Votorantim anunciou que precisou gastar R$ 2,2 bilhões para eliminar "totalmente" sua exposição a derivativos cambiais.

Empresas de alimentos brasileiras com forte atuação em exportações normalmente atuam com derivativos de câmbio buscando compensar (hedge/segurança) eventuais perdas em receita nas exportações geradas pela valorização do real frente ao dólar.

Mas no caso da Sadia, como reconheceu a empresa, as operações extrapolaram o hedge que seria adequado.

3. Presidente admite efeito de recessão no País

O presidente Lula admitiu que se houver recessão mundial, o Brasil certamente será afetado. Mas sofrerá menos que outros países porque se preveniu. "Se houver recessão, obviamente que haverá problemas nas exportações de todos os países. Quando dizemos que o Brasil vai sofrer menos é porque o Brasil diversificou as relações comerciais com muitos outros países."

Ele citou exemplos de precauções tomadas pelo País. "Se tivéssemos 50% da relação comercial com os Estados Unidos, certamente iríamos sofrer mais. Acontece que temos só 15%. Em compensação, com a África, que antes tínhamos só US$ 4 bilhões, hoje temos U$$ 20 bilhões. Com a Argentina, que a gente tinha U$$ 9 bilhões, hoje temos U$$ 35 bilhões.

Ele disse também que não lamenta o fato de o preço do petróleo ter caído para U$$ 62. "O que era anormal era o preço do petróleo a U$ 150. Isso era anormal."

Não vamos estatizar bancos nem dar dinheiro sem garantia, diz Lula

Presidente diz que País pode seguir modelo usado na Inglaterra de comprar ações de bancos e depois revendê-las

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que ninguém precisa temer uma onda de estatização de bancos no Brasil, apesar de a Medida Provisória 443, assinada por ele na semana passada, autorizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprar ativos de bancos que estiverem em dificuldades. Para Lula, a exemplo do que está ocorrendo na Inglaterra, União Européia e Estados Unidos, não será dado dinheiro público para os bancos. Ativos poderão ser comprados e, quando a instituição voltar a uma situação segura, serão revendidos para ela própria.

"Ninguém pretende estatizar banco. Agora, ninguém vai dar dinheiro para banco. Portanto, ou nós emprestamos com garantia, e uma das garantias pode ser o que está sendo feito pela Inglaterra, pode ser aquilo que o presidente Nicolas Sarkozy (da França) propôs: em vez de dar dinheiro para banco, sem garantia, você compra ações daquele banco e quando se recuperar, você revende as ações para banco", disse Lula, ontem, após votar, no Colégio Estadual João Fermino, em São Bernardo do Campo.

Lula anunciou também que fará hoje, em São Paulo, reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, para definir quais são os setores econômicos que estão necessitando de crédito. "Temos recursos para isso e vamos disponibilizá-los", afirmou o presidente. "O que nós precisamos é saber o conjunto dos setores econômicos que estão necessitando de crédito neste momento".

A fórmula para irrigar o crédito, segundo Lula, é a redução no compulsório para que bancos usem o dinheiro para emprestar à construção civil e às pequenas indústrias. Nos dois setores, disse Lula, é preciso haver atenção especial do governo. "Temos de cuidar do capital de giro para que essas empresas possam funcionar."

Lula falou por várias vezes sobre a crise global e fez críticas a bancos e a quem especulou no mercado financeiro. Por isso, segundo ele, não é possível dar o dinheiro para quem entrou na ciranda financeira. "O que não dá é para a gente dar dinheiro para bancos ou outras empresas que apostaram em ganhar dinheiro fácil, ou seja, transformar a economia real em jogatina. Quiseram ganhar dinheiro sem produzir nada."

Para Lula, o governo tem de ter responsabilidade com o dinheiro público. "Não vamos dar o dinheiro do Estado, que ganhamos com tanta delicadeza, com tanto carinho, para ajudar quem tentou praticar fraude no sistema financeiro." Mas, apesar das críticas, Lula procurou não condenar o sistema financeiro. "Sabemos da importância do setor financeiro. Então, se for preciso irrigar o crédito, pode ter certeza que vamos irrigar, porque queremos que a economia brasileira continue crescendo, para que o povo brasileiro tenha possibilidade de emprego e de consumir."

O presidente disse que o Brasil ainda tem muito a produzir, independentemente da crise. "A verdade é que ainda temos capacidade produtiva a explorar. O Brasil não está metido no subprime, portanto não havia razão para problemas internos de crédito. O que não sabíamos é que as empresas estavam investindo em derivativos, em coisas muitas vezes feitas no balcão, que não passavam sequer pelo BC."

Comércio e serviços devem assumir a liderança da geração de emprego e renda nos próximos seis anos.

A indústria cede lugar aos poucos para as atividades de comercio e serviços como potenciais geradoras de renda e emprego. Nos próximos anos os dois setores vão ampliar ainda mais seu peso relativo no PIB nacional. Mas é preciso, alem da mobilização sindical, investimentos diretos dos governos, em todos os níveis, para acelerar a educação, o treinamento e a requalificação dos trabalhadores  e trabalhadoras ocupadas em comércio e serviços. Alem disso, precisamos conscientizar os patrões do setor que a aposta no atraso pode significar a perda de posições para a concorrência internacional que vai chegar cada vez mais forte.

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Estudo ‘A Competitividade nos Setores de Comércio, de Serviços e do Turismo no Brasil: Perspectivas até 2015’ aponta soluções para setor de Comércio e Serviços

O ano é 2015. O grau de informalidade das empresas cai de 39,8% para 22,6%. A malha rodoviária do País tem melhoria de 78,7% e a taxa de pirataria é reduzida para 35%. O número de patentes brasileiras nos Estados Unidos chega a 600 por ano e apenas 7% dos estudantes abandonam o ensino médio. O cenário poderia ser utópico, mas é factível e foi minuciosamente traçado por um amplo e inédito estudo: ‘A Competitividade nos Setores de Comércio, de Serviços e do Turismo no Brasil: Perspectivas até 2015’.

Resultado de uma parceria entre a Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e o Sebrae Nacional, o estudo faz um amplo diagnóstico das conjunturas econômicas e estruturais, formula políticas e traça soluções para os principais obstáculos ao crescimento do setor. Também apresenta metas e indicadores para monitoramento. “A iniciativa partiu da constatação de que, apesar da crescente importância do setor terciário na economia, os segmentos careciam de estudos mais aprofundados, que permitissem consolidar o setor como grande protagonista do desenvolvimento produtivo brasileiro”, informa o presidente da CNC, Antônio Oliveira Santos.

Os números da economia mundial comprovam a prerrogativa. Agrupadas nas chamadas atividades terciárias, os setores de comércio e serviços representam 50% dos custos de produção e cerca de 50% da geração de empregos no mundo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Entretanto, aspectos regionais provocam disparidades na produção e no consumo dos serviços. Em países desenvolvidos, a porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) gerado pelo setor terciário tende a ser maior e a empregar maior parcela da população.

Relatório do Banco Mundial e do MDIC aponta o Brasil em 15º lugar no ranking de países com maior participação do setor de serviços no PIB. Os Estados Unidos lideram a lista, com 76,5% do Produto Interno Bruto gerados pelo segmento. “Visto que o setor terciário é caracterizado por um elevado grau de heterogeneidade, composto por uma imensa gama de atividades muito diferentes, é natural que algumas atividades se defrontem com problemas”, pondera o vice-presidente da CNC e presidente do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae, Adelmir Santana.

Para elaborar o estudo, a CNC e o Sebrae contrataram a Tendências Consultoria. Durante mais de um ano, a empresa envolveu cerca de 300 especialistas de todas as regiões do País na pesquisa. Foram cinco encontros regionais para analisar os diagnósticos e apontar os principais entraves ao desenvolvimento do Comércio, dos Serviços e do Turismo no País. “O setor tem essa característica de intangibilidade. Mas para dimensionar o impacto disso na economia, basta imaginar um dia sem serviço, transporte, seguro, saúde, telecomunicações”, compara o coordenador Nacional da Parceria CNC/Sebrae, Carlos Baião.

A dificuldade de mensurar os aspectos que norteiam os segmentos foi também compartilhada pelos pesquisadores da Tendências. “O principal problema foi de encontrar dados públicos oficiais. Percebemos uma carência grande de informações sobre comércio, serviços e turismo no Brasil”, revelou o economista e sócio da empresa, Frederico Estrella. “Uma das propostas do estudo é levantar dados para servir de instrumentos efetivos que apontem os rumos do crescimento destas áreas”, arremata.

CNC e Sebrae pretendem monitorar o cumprimento das metas por meio da elaboração de projetos de lei, promoção de debates, encontros e fóruns. “Queremos transformar o setor no verdadeiro protagonista do desenvolvimento nacional”, salienta o senador Adelmir Santana.

Pequenos e fortes — A participação do Sebrae na elaboração e monitoramento do estudo se tornou imprescindível, tendo em vista o crescimento freqüente das micro e pequenas empresas no País. Atualmente, elas representam 98% dos estabelecimentos formais brasileiros. “O Sebrae vai acompanhar tudo o que diz respeito aos pequenos empresários, principalmente em relação à capacitação”, ressaltou o coordenador da carteira de Projetos de Comércio e Serviços do Sebrae Nacional, Ricardo Villela.

A elaboração do documento faz parte de uma série de projetos desenvolvidos pelo Sebrae em parceria com a CNC. Há 18 meses, as entidades desenvolvem dois projetos que visam despertar os empresários para a importância da Tecnologia da Informação nas micro e pequenas empresas: Automação Comercial e Conectar.

Estudo e crise internacional — Em função de sua transversalidade e de seu peso na economia, Comércio e Serviços são fatores que, devidamente orientados, deverão desempenhar papel de relevância para minimizar os efeitos que a atual crise internacional possa vir a produzir na economia nacional, notadamente nas micro e pequenas empresas.

As propostas apresentadas pela CNC e pelo Sebrae, com base no estudo contratado à consultoria Tendências, constituem uma agenda consistente e pragmática voltada para o desenvolvimento e a modernização desses setores.

Impactos sobre o desenvolvimento

Os avanços apresentados pelo Brasil na última década, tanto em termos macroeconômicos quanto microeconômicos, têm contribuído de forma efetiva para um melhor desempenho da economia nacional. A partir de políticas econômicas responsáveis e de um gradual e contínuo processo de fortalecimento do seu ambiente institucional, o País consolidou a estabilização da economia, reduziu de forma expressiva o risco inflacionário e sua vulnerabilidade externa e alcançou importantes avanços estruturais e setoriais.

Contudo, a promoção do crescimento do País ainda depende da remoção de uma série de problemas e entraves de caráter institucional ou microeconômico, e que, em muitos casos, afetam de forma mais intensa o desenvolvimento dos setores de comércio e serviços, dadas as especificidades desses segmentos. É o caso, por exemplo, da legislação trabalhista, a qual impõe um sério ônus ao setor terciário por não contemplar suas necessidades de maior flexibilidade nas relações de trabalho.

Com uma economia mais produtiva e competitiva, o resultado esperado é de um crescimento maior do PIB, com destaque para os setores de comércio e serviços, visto que as reformas propostas, ainda que tenham impactos positivos sobre toda a economia, deverão atingir de forma mais direta aqueles setores.

Os ganhos de produtividade e o maior dinamismo do setor de comércio e serviços deverão levar a menores taxas de inflação neste setor, colaborando, conseqüentemente, para reduzir a taxa de inflação geral da economia.

A implementação da agenda de ações proposta permitirá, portanto, um maior crescimento do setor de comércio e serviços nos próximos anos, com a incorporação de novas tecnologias e modernização das atividades, e aumento de sua contribuição para o desenvolvimento do País.

Leiam e reflitam em torno do artigo de Marcos Cintra, que transcrevo a seguir:

Horror sem fim

O governo precisa adotar medidas vigorosas para isolar o país do contágio da crise financeira externa

NOURIEL Roubini, economista da Universidade de Nova York, afirmou na quinta-feira que a crise está longe do fim, e que o pânico justificaria o fechamento dos mercados mundiais por uma ou duas semanas para evitar o pior.

As autoridades brasileiras afirmam que os fundamentos da economia são positivos. E são. É uma economia ainda fechada, com fluxo comercial de apenas 25% do PIB, com elevadas reservas, e com um mercado interno pujante, turbinado pela inédita redistribuição de renda nos últimos anos. Ademais, os recursos externos para investimentos diretos continuam fluindo, o sistema financeiro é pouco alavancado e as empresas continuam investindo. Contudo há canais de contaminação que já funcionam a pleno vapor, como a fuga de capital financeiro, potencializado pela aversão dos investidores externos ao risco, e sem correlação com a performance das empresas brasileiras. Em setembro, saiu das Bolsas US$ 1,9 bilhão; neste mês, quase US$ 4,5 bilhões até o momento. No ano, o saldo negativo do pregão é de R$ 21,7 bilhões. Aplicações em renda fixa ganharam US$ 630 milhões no mês passado, mas neste já perderam US$ 842 milhões.

Em realidade, por obra de algumas barbeiragens dos norte-americanos, o mundo acha-se mergulhado no pânico. Não há mais racionalidade. Os mercados são regidos por notícias pontuais, causando oscilações gigantescas. Tais movimentos afetam as Bolsas brasileiras, na medida em que os investidores externos retiram seus capitais do país, pressionando o câmbio e criando um clima de contágio iminente.

Já estamos caindo no abismo? Creio que não. A crise financeira mundial desrespeita os fundamentos da economia brasileira. Portanto cabe ao governo adotar medidas que insulem o país do contágio. Nada justifica o que está ocorrendo com o preço dos ativos brasileiros. O governo deve adotar medidas emergenciais vigorosas em defesa da economia. Na medicina, a assepsia é essencial, mas numa emergência justifica-se uma traqueotomia salvadora executada com um canivete sujo.

Há que se adotar medidas emergenciais para, mesmo que parcialmente, isolar a crise e preservar o crescimento interno.

Em primeiro lugar, a política de juros deve ser vista como um instrumento defensivo contra perdas de capital externo, como fez a Dinamarca, que acaba de elevar seus juros básicos. Assim, seria importante manter um diferencial positivo expressivo. Portanto, cuidado com as pressões para sua rápida redução.

Já que controlar os fluxos de capital poderia nos prejudicar no futuro (com impactos semelhantes ao de uma moratória), caberia ao governo oferecer polpudas vantagens (fiscais, burocráticas, creditícias etc.) à permanência de capitais externos na economia brasileira. Paralelamente, oferecer incentivos fiscais aos investidores domésticos para ocuparem os espaços deixados pelos estrangeiros, incentivando-os a adquirirem ações e outros ativos que, em sua maioria, são sólidos e estão baratos.

Finalmente, já que os bancos privados resistem a ampliar suas linhas de crédito, mesmo com liquidez assegurada pelo governo, caberia uma política agressiva de ampliação do papel dos bancos públicos. Depósitos compulsórios liberados, porém não distribuídos pelos bancos privados, seriam transferidos com vantagens para os bancos oficiais aplicarem.

São medidas emergenciais, que se justificam em um ambiente de pânico e de irracionalidade. (MARCOS CINTRA)