terça-feira, 1 de julho de 2008

Wal-Mart usa negros e mulheres para simular ações a favor de projetos sociais
No dia 24 de junho, foi lançada uma carta compromisso patrocinada pelo Instituto Ethos, envolvendo a iniciativa privada e o governo para reduzir as desigualdades sociais no ambiente de trabalho.
A intenção de se reduzir as desigualdades sociais no ambiente de trabalho é boa. Tanto é que a União Geral dos Trabalhadores (UGT) encampou a iniciativa do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que a partir de 2004 colocou na Convenção Coletiva a obrigatoriedade de as empresas do setor de comércio contratar, pelo menos, 20% de negros. Só esse fato era razão suficiente para os representantes de trabalhadores serem convidados para o evento do Instituto Ethos. Não foram.
Quando soubemos da lista das empresas presentes, ficamos decepcionados. Pois vimos no evento apenas uma grande jogada de marketing social. Por que? Entre as empresas que assinaram o documento estavam o BNDES, Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Bovespa, Banco Real, Itaú, Alcoa, Telefônica, HSBC, Magazine Luiz, HP do Brasil, Du Pont e, pasmem, a Wal-Mart.
Os negros, segundo dados divulgados pelo Ibope Inteligência, que pesquisa as 500 maiores empresas brasileiras, estão presentes em apenas 3,5% dos cargos executivos, quando são metade da população brasileira. As mulheres executivas ocupam 11,5% das vagas quando são 43,5% da população economicamente ativa do País. Há, portanto, um cheiro de farisaísmo no ar.
A ponto de o presidente Lula, envolvido no evento, ter declarado: "A baixa ascensão social da comunidade de negros mostra que há 30 anos não plantamos as sementes que precisavam ser plantadas".
O presidente Lula está certo. Só que ao prestigiar o evento promovido pelo Instituto Ethos, com a presença da Wal-Mart, corre o risco de ter plantado uma boa semente em terreno árido.
O que nos assusta é o fato de ter sido uma reunião unilateral, para se tratar de assunto de tal importância. E no ambiente que criaram, cheio de pompas e circunstâncias, terem incluído uma empresa que é mundialmente anti-sindical, como é o caso da Wal-Mart.
É a mesma Wal-Mart que tem um manual para inibir seus funcionários de se sindicalizarem. Trata-se de "A Manager's Toolbox to Remaining Union Free", algo que poderia ser traduzido como "Procedimentos Gerenciais para Manter os Sindicatos à Distância".
O manual ensina os gerentes a identificar os sinais de eventual início de organização dos trabalhadores dentro das lojas. Entre as indicações estão: "reuniões freqüentes nas casas dos empregados" ou ficar alerta para "trabalhadores que nunca são vistos juntos e que de repente começam a bater papo e a trocar idéias". O manual traz, ainda, uma linha exclusiva para que os gerentes acionem os especialistas para interromper, na fonte, qualquer iniciativa de associação no ambiente de trabalho.
Pois bem, como levar a sério um tal evento, quando surpreendemos o Instituto Ethos patrocinando uma reunião unilateral de empresas e incluindo a Wal-Mart notoriamente anti-sindical?
Nos colocamos à disposição, como presidente da UGT e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, das empresas que queiram discutir seriamente os procedimentos para se reduzir as desigualdades sociais no ambiente de trabalho.
Esperamos, por isso, ser convidados para a próxima reunião que com certeza o Instituto Ethos patrocinará. Para presentear, inclusive a Wal-Mart, com um exemplar da Constituição Brasileira e com uma cópia de nossa Convenção Coletiva, que a empresa não respeita.

Ricardo Patah, presidente da UGT e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo