quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Crise mundial ameaça ganhos da economia brasileira

BNDES terá reforço de R$ 7 bilhões do FGTS, mas UGT vai condicionar uso do dinheiro do fundo à aprovação de modificações da Lei 8.036

Os trabalhadores, através do FGTS, são chamados de novo a financiar crises que, com toda certeza, não foram criadas por eles. Mas sempre apostando no bom senso e, principalmente, no patriotismo, acreditamos que é a hora de condicionar o aporte do FGTS à aprovação das modificações sugeridas pela UGT à Lei 8036, que tem como objetivo melhorar a remuneração do fundo. Para que no futuro, o FGTS não se apresente tão descapitalizado como tem sido atualmente. E mesmo assim, dada a dimensão dos valores em caixa, vira sempre interesse do governo federal nos momentos de crise.
Veja o texto e fique alerta:

Governo quer assegurar que não faltará dinheiro para exportação, agricultura, BNDES e PAC.
Preocupado com o "sumiço" das linhas de crédito no mundo inteiro, em decorrência da crise, o governo decidiu reforçar ainda mais a posição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco deverá receber R$ 7 bilhões que hoje estão no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). Esse fundo usa parte dos recursos do FGTS para financiar a infra-estrutura.
O aporte de R$ 7 bilhões será adicional aos R$ 15 bilhões que o Tesouro já vem entregando ao banco em parcelas, com base em medida provisória editada no fim de agosto. O reforço do BNDES faz parte da estratégia definida pelo governo quando a crise começou a se agravar.
A idéia é concentrar esforços para assegurar que não falte dinheiro para quatro áreas: exportação, agricultura, BNDES e Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com o BNDES forte, o governo espera preservar os investimentos privados na economia e manter o ciclo de crescimento.
Ontem, o vice-presidente, José Alencar, saiu em defesa do BNDES. "É um banco raro. São poucos os (bancos) que têm seus recursos e (estão) emprestando a 6,25% ao ano." O porcentual corresponde à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
Esses aportes ao BNDES já estavam decididos antes de o Congresso americano rejeitar o pacote de ajuda aos bancos e lançar os mercados financeiros em um clima de pânico. Com a piora do quadro, o governo já estuda medidas adicionais, informou ontem o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Elas, porém, só serão anunciadas quando o quadro estiver mais claro.
DIVERGÊNCIAS — De acordo com técnicos, o valor da transferência do FI-FGTS para o BNDES ainda poderá ser modificado. Parte do governo resiste à decisão, mas ela já está tomada nos escalões mais altos. Diante das resistências de alguns ministros, chegou-se a examinar uma alternativa: em vez de transferir os R$ 7 bilhões para o BNDES, o FI-FGTS passaria a financiar projetos de infra-estrutura selecionados pelo banco. Dentro do objetivo de garantir crédito para investimentos, o efeito seria o mesmo. No entanto, o BNDES insistiu em receber o dinheiro.
Segundo o secretário-executivo do Conselho Curador do FGTS, Paulo Furtado, o FI-FGTS aprovou só um projeto até agora, de R$ 500 milhões à concessionária de ferrovias ALL para a ampliação da malha. Há mais 12 projetos pré-aprovados nas áreas de energia e portos. Furtado disse desconhecer as negociações para transferência dos R$ 7 bilhões ao BNDES, mas afirmou que o banco é um "parceiro".

Para Meirelles, a crise é grave e exige serenidade
O presidente do Banco Central, como não poderia deixar de fazer, mantém os pés no chão e concorda com a UGT quando alertamos que a crise que já está aí será brava, difícil de torear. Não apenas para os americanos, mas para o mundo inteiro, inclusive o Brasil. É um tsunami de proporções mundiais e gigantescas. É hora de cabeça fria, de muito patriotismo e, principalmente, de pensar na preservação do mercado interno. Coisa, que infelizmente, nem sempre está nas preocupações de muitos patrões brasileiros, que são egoistamente treinados a pensar no próprio umbigo e a curtíssimo prazo.
Veja o que foi publicado:
Gestão da dívida deixou o País em melhor situação, diz presidente do BC. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ressaltou ontem que a crise financeira internacional é grave e seus impactos na economia real começam a ser medidos agora, especialmente com a diminuição da liquidez bancária e a perda de riqueza percebida pelas famílias norte-americanas.
"Não há dúvida de que há um impacto da maior importância", comentou Meirelles. "Se olharmos lá fora, a percepção de gravidade da crise no mercado internacional era muito maior ontem do que hoje. Amanhã vamos ver. A crise é séria, vemos a sua evolução na Europa. Nós estamos observando que (o credit crunch) é algo que é sujeito a muitos altos e baixos, independentemente da evolução política nos Estados Unidos relativa à formação do pacote."
Embora tenha ressaltado que o Brasil não está imune à crise, pois faz parte do circuito comercial e financeiro internacional, Meirelles destacou que o Brasil está mais resistente à desaceleração da economia mundial. Ele disse que as reservas internacionais, que somam US$ 207 bilhões, são equivalentes a três vezes a dívida externa que vence em 12 meses.
Segundo o presidente do BC, o Brasil soube aproveitar o ciclo de expansão econômica mundial, pois de janeiro de 2004 até agosto de 2008 o BC incorporou US$ 157,8 bilhões às reservas cambiais.
Mais informações no Estadão

Cenário de crise alcança indústria de transformação, mostra FGV
Os indicadores já podem ser sentidos de vários ângulos. Quem acessa os sites dos bancos já vê que sumiram as ofertas de crédito. E se realmente precisar e acionar o gerente, a conversa já mudou. Já há redução no número de prestações para a compra de veículos e eletrodomésticos. Daqui a pouco, haverá redução nos estoques. São medidas preventivas. Que devem ser dosadas para não esfriar demais a economia e gerar uma hipotermia que pode ser desastrosa para todos nós.
De resto é acompanhar e trabalhar pelo Brasil: A crise internacional começa a se alastrar para a economia real e há indicações de que atingiu a eufórica indústria de transformação no Brasil. A sondagem mensal do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), divulgada ontem em São Paulo, revelou pelo menos três fatores negativos: o nível de estoque na indústria aumentou; a disposição para contratações caiu; e a taxa de ocupação do parque produtivo baixou. Só nas no setor de bens intermediários, a ocupação industrial caiu de 87,8% para 86%, efeito que reflete o investimento e a queda de demanda, diz a FGV.
Há um quarto fator negativo em setembro que ainda carece de confirmação nos próximos meses, embora seja preocupante. Além da queda da demanda externa, a novidade captada na sondagem de setembro foi a queda da demanda interna. Com isso, pela primeira vez desde agosto de 2006, o indicado de nível demanda global -que incorpora vendas internas e externas- foi pior na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em setembro, o indicador foi de 121 pontos, contra 124 pontos em igual período de 2007.
"Para confirmar se essa é uma tendência ainda é preciso verificar se nos próximos meses a demanda global continuará a cair. O que chama a atenção é o aspecto sazonal. É incomum uma queda da demanda industrial exatamente em setembro. A indústria nesse período indica o oposto, indica aceleração", disse Aloisio Campelo, coordenador de sondagens do Ibre.
O resultado foi a piora no índice geral de confiança industrial no mês. O ICI (Índice de Confiança da Indústria) -indicador que agrega dados da situação atual das empresas e as expectativas no horizonte de três e de seis meses- fechou o mês de setembro a 120,3 pontos, queda de 1,9% em relação ao mesmo período de 2007. Essa piora na confiança foi a mais expressiva em termos percentuais desde janeiro de 2006, mês quando o índice havia baixado 10% na comparação com igual intervalo do ano anterior.
Mais informações na Folha

Paralisação de bancários tem adesão em 22 capitais
É bom lembrar que os companheiros bancários estão negociando participação nos lucros passados e que os bancos brasileiros tiveram ganhos extraordinários. Não vale, agora, em função da crise mundial, os banqueiros se esconderem atrás das pilhas de dinheiro que ganharam, com ajuda dos bancários, no último ano e se recusar a negociar, com decência, os reajustes inadiáveis e necessários.
Veja a notícia e apóie os bancários brasileiros:
Os bancários fizeram paralisação de 24 horas em 126 cidades e 22 capitais em protesto contra o impasse nas negociações salariais da categoria, segundo a Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro).
A entidade -integrante do Comando Nacional dos Bancários, que representa os trabalhadores nas negociações salariais- não divulgou a adesão. No país, são 434 mil bancários.
Na cidade de São Paulo, 15 mil funcionários dos 120 mil participaram da mobilização em 441 locais (entre agências e prédios administrativos).
No início da noite, os bancários do Distrito Federal decidiram manter a greve. Nova assembléia marcada para hoje discute sua continuidade. No Rio, os trabalhadores também optaram pela paralisação.
Em SP, os bancários já definiram que podem parar por tempo indeterminado a partir do dia 8 de outubro se os bancos não retomarem as negociações.
"A paralisação se iniciou no centro da capital e se expandiu, ao longo do dia, para outras regiões em corredores de grande concentração de agências, como na zona leste, em Santo Amaro e na av. Paulista. Não era nosso objetivo parar 90% das agências. A adesão foi positiva para a paralisação de 24 horas", diz Luiz Cláudio Marcolino, presidente do sindicato.
Setor público — No setor público, a adesão foi maior nas agências da Caixa. No setor privado, nas do Banco Real e Santander, segundo o sindicato. "O que atrapalha a adesão e a participação de mais funcionários são os interditos proibitórios conseguidos pelos bancos", afirma Marcolino.
Os bancários pedem reposição da inflação mais 5% de aumento real, participação nos lucros de três salários mais R$ 3.500 fixos, entre outros itens. Os bancos ofereceram reajuste de 7,5%, já rejeitado pelo comando nacional.
Mais informações na Folha

Com Chávez, Lula muda discurso, reconhece gravidade da crise financeira mundial e pede confiança aos brasileiros
Finalmente caiu a ficha e o presidente Lula também mostra preocupação com a crise. Que deve encontrar todos nós, trabalhadores especialmente, mobilizados para ajudar o governo federal a contorna-la e a diminuir seus efeitos.
Veja o texto: Em entrevista ao lado do presidente venezuelano Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom do discurso que fez na manhã desta terça-feira, quando voltou a minimizar as implicações no Brasil da crise financeira internacional.
- A crise é muito séria e tão profunda que nós ainda não sabemos o tamanho. Certamente, talvez seja uma das maiores crises econômicas que o mundo já viu. Poderemos correr riscos, porque uma recessão em caráter mundial pode trazer prejuízos para todos nós. Entretanto, estamos mais sólidos, estamos mais precavidos. O nosso sistema financeiro não está envolvido no subprime. Nós fizemos as lições de casa e eles não fizeram - disse Lula, em Manaus, onde participa de reunião de líderes sul-americanos.
Vamos torcer para que os americanos resolvam o problema
Apesar do discurso mais precavido, Lula mantém a confiança no país:
- A mensagem que eu poderia dizer ao povo brasileiro é que é o momento de acreditar neste país, acreditar no mercado interno deste país, acreditar que nós não seremos vítimas como já fomos outras vezes e, ao mesmo tempo, torcer para que os americanos resolvam o problema.
O presidente comparou seu grau de preocupação ao de alguém que tem um amigo no hospital:
- Eu poderia dizer que hoje sou um homem que está tranqüilo. Estou acompanhando com apreensão. Estou apreensivo porque o Brasil é um país exportador e queremos continuar crescendo.
Mais informações em O Globo


Crise leva pessoas a morar em carro nos EUA

(Postado por Marcos Afonso)Recolhi esta notícia para dividir com os companheiros e companheiras da UGT para que a gente perceba a seriedade da crise americana. A crise já chegou na classe média americana, com alterações radicais no modo de vida, transformando ex-donos de belas mansões em sem teto. Ainda não é a Grande Depressão de 1929, mas chega ameaçadoramente perto. E deve servir de alerta para nós lideranças de trabalhadores, dirigentes sindicais e especialmente de cada um dos cidadãos brasileiros, sempre atentos e preocupados com a manutenção de nossa onda de crescimento, de distribuição de renda e da busca de garantias mínimas para se investir em Educação e em Saúde.
Veja o texto e fiquemos, todos, em estado de alerta:
A cidade de Santa Bárbara se orgulha de seu estilo de vida tipicamente californiano, com praias, cafés e uma charmosa arquitetura de estilo espanhol. É claro que tudo tem um preço robusto: localizadas entre as montanhas de Santa Ynez e o Oceano Pacífico, estão casas que valem milhões de dólares.
Mas, mesmo nesta ensolarada enseada de riquezas, muitos vivem longe do sonho americano. Em um estacionamento no lado oposto de uma rua de mansões luxuosas, a noite traz uma estranha visão. Alguns carros chegam e estacionam nos cantos do terreno. Dentro de cada carro, mulheres, talvez alguns animais de estimação e malas cheias de coisas e roupas de cama.
A poucos metros de casas com quartos ociosos, estão os habitantes de Santa Bárbara que são obrigados a dormir em seus carros. Sem-teto há pouco mais de um ano, eles são uma conseqüência direta do colapso do mercado imobiliário americano.
Casas 4x4
Neste estacionamento apenas para mulheres, Bonnee (que informa apenas seu primeiro nome), usa um vestido azul e tem um comportamento de mulher de negócios.
Um ano atrás, ela vivia como, ironicamente, uma corretora de imóveis. Mas, quando as pessoas pararam de comprar casas, seu salário, baseado em comissões, secou e, como muitos clientes, ela não conseguiu pagar sua hipoteca. De repente, ela se achou sem lugar para morar a não ser seu 4x4.
Pilhas de cobertores estão no porta-malas do veículo. Documentos pessoais estão nos compartimentos ao lado dos bancos. Uma caixa de maquiagem e uma carteirinha de uma academia de ginástica (onde ela toma banho) estão na frente. Com ela, constantemente, estão fotos de sua antiga vida.
Ela não consegue acreditar em sua situação. "Meu Deus, o coração da América está sangrando", diz. Lágrimas começam a sair de seus olhos.
"Eu sei que as coisas vão ficar melhores, mas é triste. Eu realmente lutei muito", diz.
Um outro 4x4 entra no estacionamento e Barbara Harvey, 67 anos, desce do carro. Ela abre o porta-malas e dois grandes cães da raça golden retriever saem.
Barbara começa sua rotina noturna. Ela pega algumas de suas malas e tira um pijama e iogurtes (seu jantar). Ela então arruma cobertores na parte de trás do carro.
Barbara também costumava trabalhar com o financiamento de imóveis. Mas, desde abril, ela e seus cães, Ranger e Phoebe, passam todas as noites em seu carro. É apertado, mas ela diz que se ela dormir na diagonal, todos cabem dentro do veículo.
Nova tendência?
O estacionamento deixa as pessoas que dormem em carros entrarem a partir das 7h da noite, mas os banheiros públicos fecham com o pôr-do-sol.
Como resultado, Barbara diz que não bebe nenhum líquido depois que ela chega. De manhã, ela toma banho na casa de um amigo.
Vestida com roupas limpas e confortáveis e usando óculos escuros, ela não se parece em nada com o estereótipo do sem-teto.
"Vai começar a haver um monte de indivíduos que são de classe-média, mas que não podem comprar nada. Nós estamos em uma terrível confusão econômica. Acho que ainda não vimos nem metade do que vai acontecer com este país", diz Barbara.
Este novo fenômeno de sem-teto de classe média é difícil de quantificar, mas a New Beginnings, uma organização que cuida do sistema de estacionamentos-dormitórios em Santa Bárbara, diz que acomoda cerca de 55 pessoas em seis estacionamentos.
A assistente social Nancy Kapp, ela também uma ex-sem-teto, afirma que há uma lista de espera para espaço nestes estacionamentos e que ela recebe cada vez mais ligações de pessoas que estão para perder suas casas.
Ela diz que um novo tipo de sem-teto está surgindo nos EUA.
Pesadelo americano
"Ser pobre é como um câncer, agora este câncer está atingindo a classe-média", ela explica. "Não importa o quão forte você seja, é uma quebra na psique humana quando você começa a perder tudo que tem".
"Estas pessoas trabalharam a vida inteira para terem uma casa e agora tudo está desmoronando. Isto não é o sonho americano, é o pesadelo americano", diz Nancy.
Os preços de casas na Califórnia caíram 30% do início do ano até maio. Poucos lugares nos Estados Unidos foram tão atingidos.
Mas grupos imobiliários americanos dizem que o aumento dos sem-teto nos EUA começou com o início da crise, no ano passado.

Vida em trailer -- Em outro estacionamento em Santa Bárbara, Craig Miller, sua mulher Paige, e seus dois filhos dizem que se sentem apertados no pequeno trailer onde eles têm vivido por meses.
"É difícil manter as coisas limpas", diz Paige. "É difícil se sentir completo".
Originalmente da Flórida, a família cruzou os Estados Unidos para começar uma nova vida na Califórnia. Mas, incapazes de encontrar trabalho em tempo integral e incapazes de pagar aluguel, nas palavras de Craig, eles ficaram "presos".
Ele diz que, no início, era como férias, mas agora tudo está muito duro.
"Conseguir dinheiro para comida não é uma coisa na qual tínhamos que pensar antes", diz Miller. "Nós esperamos conseguir sair daqui e conseguir um lugar para ficar. Estamos trabalhando duro para isso. Esta é apenas uma situação, não nosso destino", completa.
Quando vai ficando escuro em Santa Bárbara, aqueles que dormem em carros se preparam para mais uma noite.
Mas todos precisam acordar cedo: não é permitido ficar lá depois das 7h da manhã.
Alguns trabalham, outros passam o dia dirigindo de um lugar para o outro. Quando a noite cai de novo, eles voltam para o estacionamento.
Comparado com sem-teto de outros países e mesmo outros americanos, estes ainda têm sorte. Mas se a crise econômica piorar, podem aparecer mais deles?
A crise das hipotecas levou pessoas a viverem em seus carros em Santa Bárbara
Fonte: BBC Brasil