quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Capitalismo mundial vendeu sonhos e agora colhemos os pesadelos que já afetam a economia brasileira

PIB surpreende e cresce 6,8%

As manchetes de hoje refletem medidas anteriores à crise financeira mundial, que ao contrario do apagão ou de alguma dificuldade ou outra de um pais ou setor, tendiam a serem crises localizadas e temporárias. O capitalismo mundial vendeu sonhos e agora estamos colhendo os pesadelos. Mas é bom atentarmos para os resultados de crescimento que mostram que a economia brasileira está, ainda, no caminho certo. E vamos agora trabalhar para reduzir os impactos da crise nos setores mais vulneráveis que são a agricultura, a construção civil e os assalariados em geral. Com determinação e muito trabalho vamos, sim, vencer mais essa crise.

Leia mais re reflita:  Construção lidera a maior expansão trimestral em 4 anos; analistas prevêem agora forte retração Resultado não afasta risco de recessão, dizem economistas

Mas o desempenho do PIB pode chegar a 6% no ano, mesmo se o País não crescer no 4º trimestre

A economia brasileira superou todas as expectativas e, empurrada pelo consumo das famílias e por investimentos públicos e privados, levou o Produto Interno Bruto (PIB) ao seu melhor desempenho trimestral em quatro anos: 6,8% no terceiro trimestre, em comparação a igual período do ano passado, segundo apurou o IBGE. Vigor que, segundo os economistas ouvidos pelo Estado, ajuda o País a enfrentar um período ainda indefinido de forte declínio, mas não é suficiente para afastar o risco de recessão.

Para o quarto trimestre, as expectativas são de crescimento próximo de zero, ou seja, de elevação inexpressiva ou de ligeira queda. "O terceiro trimestre já ficou para trás. E, definitivamente, pode ser o último de crescimento forte do governo Lula", atesta o economista José Julio Sena, contrariando previsões do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Amparado principalmente na elevação dos investimentos, o ministro considerou inevitável o recuo no quarto trimestre e no ano que vem, mas disse esperar, uma retomada de crescimento forte a partir de 2010.

Em 12 meses, até setembro, o PIB (conjunto de toda a riqueza produzida no País) avançou 6,3%, a maior taxa acumulada para 12 meses da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Com o novo resultado do PIB trimestral, os economistas estão revendo as projeções para o desempenho do ano. Até agora, eles projetavam um crescimento de cerca de 5% em 2008. Mas mesmo se não houver crescimento no quarto trimestre em relação ao terceiro trimestre, o PIB deve avançar cerca 6%, o que seria o melhor resultado desde 1986, quando o Brasil cresceu 7,49%.

O saldo também foi bastante positivo em relação ao segundo trimestre, com alta de 1,8%. A gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, que divulgou ontem os resultados, chamou a atenção também para o ineditismo do forte crescimento no acumulado dos nove meses do ano: 6,4%.

Ela destacou que, no terceiro trimestre houve expressivas taxas de crescimento do PIB ante o mesmo período de 2007 dos segmentos componentes da indústria, como construção ( 11,7%); extrativa mineral (7,8%); indústria da transformação ( 5,9%); e serviços industriais de utilidade pública (5,7%). "Mas o destaque foi o setor da construção", afirmou Rebeca, lembrando que a construção se beneficiou de um "aumento de crédito para o setor".

RECESSÃO — Esse cenário, porém, passou. O quadro hoje é outro, como lembra o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. "O PIB do terceiro trimestre não afasta um risco de recessão por um motivo simples: foi o resultado de um período de crédito e consumo acelerados, com crescimento bem acima do PIB. Esse impulso está perdendo força por conta da crise de crédito". Para ele, não é correto fazer projeções com base nesse resultado e o futuro é uma incógnita. De certo, apenas a forte desaceleração esperada para o quarto trimestre. (Leia mais no Estadão)

Megapacote de reajuste a servidor passa no Congresso

A UGT sempre acompanhou de perto e se manifestou junto ao governo federal, a favor da recomposição do salário dos servidores federais, que se espera seja um exemplo também seguido pelos Estados e municípios. Os servidores são os trabalhadores da Nação. É através deles que pulsa o País, que se concretiza para o cidadão as atribuições do Estado, em todas as áreas de atuação. Se queremos um Estado moderno, precisamos ter servidores motivados, com condições de aprimorar nas próprias funções. Temos, claro, que corrigir distorções, e identificar os poucos casos, infelizmente, que os salários pagos, por serem muito acima da média, ainda distorcem a política salarial para os servidores.

Leia mais: Somadas, medidas provisórias aprovadas dão reajustes a 90% dos funcionários federais. Gasto com pessoal deve superar os 5% do PIB em 2009 pela primeira vez em 14 anos; contrariado, governo pode vetar o texto

O Congresso concluiu a votação do maior pacote de reajustes salariais para os servidores públicos concedido desde o Plano Real, que abortou o ajuste dos gastos com pessoal programado para este ano e elevou o funcionalismo à condição de segunda maior despesa da União, superando os juros das dívida interna e externa e atrás apenas dos benefícios da Previdência Social.

Foi aprovada ontem, em segunda votação pela Câmara dos Deputados, a terceira e última medida provisória do pacote, que não sofreu nenhuma resistência dos partidos de oposição -embora PSDB e DEM tenham adotado como bandeira o ataque à alta dos gastos promovida pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Impulsionada principalmente pelas medidas, a folha de pagamentos teve aumento de R$ 6,6 bilhões no Orçamento deste ano e crescerá outros R$ 21,8 bilhões em 2009.

Juntas, as três MPs beneficiam, entre ativos e aposentados, 1,3 milhão de servidores civis e pouco mais de 600 mil militares, o que equivale a praticamente todo o quadro do Poder Executivo e a cerca de 90% de todos os funcionários federais. Os efeitos das medidas não se esgotam neste ano: há reajustes e benefícios programados até 2012, quando o sucessor de Lula estará chegando à metade do mandato.

Como aconteceu com suas antecessoras, a MP aprovada ontem teve passagem tranqüila pelo Congresso. As alterações promovidas por deputados e senadores apenas atenderam aos lobbies dos servidores e acrescentaram novas vantagens ao texto, com detalhes que chegaram a, por exemplo, quatro páginas introduzidas pelo Senado voltadas para os servidores do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, no Rio.

Nas votações finais, chegou-se a um debate inusitado: o comando governista, de históricas ligações com o sindicalismo dos servidores, tentava derrubar na Câmara as 22 modificações feitas pelo Senado, enquanto a oposição, defendendo os gastos adicionais, conseguiu manter 20 delas. "Não houve acordo nenhum. O governo pode vetar tudo", disse o relator do texto, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI). As duas últimas MPs do pacote ainda dependem da sanção do Palácio do Planalto.

Com vetos ou não, o impacto nas contas públicas de 2009 pouco será alterado. As despesas com pessoal chegarão a R$ 157 bilhões, praticamente um quarto de toda a receita disponível para o governo federal, segundo as estimativas do projeto de Orçamento apresentado em agosto passado. (Leia mais na Folha)

Governo criará linha de crédito para agricultura de SC

Uma medida duplamente acertada do governo Lula. Proteger as economias das famílias ocupadas com a agricultura em Santa Catarina, que muitas ainda convivem com a perda de amigos e parentes, neste momento de calamidade e ao mesmo tempo diminuir os efeitos que o desastre teria sobre a futura safra.

Leia mais: O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Casseo, afirmou hoje que o governo vai criar uma linha de crédito para recuperação agrícola nas regiões afetadas pela enchente em Santa Catarina. O limite individual de crédito será de R$ 100 mil, com dez anos para pagamento e três de carência. O encargo financeiro será de 2% ao ano. No total, o governo deve destinar R$ 500 milhões para essa nova linha, recursos que serão alocados dentro do montante previsto para o plano de safra da agricultura familiar, que conta com R$ 13 bilhões. "Com esse dinheiro, o produtor poderá reconstruir galpões, cercas e investir em irrigação para dar prosseguimento à atividade agrícola", afirmou o ministro, após reunião com integrantes da banca catarinense, no Congresso Nacional.

Ele estimou que 10 mil pequenos agricultores estão na região afetada pelas chuvas em Santa Catarina. Desse total, cerca de 95% solicitaram recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para plantio das lavouras. O ministro disse que a expectativa é de que a linha de crédito esteja "na rua", ou seja, disponível nos bancos, na primeira quinzena de janeiro. O governo não decidiu se a criação da linha será regulamentada por meio da inclusão de um item na medida provisória de socorro ao Estado ou se ela dependerá de avaliação do Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve se reunir no dia 18 de dezembro. (Estadão)

Cepal: pobreza na AL cai para 33%, mas indigência sobe

A América Latina e o Caribe são os exemplos de alta concentração de renda, de pouca inclusão social. A pesquisa da Cepal mostra um cenário lamentável e prova que há muito a ser feito a favor da inclusão social e da distribuição de renda. No Brasil, com a política de reajuste do salário mínimo acima da inflação caminhamos um pouquinho mais depressa para tentar melhorar a inclusão social. Mas não há dúvida, temos que fazer muito mais e muito mais rapidamente.

Leia mais: Atualmente, 33,2% da população da América Latina e Caribe, ou 182 milhões de pessoas, vive na pobreza, ante 34,1% (184 milhões de pessoas) em 2007. Os números são do panorama social da América Latina 2008, da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), documento divulgado hoje em Santiago, Chile. A porcentual de pobres recuou quase um ponto, mas a indigência aumentou, ao passar de 12,6% no ano passado para 12,9% este ano, ou seja, de 68 milhões de pessoas para 71 milhões.

Os números refletem o impacto do aumento da inflação ocorrido desde o início de 2007, em especial a alta dos preços dos alimentos, embora nos últimos meses esses preços tenham deixado de subir. A Cepal prevê que a desaceleração econômica mundial se refletirá na região em uma menor demanda de bens de exportação e menor investimento no setor produtivo, junto com uma diminuição das remessas dos imigrantes. O emprego também estará estancado em 2009, alerta a Cepal, afirmando que as remunerações reais se manterão, em média, sem variações ou sofrerão reduções leves. "As previsões indicam uma piora dos ganhos familiares, que se concentrarão nos trabalhadores por conta própria e nos assalariados informais, cujos empregos são mais sensíveis ao ciclo econômico", ressalta. (Leia mais no Estado)

Governo estuda reduzir IOF para estimular crédito

O crédito é a sustentação do capitalismo. Tanto é que a crise financeira mundial está fazendo o mundo parar em função de problemas ocorridos no gerenciamento de crédito. Esperamos que a as medidas governamentais, que devem ser monitoradas para verificar se chegam mesmo ao consumidor final, sejam também acompanhadas de contrapartidas sociais.

Leia mais:  Alíquota cairia a zero para os principais tipos de financiamento. Tributação hoje é de 3,38% em muitos casos

A solução encontrada pelo governo para tentar manter em alta o consumo das famílias e os investimentos produtivos - os dois alicerces do ciclo de expansão acelerada que se encerrou em setembro - passa pela redução do custo dos financiamentos. O Ministério da Fazenda vai reduzir a zero a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente nas principais modalidades de crédito, informaram ao GLOBO fontes do primeiro escalão.

Atualmente, a tributação é de 3,38% ao ano na maior parte dos empréstimos. Espera-se que a medida afete os spreads bancários (diferença entre o custo de captação e o cobrado do tomador final). A ação já foi informada aos bancos públicos, cujos dirigentes estiveram reunidos com a equipe econômica e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira.

Outras duas medidas praticamente certas são a redução do IPI do setor automotivo e a queda de PIS/Cofins para o segmento de alimentos. O pacote deve ser anunciado hoje. Foi apresentado ontem à noite pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) a Lula, em reunião da qual participou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Leia mais em O Globo

Deficiências em ensino no Brasil levam empresas a investir em formação, diz jornal

As deficiências no sistema educacional brasileiro estão levando empresas do país a investir na formação de sua futura força de trabalho, destaca uma matéria desta terça-feira do jornal americano Washington Post.

O jornal cita o exemplo da Vale, que, "com mais de 150 mil empregados em todo o mundo é uma das maiores corporações em setores como mineração, indústria aeroespacial e construção que estão levando o Brasil à ascensão na economia mundial".

Segundo a reportagem, "os planos ambiciosos de crescimento da empresa batem de frente em um problema que prejudica o desenvolvimento na América Latina: um ensino secundário que não produz o número suficiente de engenheiros e outros com habilidades técnicas, mesmo com a redução da demanda causada pela crise econômica global".

O Washington Post compara a América Latina com outros países emergentes e lembra que apesar de ser um dos países mais populosos do mundo, o Brasil não tem nenhuma universidade entre as 100 melhores do mundo.

"Entre os jovens que completam uma faculdade, apenas 5% se formam engenheiros, muito menos do que em países como a China ou a Coréia do Sul, segundo empresários brasileiros."

O jornal diz que, apesar dos bons índices de crescimento econômico registrados em vários países latino-americanos em anos recentes, estudos mostram que os trabalhadores da região têm menos educação do que os da Ásia e do Leste Europeu, e que a porcentagem de alunos nas escolas secundárias é bem menor do que em países desenvolvidos.

O jornal ainda comenta que, mesmo nos níveis básicos de ensino, os países têm se concentrado mais em construir novas escolas do que em melhorar a qualidade do ensino e, por conta disso, empresas passaram a criar centros de estudo e cursos para formar sua mão-de-obra futura.

"Educação fraca leva a uma falta de trabalhadores qualificados. Uma pesquisa com mais de 1.700 empresas da Confederação da Indústria do Brasil no ano passado concluiu que mais da metade não conseguia encontrar um número suficiente de trabalhadores treinados. As maiores empresas do Brasil, assim como em outros países da América Latina, tomaram para si o papel de mudar essa dinâmica."

Além da Vale, que oferece cursos técnicos, entre outras coisas, para mecânicos ferroviários, a reportagem cita o exemplo da Embraer, que treina engenheiros, e da Amanco, empresa de materiais de construção que treina operários da construção civil no uso de suas peças. (BBC Brasil traz mais informações)