terça-feira, 23 de dezembro de 2008

2009, através de ações do Estado, junto com os trabalhadores, orquestraremos a saída da crise mundial

Reflexões de Natal e Ano Novo

2008 foi o ano de desafios e conquistas (muitas conquistas) para a União Geral dos Trabalhadores. Chegamos ao final do ano com mais de 500 sindicatos validados. Caminhamos para a integração e unidade na ação, em torno do Brasil que queremos mais justo, muito mais democrático e com inclusão social. Construir a unidade na prática requer que mantenhamos o foco nas grandes questões nacionais que nos mobilizam. Aprendemos ao longo da idealização e construção da União Geral dos Trabalhadores a importância de incluir e gerenciar na prática os pontos de vista diferentes, para criar uma entidade forte que tem hoje o respeito de todos os poderes da República, em especial do presidente Lula que sempre nos recebe para dividir com a central suas preocupações estratégicas a favor do Brasil.

2009 será o ano em que teremos que confirmar todo o nosso empenho diante das manifestações concretas da crise econômica mundial. Vamos continuar a priorizar o emprego, a distribuição de renda, a inclusão social. Vamos manter nossa bandeira de lutas a favor de um Brasil muito mais justo, com geração de oportunidades para os jovens, com proteção para os idosos, com o aproveitamento da energia de nosso povo. Cada brasileiro desempregado é um patrimônio nacional deixado de lado. É algo que não podemos nos dar ao luxo, num Brasil ainda em construção, em que falta muito a ser feito e que precisa de redobrar esforços para a Saúde, a Segurança e a concretização da Paz para todos nós.

A União Geral dos Trabalhadores continuará mobilizada para agregar sua contribuição à melhoria do tecido social brasileiro. Para tanto, mobiliza os seus melhores quadros intelectuais, assimila a experiência de cada um dos seus sindicatos filiados e une todos na ação a favor da nossa Pátria, o Brasil.

Emprego formal tem a primeira queda em 6 anos

Essa oscilação negativa do nível de emprego tem a ver com a crise, não podemos negar. Mas de uma maneira indireta, ainda. Trata-se mais de precaução diante das notícis alarmistas, pois a queda do emprego contrasta com a manutenção do nível de vendas, que continua aquecido. Patrão assustado é uma calamidade. Demite com medo da sombra, se assusta com qualquer ruído e, principalmente, com manchetes de jornais. Vamos manter o realismo otimista e enfrentar a crise a partir do próximo ano, e surpreender os especuladores e alarmistas de plantão. Pois o crescimento de 3,2% ao ano, com taxas de inflação sob controle. Com a determinação de nosso povo, que conseguirá neutralizar, temos certeza, os alarmistas de plantão, teremos um 2009 histórico.

Leia os dois textos a seguir: Excetuando dezembros, dados do Caged indicam alta desde 2002; em novembro, recuo foi de 0,13%

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, revelou que em novembro o emprego com carteira assinada caiu 0,13% em relação a outubro. A perda foi de 40,8 mil vagas, invertendo a expansão nos dez meses anteriores.

Esse foi o primeiro resultado negativo no governo Lula, sem considerar os meses de dezembro, quando é normal haver um número alto de demissões, principalmente de trabalhadores temporários.

O setor automobilístico e a agricultura foram os principais responsáveis pela diminuição no número de postos de trabalho, que não era verificada desde 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. "Essa queda é um reflexo direto da crise. Perder 40 mil empregos não é bom, mas comparado ao efeito da crise no mundo é insignificante", disse Lupi.

O resultado de novembro levou o ministro a reduzir de 2 milhões para 1,85 milhão a previsão de criação de empregos com carteira assinada no País em 2008. O ministro explicou também que, nos meses de outubro, novembro e dezembro, o setor agrícola demite porque não há plantio nem colheita. No mês passado, foram 50 mil demitidos na área rural.

A indústria, tradicionalmente, não apresenta crescimento da oferta de emprego nesses últimos meses do ano. Mas especificamente em 2008 houve queda de 80 mil empregos no setor em novembro. Essa diminuição foi compensada com números positivos do comércio, com 78 mil empregos, e do setor de serviços, com 40 mil empregos.

Lupi ressaltou, no entanto, que, mesmo com a revisão na meta de abertura de empregos para este ano, o País baterá o recorde na produção de novos postos de trabalho, que é do ano passado, quando foi criado 1,617 milhão de vagas.

O ministro disse acreditar que a queda na geração de empregos em dezembro não será tão forte quanto a verificada nesse mês em anos anteriores, quando se registrou uma perda média de 300 mil postos de trabalho.

Segundo o ministro, neste ano, houve uma antecipação de demissões. Até novembro, a geração foi de 2,1 milhões de novas vagas, com um saldo de 31,07 milhões de trabalhadores com carteira assinada. (Estadão)

BC prevê alta de 3,2% para o PIB em 2009 — Taxa estimada no Relatório de Inflação é inferior aos 4% estabelecidos como meta pelo Ministério da Fazenda e reafirmados ontem por Lula

Abalada pela crise, a economia brasileira deverá crescer 3,2% em 2009, segundo estima o Banco Central no Relatório de Inflação, divulgado ontem. É uma taxa mais modesta do que os 4% estabelecidos como meta do governo pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e reafirmados ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O crescimento de 3,2% é o que consideramos mais provável, mas não quer dizer que 4% seja impossível", disse o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Mario Mesquita. "4% está dentro do intervalo de possibilidades", afirmou.

O relatório divulgado ontem, o primeiro após o recrudescimento da crise financeira, traz projeções do BC pelas quais a inflação fechará este ano em 6,2% e o ano que vem em 4,7%. Nos dois casos, o resultado está acima do centro da meta, que é 4,5%, mas dentro da margem de tolerância, que vai até 6,5%. Pelas projeções do BC, a inflação só deverá cair para o centro da meta em 2010.

As projeções do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação são conservadoras, pois trabalham com a hipótese de a taxa de juros constante em 13,75% até o fim do ano que vem e o dólar, em R$ 2,40. O mercado, porém, já trabalha com projeções mais baixas para juros e câmbio.

Mesquita disse que nos anos anteriores o relatório projetou taxas de crescimento do PIB menores que as efetivamente ocorridas. O diretor classificou o crescimento de 3,2% como "uma desaceleração importante" da atividade econômica, mas ponderou que o número ainda é maior do que a média registrada nos 10 anos antes de 2007. É também superior aos 2,2% projetados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global.

No relatório, o BC diz que a crise está afetando o País "de forma mais intensa do que se antecipava". O texto mostra que reflexos da crise já são visíveis em toda a economia, com queda na produção industrial, nas vendas do comércio e no emprego. Porém, ainda não está claro até que ponto a crise vai desacelerar o consumo e o investimento ou quais os efeitos das medidas recentemente adotadas pelo governo sobre a economia como um todo.

Há dúvidas, ainda, sobre o efeito da alta do dólar nos preços no ano que vem. O relatório diz que até o momento os repasses têm sido contidos, mas poderão tornar-se mais intensos se as empresas avaliarem que a alta não é temporária.

Com isso, ficam vários pontos de interrogação sobre a trajetória da inflação no futuro. Se por um lado a desaceleração elimina pressões que puxavam a inflação para cima, o câmbio pode fazer o trabalho inverso.

O BC também não sabe ao certo se a economia vai mesmo esfriar no ano que vem. Investimentos em infra-estrutura, programas de transferência de renda do governo e um desempenho não tão ruim no mercado de trabalho podem manter vivo o risco de alta da inflação.

"O risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno recuou, mas segue relevante", diz o Relatório. A autoridade monetária afirma que o enfrentamento da crise "não exige mudança de regime de política econômica no País, diferentemente do que ocorreu no início de 1999." (Leia mais no Estadão)

Crise econômica fortalece o Estado, dizem Lula e Sarkozy

Caem por terra todas as teses do neoliberalismo. Agora, os especuladores, os donos do mundo, os académicos que esnobaram o Estado, voltam correndo para os cofres públicos. É hora de o Estado refazer as regras de comportamento e de conduta. De controlar, com rigor, os especuladores. De exigir e estimular condutas sociais do capital. Para fazer prevalecer os interesses coletivos, a visão social, o bem-estar coletivo.

Leia mais: Presidentes criticam especuladores em cúpula do Brasil com a União Européia

Ambos defenderam maior controle sobre os mercados; para o francês, "é preciso definir um novo papel do FMI em torno das moedas"

Apesar de serem, ao menos na origem, de campos políticos diferentes, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, afinaram os discursos e defenderam ontem, na 2ª Cúpula Brasil-União Européia, uma política global conjunta para combater a crise financeira internacional e a adoção de novos mecanismos de controle de instituições financeiras. Ambos afirmaram não haver mais espaço no mundo para "especuladores".

Para Sarkozy, a crise marca uma nova etapa na história mundial, que pede novos instrumentos de gestão. "2008 é o ano em que o mundo entrou para o século 21. Não podemos mais aplicar as regras de governança do século 20", disse. Sarkozy defendeu um Estado mais regulador e com maior controle das instituições financeiras. "Já não queremos mais um mundo de especuladores", disse Sarkozy.

Pouco antes, Lula afirmou: "Todos nós sabemos que essa crise é resultado de uma especulação financeira desavergonhada". Essa especulação resultou, segundo ele, na disparada injustificada dos preços do petróleo e dos alimentos. "Não estou torcendo para a crise, mas a crise chama atenção do mundo e dos especialistas para rediscutirem o papel que o Estado nacional tem de exercer na economia", disse Lula, para quem "se deixar por conta do mercado, a crise pode se alastrar e trazer convulsões sociais em vários países no mundo".

Ele e Sarkozy defenderam o G20 como o fórum adequado para as discussões dos novos mecanismos de gestão global e de reforma das instituições, ressaltando a importância do multilateralismo nesses tempos de crise.

"É preciso definir um novo papel do FMI em torno das grandes moedas do mundo", disse Sarkozy, em referência à prevalência do dólar como padrão monetário internacional.

O presidente da França afirmou ainda que os EUA são "amigos" da União Européia, mas nem por isso o bloco não discorda do país quando é necessário. "Os mesmos que diziam que o mundo seria ótimo em 2008 e que agora dizem que será ruim em 2009 vão me dizer o que eu tenho que fazer?", declarou Sarkozy.

Indiretamente, Lula também sinalizou que deseja uma mudança no FMI: "Se a gente tentar resolver essa crise com o mesmo paradigma monetário que a criou, nós não teremos solução de curto prazo". Para Lula, chegou a vez de a política dar as bases para um novo paradigma mundial. "A única coisa que tenho convicção e certeza é que finalmente chegou a hora da política."

Citando Lula, Sarkozy também disse que a crise marca "a volta da política" ao centro do debate e disse que é necessário dar voz a países que antes não eram ouvidos, como o Brasil. "Muitos falam muito e não dizem nada. Precisamos do Brasil para a regulamentação do fluxo financeiro mundial. (...) Precisamos de Lula para garantir a estabilidade." (Leia mais na Folha)

Lupi ataca proposta para flexibilizar direitos

O ministro Lupi tem um bom discurso. Temos que separar, contudo, o joio demagógico, do trigo da realidade económica que vivemos. Se estamos passando por uma crise mundial, temos que ter cuidado com os detalhes. Se determinados setores, a exemplo da indústria automobilística, construção civil e autopeças, estão com problemas, tem que receber atenção diferenciada, com a correspondente negociação que ajude a preservar empregos. Nos interessa o emprego. Por isso, tomamos muito cuidado com os discursos genéricos. Se for preciso negociar para manter os empregos, faremos. Com toda a autonomia para os sindicatos que são o instrumento de luta e de sobrevivência econômica dos trabalhadores.

Leia mais: Para o ministro do Trabalho, empresários deveriam propor "flexibilização dos lucros", em vez de mudanças na lei trabalhista

Empresários defendem suspensão temporária do contrato de trabalho por até dez meses para evitar mais demissões com a crise

Com o aumento de demissões geradas pela crise econômica internacional, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, rebateu ontem a proposta do empresariado de suspensão temporária do contrato de trabalho. Ele pediu "a flexibilização dos lucros", em vez de mudanças nas relações trabalhistas, e mais investimentos privados.

"Na hora do lucro não chamaram os trabalhadores para dividir. Só querem chamar os trabalhadores para dividir quando têm prejuízo? Ou porque possivelmente poderão ter prejuízo? Quando falam na flexibilização trabalhista, quero falar da flexibilização dos lucros. Quando é que vão flexibilizar os lucros?", afirmou Lupi na divulgação dos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Para o ministro, os empresários deveriam ter mais "consciência nacional". "Penso que os empresários brasileiros têm que ter muita capacidade de consciência nacional de saber os grandes lucros que eles tiveram até agora", assinalou.

A proposta -encampada pela Confederação Nacional da Indústria e por companhias como a Vale do Rio Doce-, prevê a suspensão temporária do contrato de trabalho por até dez meses. Durante esse período, o empregado deixaria de receber o salário e teria apenas o seguro-desemprego, mas ao mesmo tempo manteria o vínculo empregatício.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse não ver motivo para demissões e descartou a adoção da proposta dos empresários.

Segundo o ministro do Trabalho, "não é por aí o caminho."

"O caminho agora é de acreditar no Brasil, continuar investindo, é de o brasileiro saber que o Brasil está no rumo certo e de a gente continuar trabalhando para produzir. O Brasil não pode perder seu foco de trabalhar, produzir para crescer", afirmou.(Leia mais na Folha)