terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Crise econômica tem sido usada, indevidamente, para justificar demissões arbitrárias

Após demissões, Vale quer reverter prejuízos à sua imagem

(Postado por Canindé Pegado) Talvez a Vale tenha gasto agora na tentativa de recuperação da imagem muito mais do que teria economizado com a demissão arbitrária de seus 1.300 trabalhadores. É um arranhão na imagem que fica para sempre, porque a Vale é uma empresa que sempre foi tida como modelo. Ao se aproveitar da crise para demitir em massa, gerou uma onda de desculpas para outras empresas. Jogou por terra toda a construção de imagem, de uma empresa associada com os destinos do Brasil. Até seu logótipo carrega as cores brasileiras. Para quê? Para demitir no primeiro sinal de crise, desprezando o Brasil, os brasileiros e desrespeitando os seus trabalhadores e suas famílias.

Que o evento sirva de lição para outras empresas que estão copiando as desculpas esfarrapadas da Vale.

Leia mais: Em anúncios, a empresa frisou que o número de trabalhadores cresceu em cinco mil ao longo de 2008.

A mineradora Vale entrou 2009 disposta a reverter os prejuízos causados à sua imagem pelo anúncio das demissões de 1,3 mil funcionários em novembro por conta da crise internacional. Com um anúncio de página inteira publicado, no último domingo, nos principais jornais do País, a empresa frisou que o número de trabalhadores cresceu em cinco mil ao longo de 2008. E ainda prometeu gerar 10 mil novos empregos até 2011, quando novos projetos da companhia vão entrar em operação.

Para o diretor executivo de Gestão e Sustentabilidade da Vale, Demian Fiocca, o ambiente de grande incerteza trouxe uma "visibilidade excessiva" ao ajuste feito pela Vale para se adequar ao cenário de queda de demanda por conta da crise internacional. Na época, a empresa cortou produção e anunciou férias coletivas e demissões em suas operações no Brasil e exterior.

O diretor lembra que a Vale tem como estratégia começar o ano com anúncios publicitários traçando um balanço de suas atividades. Mas, admite que o informe publicado no último domingo teve como objetivo esclarecer a sociedade que as demissões de novembro ainda representam um porcentual inferior ao saldo de contratações realizadas pela mineradora ao longo de 2008.

"A Vale começou 2008 com 42 mil empregados no Brasil e encerrou o ano com 47 mil. Para 2009, o nosso compromisso com o desenvolvimento do País continua", diz o anúncio. Como toda grande empresa, observa Fiocca, a Vale registra uma movimentação intensa em seu quadro de funcionários por conta do número de projetos em que está envolvida. "A do final do ano (movimentação) ganhou uma visibilidade excepcional porque a pauta sobre se o Brasil sofreria com as turbulências internacionais estava muito intensa", lembrou.

E completou: "A Vale é uma das empresas que mais investe, ela tem uma imagem boa."De qualquer forma a imagem da companhia sai arranhada do episódio envolvendo as demissões do final do ano, conforme o presidente do Sindicato dos Ferroviários de Minas Gerais e Espírito Santos, João Batista Cavalieri, que também ocupa uma cadeira no conselho de administração da Vale como representante dos empregados.

Segundo Cavalieri, é difícil explicar para a sociedade que uma empresa com lucros tão expressivos como os registrados pela mineradora brasileira precise fazer demissões para se adequar ao cenário de demanda mais fraca. "É uma situação delicada. É claro que desgasta a imagem da empresa um pouco. Nesse momento, a empresa que conseguir não demitir sairá com uma imagem mais positiva", afirmou. (Mais informações no Estadão)

Renault vai suspender mil funcionários por 5 meses

Acompanhamos de perto este tipo de negociação. A UGT defende a manutenção do emprego e da renda dos trabalhadores. E quer que todas os acordos sejam previamente aprovados pelos sindicatos que representam os trabalhadores.

Leia mais: Metalúrgicos da montadora Renault aceitaram ontem, em assembleia, suspender por cinco meses o emprego de cerca de mil trabalhadores da unidade de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.

A medida tem o objetivo de evitar demissões imediatas por causa da crise internacional.

Pelo acordo entre trabalhadores e montadora, eles não vão trabalhar durante esse período, mas terão direito à antecipação do pagamento do seguro-desemprego e a uma complementação financeira da empresa para atingir o valor integral de seu salário. Os funcionários receberão também uma bolsa de qualificação profissional, paga pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Segundo o sindicato, o acordo evita perdas salariais reais.

Os cinco meses de interrupção do trabalho também serão usados para computar o pagamento de férias, 13º salário e FGTS. Mas o período não poderá ser incluído na aposentadoria porque, na prática, não haverá folha de pagamento.

Os funcionários suspensos correspondem a 33% da força de trabalho da fábrica da Renault. O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Cláudio Gramm, afirmou que foi o único meio de preservar os postos e evitar a demissão dos trabalhadores no retorno das férias coletivas, ontem.

No final do prazo de cinco meses de suspensão dos empregos, representantes da montadora e sindicato voltam a se reunir para discutir o cenário econômico e medir a viabilidade de manter ou não as vagas. "A empresa mostra que acredita na retomada econômica. Do contrário, ela já teria demitido os mil funcionários agora em janeiro", disse Gramm. (Leia mais na Folha)

LOBISTAS DOS RENTISTAS RESISTEM À QUEDA DA SELIC

São os especuladores de sempre, articulados através de lobbies poderosos e que tentam de todo jeito manter os juros nas alturas. São sugadores da economia real, pois não trabalham uma hora sequer, gerando algo produtivo para o País. Temos que estar alertas contra estes vampiros de nossa economia.

Leia mais: As viúvas dos juros altos. Bancos ignoram recessão mundial para defender que queda seja a conta gota.

Diante da impossibilidade de o Banco Central resistir à forte pressão, de dentro e fora do governo, para que entre em sintonia com os principais BCs do mundo e baixe os juros, os setores ligados aos rentistas articulistas para fazer lobby para evitar que a taxa básica de juros (Selic) sofre quedas expressivas.

A economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, por exemplo, alegou que, apesar da melhora das expectativas para a inflação de 2009 apresentada pela pesquisa Focus, do BC, ainda não haveria indicadores que tornariam confortável um corte de juros de 0,50 ponto percentual na reunião que será concluída no próximo dia 21.

"Estamos vendo que as expectativas relativas ao IPCA para este ano ainda estão acima da meta de 4,5%. Com os dados disponíveis hoje, é mais adequado (o Copom) ser mais cauteloso no começo do ciclo de queda de juros, que poderá inclusive ser mais longo", argumentou.

Na pesquisa divulgada pelo Focus no mesmo dia, a mediana das previsões para o IPCA para este ano manteve-se em 5%. O relatório de inflação de dezembro aponta que o indicador ficaria em 4,7% no cenário de referência.

Zeina alegou que alguns fatores justificariam um movimento mais gradual de redução da Selic a partir deste mês. Além da queda dos juros começar quando as expectativas de mercado ainda estão acima da meta de inflação, haveria, segundo ela, a possibilidade de que o câmbio pudesse elevar o IPCA nos próximos meses, devido basicamente ao repasse que pode ocorrer com a depreciação do real ante o dólar registrada a partir de meados de setembro até o final de 2008.

Os argumentos dos rentistas desconsideram, porém, o forte movimento de desaceleração da economia previsto pelos principais economistas, tanto para o Brasil, quanto para o resto do mundo. (Leia mais no Jornal do Brasil on line)

Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes quer R$ 2 bi para cooperativas

O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) quer a liberação de R$ 2 bilhões em linhas de capital de giro para cooperativas agrícolas. O pedido foi feito ao ministro Guido Mantega (Fazenda), com o argumento de que elas precisarão de crédito para comercializar a safra nos próximos 90 dias. De acordo com ele, o Ministério da Fazenda estuda a fonte dos recursos.

"É uma forma de dar melhores condições de comercialização da safra. Vai ser necessário resolver em 30, 60 ou 90 dias. É bom que se antecipe isso", disse.

Stephanes pediu, ainda, ampliação do prazo para que os bancos concluam a renegociação da dívida agrícola. Ele argumentou que a regulamentação é complexa e, por isso, muitos agricultores ainda são considerados inadimplentes. (Leia mais na Folha)

60% das multinacionais no Pais querem manter ou aumentar investimentos

Uma pesquisa exclusiva de EXAME com mais de 100 multinacionais instaladas no Brasil mostra que mais de 60% delas vão manter ou aumentar seus investimentos aqui em 2009

Com o agravamento da crise internacional, é possível dividir o mundo imaginariamente em dois blocos: de um lado, estão os países que terão recessão e, de outro, os que ainda têm chance de crescer em 2009. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas, as economias de Estados Unidos, União Européia e Japão já recuam, enquanto os emergentes devem crescer ao menos 2,7%. O Brasil, felizmente, está no segundo time. As previsões de crescimento do produto interno bruto brasileiro variam de mero 0,5% a razoáveis - dadas as circunstâncias - 3%. Seja como for, é um cenário bem melhor que o do mundo rico. Isso coloca o Brasil, ao lado de China e Índia, entre os poucos mercados em que as empresas podem ambicionar uma expansão das vendas. É essa perspectiva que pode influenciar o investimento direto estrangeiro no país - dinheiro aplicado na economia real que, em 2008, deve bater o recorde de 40 bilhões de dólares. A projeção para 2009, feita pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), é de queda para a faixa de 34 bilhões de dólares. Hoje, os cenários para a economia são múltiplos - e pouco confiáveis. Há os pessimistas. E há os mais otimistas. Entre eles está o que mostra o Brasil como porto de novos investimentos de algumas das maiores empresas do mundo. A crise seria assim uma oportunidade.

Mas, como a prudência manda, é melhor ficar com os fatos. Para identificar a tendência do investimento estrangeiro, EXAME realizou em dezembro uma pesquisa com 108 multinacionais que atuam no Brasil. Mesmo num ambiente de cautela, os resultados mostram um horizonte favorável - pelo menos quando se leva em conta a magnitude da crise que assola o mundo. Seis de cada dez multinacionais pesquisadas deverão manter em 2009 os investimentos planejados no país, sendo que pequena parte afirmou que vai aumentá-los. A pesquisa também mostra que 39% das subsidiárias esperam ter resultados acima dos previstos para as matrizes, o que elevará sua importância nos respectivos grupos. O dado que mais surpreende é que 46% das companhias prevêem crescer mais de 5% - bem acima do esperado para a economia brasileira. "Como o Brasil é uma economia relativamente fechada, setores ligados ao varejo e a serviços devem ser menos afetados pela crise e, portanto, têm chances de obter melhor resultado aqui do que em outros países", diz o economista Luís Afonso Fernandes Lima, presidente da Sobeet. (Leia mais na Revista Exame)