quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Discutir estabilidade por um ano para trabalhadores de empresas que peçam ajuda ao governo para sair da crise

Indústria tem a maior queda em 13 anos

(Postado por Laerte Teixeira da Costa) Essa notícia e a seguinte, com a sugestão do Paulo Skaff de redução da jornada são os dois lados da mesma moeda. As grandes empresas no Brasil nunca lucraram tanto como nos últimos cinco anos. Agora, com a crise que as afeta principalmente por não terem feito reservas querem socializar o prejuízo com os trabalhadores. Na condição de vice-presidente da UGT vou sugerir para os companheiros que façamos uma campanha para que se estabeleça em 2009 um ano de estabilidade para os setores em crise, que tenham usado ou queiram ter o direito de usar dinheiro público durante a crise.

Leia mais: Produção industrial sentiu os efeitos da crise financeira global e caiu 5,2% em novembro em relação a Outubro.

A crise internacional caiu como uma bomba sobre a indústria brasileira, que em novembro teve o pior resultado em mais de 13 anos. A produção encolheu 5,2% ante outubro, o maior recuo desde maio de 1995, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os recordes negativos se avolumaram no cenário de reversão brusca para o setor. A queda de 6,2% ante novembro de 2007 foi a maior ante igual mês de ano anterior em sete anos. A indústria de veículos automotores despencou 22,6% ante outubro, o maior tombo em 17 anos.

"Houve um aprofundamento da queda industrial e alargamento dos setores atingidos", avaliou o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales.

Para ele, os resultados "mostram a excepcionalidade desse momento que atinge a indústria, que é mais intensa em bens duráveis e intermediários, mas se espalha para outros setores e tem a ver com a mudança de cenário na economia mundial, que deteriorou, no Brasil, as expectativas de empresários e consumidores".

Sales destacou a rapidez na piora do desempenho da indústria. Ele exemplificou que, levando em consideração a série com ajuste sazonal (dados ante o mês anterior), houve um recuo acumulado de 7,8% na produção em outubro e novembro, muito intenso para um período tão curto. Segundo ele, uma queda dessa magnitude só ocorreu no período de outubro de 2002 a junho de 2003, ou seja, um tempo muito maior. "Esses dados dão ideia da alteração brusca de cenário sobre o fluxo de produção", disse.

CRÉDITO — O mesmo crédito que vinha impulsionando a indústria desde 2007 foi o principal responsável pela virada em novembro. A produção de bens de consumo duráveis foi, das quatro categorias de uso pesquisadas, a que teve maior impacto, com recuo de 20,4% ante outubro e 22,1% ante novembro de 2007 - mais um destaque negativo, já que queda maior só ocorreu em maio de 1999.

Sales atribui o desempenho do setor de bens duráveis ao fato de ser mais sensível à redução do crédito. A queda foi puxada especialmente, na comparação com novembro de 2007, pelos automóveis (-34,2%). Segundo ele, esse setor foi o mais afetado pela súbita restrição de crédito. Isso desencadeou efeitos como férias coletivas e redução da produção. Houve queda também em eletrodomésticos (12,9%) e celulares (4,6%). (Leia mais no Estadão)

No caso dos veículos automotores (que inclui caminhões e jipes), o coordenador do IBGE observou que a queda na produção "tem um encadeamento com vários setores industriais, como o de autopeças e de aço".

Segundo ele, o desempenho nesses segmentos contribuiu para os resultados ruins na produção de bens intermediários - categoria de maior peso na estrutura industrial, que inclui aço, alimentos, têxteis -, com queda de 3,9% em novembro ante outubro e de 7,5% ante novembro de 2007, sob o impacto também da desaceleração das exportações.

Até mesmo os bens de capital, que vinham puxando a indústria junto com os duráveis e pareciam impermeáveis ao início da deterioração industrial, já apurada nos dados do IBGE de setembro, mostraram forte desaceleração em novembro, com queda de 4% ante outubro, apesar do aumento de 3,6% na comparação com novembro de 2007. (Leia mais no Estadão)

Skaf sugere redução da jornada para evitar alta do desemprego

O que temos que colocar com clareza nas negociações é que os trabalhadores e a UGT em particular não aceita redução de jornada com redução de salários. Se é esse o bode que os empresários querem colocar na sala, já é bom que se saiba que caso venham com propostas espúrias, deixando o prejuízo apenas para os trabalhadores que vamos exigir estabilidade por um ano para todos os empregados das empresas que dependerem de empréstimos públicos.

Leia mais: Paulo Skaf (Fiesp) não recebeu com surpresa a queda da indústria em novembro, assim como também prevê índices ruins em dezembro e no primeiro trimestre deste ano. Para evitar o desemprego, sugere a adoção da redução da jornada com diminuição de salários. Além disso, uma forte redução dos juros. "Não sei por que tanta cerimônia para baixar o juro. Estamos sob ataque de uma crise internacional."

FOLHA - O sr. recebeu com surpresa o resultado da indústria?

PAULO SKAF - Não foi nenhuma surpresa. Quando saiu o resultado de outubro, tínhamos previsto esse índice negativo de novembro. Já sentíamos o efeito da crise internacional. Primeiro, o crédito sumiu e agora começa a reaparecer, mas a um custo muito mais elevado. Não foi à toa que muitas empresas deram férias coletivas. O resultado de dezembro da indústria também será ruim, assim como o de janeiro. A expectativa é de um primeiro trimestre muito difícil.

FOLHA - O sr. teme o aumento do desemprego?

SKAF - Temos que aguardar. A melhor providência a tomar agora é a redução da jornada de trabalho em 20% com a respectiva redução do salário. Isso aumenta a possibilidade de manutenção do emprego. Para atenuar esse problema de ociosidade, estamos oferecendo às empresas um grande pacote de cursos técnicos do Senai de São Paulo para os empregados se especializarem nesse tempo em que tiverem suas jornadas de trabalho reduzidas. Inicialmente são 100 mil vagas adicionais que estamos disponibilizando para diversos cursos, mas podem ser mais. Essa possibilidade de redução de jornada já está prevista em lei e só depende de um acordo das empresas com os sindicatos. Não depende de mudança constitucional nem de flexibilização da legislação trabalhista. O momento é de trabalhar um pouco menos. O trabalhador pode até ganhar um pouco mais quando acabar essa fase de crise. Essa medida não elimina o risco do aumento de desemprego, mas diminui muito.

FOLHA - O que o governo pode fazer para conter a crise?

SKAF - O governo poderia, por exemplo, reduzir impostos, alongar os prazos de pagamento dos tributos e pagar os créditos de ICMS das empresas exportadoras. São medidas mais do que justas. O governo passou os últimos anos aumentando os impostos e apertando os prazos de pagamento, e agora é hora dar um fôlego para as empresas. Mas o foco deve ser o crédito. A redução dos juros e do "spread" (diferença entre a taxa de captação e a cobrada pelos bancos nos empréstimos) é essencial. Não adianta o crédito reaparecer a um custo que pode quebrar as empresas. O que se espera é que o Banco Central baixe a Selic (taxa básica de juros) de forma significativa. (Mais informações na Folha)

Adequação à demanda gera série de acordos entre empresários e funcionários

Começa em Manaus o balão de ensaio de uma situação que deve se alastrar pelo resto do País. Por isso, vamos sugerir uma reunião estratégica especial para tratar das negociações entre trabalhadores e patrões. Como você pode ler a seguir, a Philips vai suspender o contrato de 460 empregados, que passarão a receber seguro desemprego pago pelo governo e afirma que vai complementar os salários. É balela. Na verdade o que vai ocorrer é o contrário, é o governo federal que complementará os salários com recursos do seguro desemprego. A contrapartida que se deve negociar nesta situação, caso se torne uma proposta ampliada para os demais setores, é a garantia de recontratação dos trabalhadores que tiveram o contrato suspenso ao fim dos cinco meses. Ou a estabilidade por um ano, para todos.

Leia mais: Com o fim das férias coletivas de dezembro na indústria, sindicatos e empresas já negociam acordos para ajustar a produção à nova realidade de demanda na economia. É o que mostra a reportagem de Lino Rodrigues e Rodrigo Silva, publicada na edição desta quarta-feira de O Globo.

No Polo Industrial de Manaus, o Sindicato dos Metalúrgicos fechou ontem com a Philips um acordo pelo qual 460 dos seus 1.700 empregados terão suspenso o contrato de trabalho até abril, período em que receberão o seguro-desemprego, sendo que o valor dos salários será complementado pela empresa.

Um acerto ainda mais amplo foi fechado na terça-feira com grandes fabricantes de motos, também em Manaus.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, os 22 mil empregados dos 19 fabricantes de motocicletas terão a jornada de trabalho reduzida para três dias por semana. Com início previsto para esta quarta-feira, o acordo deve vigorar até 15 de abril. Valdemir Santana, presidente do Sindicato, disse que não haverá diminuição de salário e que as empresas se comprometeram a não demitir nesse período.

Para não reduzir os salários, as empresas receberam incentivos fiscais dos governos federal (que estendeu às motos redução do IPI semelhante à concedida aos automóveis) e estadual, que zerou o ICMS dos fabricantes e o IPVA aos proprietários de motocicletas. (Leia mais em O Globo)

FGTS terá até R$ 2,7 bi extras para habitação

Como sempre, o governo federal injetando recursos dos trabalhadores para manter a economia aquecida e para gerar empregos na construção civil, altamente estratégica para o País.

Leia mais: Montante corresponde à estimativa de aumento da arrecadação líquida em 2008, segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi

Orçamento do fundo para o setor habitacional já tem R$ 11,9 bi garantidos para 2009 e deve passar por reformulação, diz ministro

Dados preliminares da arrecadação líquida do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) apontam para aumento de R$ 2,7 bilhões nos recursos recolhidos das empresas no ano passado em relação a 2007, já descontados os saques realizados pelos trabalhadores. Com base nos números, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) disse ontem à Folha que o fundo deverá destinar esse adicional prioritariamente para a habitação neste ano.

"O FGTS terá uma margem de aplicação maior para este ano, colaborando principalmente com o setor da habitação", disse o ministro, acrescentando que, nos próximos meses, o orçamento aprovado para as aplicações do fundo passará por uma reformulação. No já aprovado, o setor habitacional tem garantidos R$ 11,9 bilhões -18% a menos que o autorizado no início de 2008.

De acordo com relatório apresentado pelos técnicos ao ministro ontem, de janeiro a novembro do ano passado, a arrecadação do FGTS alcançou R$ 43,5 bilhões. Em todo o ano de 2007, ficou em R$ 41,6 bilhões. Já os saques promovidos pelos trabalhadores nos 11 meses de 2008 chegaram a R$ 37,4 bilhões, contra R$ 38,4 bilhões ao longo dos 12 meses de 2008.

Com isso, a arrecadação líquida até novembro ficou em R$ 5,9 bilhões. Portanto, o resultado preliminar já é 84% superior ao verificado em 2007 -R$ 3,2 bilhões. "E ainda está faltando dezembro. Esses recursos serão direcionados aos poucos ao orçamento deste ano", afirmou Lupi.

Ele disse que não será só o FGTS que registrará bom desempenho em 2008. A expectativa é que o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) também apresente resultado superior ao de 2007, permitindo mais recursos para investir em micro e pequenas empresas.

"O FAT deverá ter um bom resultado e significa mais dinheiro para o BNDES emprestar às empresas. Queremos vincular essa aplicação principalmente a pequenas empresas, que são responsáveis por mais de 60% dos empregos", afirmou o ministro. (Leia mais na Folha)

IPC fecha 2008 em 6,2%, maior taxa desde 2004

Com o sobe-e-desce das commodities, as quebras de safras e a alta dos aluguéis, a inflação no ano passado para as famílias paulistanas com renda de até 20 salários mínimos foi a maior desde 2004.

O IPC (Índice de Preços ao Consumidor), elaborado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), fechou 2008 em 6,16%. Apesar da alta no ano, em dezembro os preços se desaceleraram e o índice registrou avanço de 0,16% -foi a menor taxa em 14 meses.

Antonio Evaldo Comune, coordenador do índice, diz que o IPC parou de subir com força em dezembro porque os preços dos alimentos caíram. A alimentação, que tem quase 23% de peso no orçamento das famílias nessa faixa de renda, caiu 0,54% no mês passado. Em 2008, o grupo subiu 9,01%, mas nos últimos seis meses a alta foi de 0,68%.

A queda dos preços das commodities impediu que a inflação fechasse o ano em um patamar acima de 6,5%, segundo Comune.

Comune prevê que o IPC encerre este ano em desaceleração e que o índice registre aumento de cerca de 5%. Para o especialista, com a retração do crescimento global, as cotações das commodities não têm fôlego para repetir a escalada de preços do início do ano passado. O dólar, entretanto, deve pesar mais no índice. (Leia mais na Folha)