quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Timidez do Copom na redução da Selic serve aos interesses dos banqueiros e especuladores

Redução do juro básico em 1 ponto é a maior desde 2003

(Postado por Arnaldo Benedetti, Secretário de Relações Internacionais e presidente do Sindicato dos Bancários de Ribeirão Preto e região) Como bancário acompanho a vergonhosa lucratividade dos bancos apoiada em juros altíssimos. Por isso, posso afirmar com tranquilidade que o Banco Central poderia ter baixado em pelo menos dois pontos porcentuais a taxa Selic. Esperamos, apenas, que no mês de Fevereiro abaixe mais um ponto. A UGT se manifesta contra a redução em um ponto porque tem consciência de que pode abaixar mais, com rapidez, a favor da economia brasileira, da proteção do mercado interno e dos empregos.

Leia mais: O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, efetuou a mais ousada redução da taxa básica de juros da economia desde novembro de 2003. Ontem, os membros do órgão reduziram a Selic em 1 ponto percentual, levando-a para 12,75% ao ano. A decisão, sem viés, foi tomada por cinco votos a favor e três votos pela redução da taxa em 0,75 ponto. A ata da reunião será divulgada em 29 de janeiro, próxima quinta-feira. Um novo encontro do Copom está marcado para os dias 10 e 11 de março de 2009.

O professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Alexandre Assaf, afirma que essa foi a reunião do Copom com maior pressão da sociedade, já que até mesmo a classe trabalhadora foi às ruas pedindo uma queda da Selic. No entanto, apesar de considerar positiva a ousada a redução, o acadêmico ressalva que ainda não é suficiente para dinamizar a economia no meio da crise. "Se o BC resolvesse manter os juros para reafirmar sua autonomia eles estariam declarando guerra ao governo e a sociedade. Porém, mesmo com esse corte a influência perante a crise ainda é pequena", avalia .

De acordo com Assaf, o grande papel dessa redução é o aspecto psicológico. "No otimismo até pode ajudar, desde que o Meirelles não venha com aquela ata dizendo que não cortará mais os juros. Essa crise de hoje é um problema mais de medo, portanto, deve motivar", acrescenta.

José Goés, economista da Wintrade, afirma que o Banco Central iniciou um ciclo de afrouxamento monetário agressivo, com a redução da Selic, tendo em vista o atual quadro de deterioração da atividade econômica. Goés afirma também que, apesar da desvalorização do real, as expectativas em torno da inflação "se aproximam do centro da meta, visto que o Relatório Focus desta semana já projeta um IPCA de 4,8 % em 2009". Segundo ele, a previsão é de alerta para os primeiros meses do ano. "Os indicadores apontaram para uma retração do PIB no último trimestre de 2008, e a situação deve se prolongar nos três meses de 2009", conclui.

Setor produtivo — O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, considerou um avanço a decisão do Copom. Ele pondera, contudo, que haveria espaço para o Banco Central ser mais ousado. "A melhor sinalização de que há preocupação em evitar uma recessão no País seria reduzir a Selic em 2 pontos percentuais", disse.

Na mesma linha, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), condena a decisão do Copom. Segundo o presidente da UGT, Ricardo Patah, "a taxa Selic deveria ter uma redução de 2 pontos". Já Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que "o Copom demonstra que a política monetária brasileira mudou. Esperamos, entretanto, que esta queda seja o início de um rápido processo capaz de tornar os juros no Brasil equivalentes às taxas praticadas em todo o mundo. O ideal é chegarmos, o quanto antes, a 8% ou 9%". (Leia mais no DCI) 

Centrais fazem ato por redução da taxa de juros — A manifestação das centrais sindicais ontem pela manhã em São Paulo reuniu cerca de 1.300 pessoas na avenida Paulista, em frente ao Banco Central, segundo a Polícia Militar, e entre 5.000 e 10.000 trabalhadores de acordo com as entidades que organizaram o movimento. O protesto era contra demissões devido à crise econômica e pela redução da Selic em dois pontos percentuais.

Os representantes das centrais que se revezaram nos discursos orientavam os sindicalistas a fazer greve em todas as empresas em que houver demissão. "É hora dos empresários devolverem o lucro", afirmou Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores). "Na próxima [manifestação], se os juros não caírem, vamos invadir o Banco Central", ameaçou Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.

Em Brasília, os sindicalistas organizaram um churrasco em frente à sede do BC. Pouco menos de cem pessoas participaram do protesto, onde foram exibidas faixas com frases como "cai [sic] os juros ou cai [o presidente do BC, Henrique] Meirelles". Do carro de som, sindicalistas fizeram elogios a políticas sociais do governo federal, como o Bolsa Família, mas criticaram o BC e os bancos, inclusive os públicos, pelas altas taxas de juros.

Houve manifestações também em outros Estados, como Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Amazonas, Bahia, Sergipe e Espírito Santo. Em alguns locais, funcionários fizeram bloqueios nas entradas das fábricas e paralisações. Houve ainda um abaixo-assinado pedindo a redução dos juros. (leia mais na Folha)

Lupi vê sinais de melhora no emprego em janeiro

Ao contrário do ministro Lupi, não vejo nenhuma melhora no emprego em Janeiro. Respeito o otimismo do ministro, mas no setor bancário, por exemplo, com a fusão do ABN com o Banespa corremos o risco de perder dez mil postos de trabalho. Estamos negociando, pressionando, mas temos contra nós a arrogância dos banqueiros, que assim como os usineiros, estão acostumados a impor, unilateralmente, suas vontades, sem considerar a opinião pública ou mesmo as vontades do governo. Até que quebram e vêm correndo buscar ajuda (e conseguem, infelizmente) nos cofres públicos.

Leia mais: O ministro Carlos Lupi (Trabalho) afirmou ontem que dados preliminares sobre o mercado de trabalho formal em janeiro já apontam para a recuperação de alguns setores da economia, como agricultura, serviços e construção civil. Segundo o ministro, a indústria de transformação ainda não mostrou melhora, sendo o setor mais preocupante.

Apenas o setor automotivo, disse ele, vem apresentando dados mais positivos no mês e por isso os empresários do ramo deveriam ter mais "sensibilidade social". "Algumas demissões são inexplicáveis.

O setor automobilístico, por exemplo, com a redução do IPI, voltou a vender. Se tivesse paciência de esperar mais 15 ou 20 dias, não precisava demitir. Parte do empresariado tem que entender que nem todo dia é dia de lucro", disse o ministro, em tom de crítica.

Segundo ele, o setor de serviços começa a responder por conta das férias escolares e o movimento nos segmentos de hotelaria, por exemplo. "Isso sempre ocorre em janeiro. Da mesma forma que as férias geram demissões em outros setores", completou.

Sem flexibilização — Lupi demonstrou apoio às manifestações de trabalhadores contra demissões e descartou qualquer flexibilização das leis trabalhistas, argumentando que "o trabalhador não pode pagar a conta de uma crise que ele não criou".  "É um direito dos trabalhadores se manifestar para manter empregos. A redução de juros é um ponto muito importante para isso", declarou horas antes da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que baixou em um ponto percentual a taxa básica de juros Selic. (Leia mais na Folha)

Centrais acusam áreas não afetadas pela crise de flexibilizar direitos do trabalhador

Sou contra a flexibilização pois é sempre proposta por setores patronais interessados em prejudicar os trabalhadores. Nunca vi uma proposta que flexibilizasse para gerar algum benefício. Atualmente, os patrões se aproveitam da crise (que muitas vezes nem atingiu o seu setor) para demitir primeiro e propor flexibilização depois. Eliminando postos de trabalho e jogando contra os interesses do Brasil.

Leia mais: Dirigentes das principais centrais sindicais do país acusam empresários de setores que não foram atingidos pela crise de aproveitar o momento para flexibilizar direitos dos trabalhadores. Eles citam as áreas de energia elétrica e de cimento, as montadoras de veículos e os bancos.

O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, classificou a atitude das empresas de chantagem.

- Até certo ponto, pode-se colocar como uma chantagem empresarial - disse Patah à imprensa, antes de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar das demissões.

Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, considera oportunismo dos empresários as alegações de que necessitam reduzir a jornada de trabalho e os salários. Os sindicalistas defendem jornada menor desde que não haja alteração de salários.

- [Isso] coloca por terra a tese dos empresários de que no Brasil é difícil demitir. Se fosse difícil demitir, a gente não tinha tanto trabalhador demitido em 2008 - afirmou Henrique, referindo-se aos dados do Ministério do Trabalho que revelaram o fechamento de 654 mil postos de trabalho em dezembro do ano passado, o dobro da média para esse mês. (Leia mais em O Globo)