segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Spread de 45% é furto e deve ser combatido e punido pelo bem do Brasil

Spread ideal seria de 17,75% ao ano, diz Anefac, mas taxa está em 45%

Não sabemos se o ideal seria uma taxa de 17,75% ao ano, mas o que temos certeza é que os 45% é uma agiotagem deslavada. Um caso de investigação e punição legal, por agirem à luz do dia contra os interesses do País. Chega de agiotas. Isso é furto qualificado e deveria ter a cadeia como punição.

Leia mais: O spread bancário, que é a diferença entre a taxa paga pela instituição financeira para captar recursos e os juros finais cobrados ao consumidor, está na mira do governo. Isto porque, se essa margem dos bancos cair, as linhas de crédito ficam mais baratas. Mas qual seria o spread ideal no Brasil? A média hoje é de 45,1% ao ano. Mas, segundo reportagem publicada na edição desta segunda-feira do jornal O GLOBO, a taxa mais conveniente seria de 17,75% ao ano, em média, cinco pontos percentuais acima da taxa básica de juros (a Selic), hoje em 12,75% anuais. É que mostra estudo feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) a pedido do jornal. Dessa forma, o custo ao fim do pagamento das prestações em modalidades como cartão de crédito e cheque especial teriam um alívio de quase 82%, apontam cálculos de especialistas.

Economistas ponderam, no entanto, que esse spread tido como ideal poderia aumentar o nível de inadimplência, principalmente, em linhas consideradas emergenciais, como o cheque especial, já que o brasileiro não tem o hábito de poupar. Porém, há quem acredite que o fomentador do calote é o alto custo do dinheiro. O spread médio de 41,5% ao ano em operações para as pessoas físicas, e os juros reais (acima da inflação), em 7,6% anuais, são hoje os maiores do mundo. (Leia mais em O Globo)

Com R$ 90 bi, Banco público avança no crédito

R$ 90 bi é pouco, muito pouco. Tem espaço para maior crescimento da oferta de crédito dos bancos públicos para fazer com que o crédito chegue até as micro e pequenas empresas. É hora de o  Estado brasileiro aproveitar para ocupar espaços cedidos pela iniciativa privada por mais absoluta falta de bom senso comercial dos banqueiros, acostumados e viciados ao longo de décadas a viver na dependência de ganhos com cirandas financeiras e com juros altos.

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O aprofundamento da crise global, a partir de setembro, fez as instituições financeiras públicas avançarem sobre o crédito total da economia, tomando espaço dos bancos privados e dos estrangeiros. Em dezembro de 2007, os empréstimos concedidos por entidades controladas pelo Estado - como o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal - representavam 34,1% do crédito no País. Em dezembro de 2008, a participação havia crescido para 36,2%. A tendência, dizem analistas, deve se manter em 2009.

Uma projeção do economista Luís Miguel Santacreu, da Austin Rating, feita a pedido do Estado, indica que a fatia pode chegar a quase 38% no fim deste ano. Em valores, são quase R$ 90 bilhões. Santacreu espera que os bancos privados coloquem no mercado mais R$ 74 bilhões. Há um detalhe a observar nesses números: embora a parcela do crédito privado seja maior que o público (42,8% ante 36,3% em dezembro), os bancos comandados pelo governo devem despejar mais dinheiro na economia este ano do que as instituições privadas.

Para analistas, é natural que, em meio à mais grave crise global desde os anos 30, que praticamente congelou o mercado de crédito, o Estado ajude, extraordinariamente, empresas e pessoas físicas a obter empréstimos. Uma ação elogiada pelos especialistas nesse âmbito é o uso das reservas internacionais para financiar o comércio exterior - anunciado quinta-feira pelo Banco Central (BC).

O problema é que o governo deixou claro, tanto em discursos públicos quanto nos bastidores, que fará de tudo para estimular a economia em 2009 por meio da expansão de empréstimos. Se já não bastasse isso, colocou o BB e a Caixa na linha de frente da batalha pela redução de juros e spread (diferença entre a taxa de juro pela qual o dinheiro é captado e a cobrada no empréstimo).

As autoridades acreditam que tal movimento induzirá os bancos privados a seguir o mesmo caminho. No entanto, segundo analistas, a tática traz riscos nada desprezíveis para a saúde das instituições envolvidas (BB, Caixa e BNDES) e, por extensão, para o bolso do contribuinte, que pode ter de arcar com eventuais prejuízos que estourem lá na frente. (Leia mais no Estadão)

Demissão afeta um terço dos lares em SP

Essa pesquisa precisa ser refeita. Pelo menos não é o que percebemos no setor de comércio e serviços. Além disso, se fossem essas as dimensões do desemprego, o IBGE já teria registrado nas suas pesquisas. Temos que tomar cuidado com os alarmistas de plantão.

Leia mais: Pesquisa Datafolha revela que ao menos um trabalhador perdeu o emprego em 31% das casas nos últimos seis meses. Para 41%, desempenho do presidente Lula no combate ao desemprego é ótimo ou bom; para 22%, atuação tem sido ruim ou péssima.

Em um terço dos lares da cidade de São Paulo, ao menos um trabalhador perdeu o emprego nos últimos seis meses, segundo pesquisa Datafolha realizada entre os dias 3 e 4 de fevereiro. Dos entrevistados, 8% apontam que ele próprio foi dispensado -4% tinham carteira assinada- e outros 24%, que foi alguém no domicílio.

A crise internacional também aumentou o temor de perda do emprego: 31% dos entrevistados disseram que tinham algum risco ou grande possibilidade de serem mandados embora. Em setembro de 2006, o percentual era menor, de 22%. Mas, apesar da maior insegurança, no total da amostra, 66% dos moradores da cidade dizem que não correm risco.

Para Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp, a percepção de estabilidade no emprego é mais recorrente nas classes A e B. Entre os que têm ensino superior, 4% dizem que correm grande risco de serem demitidos, dado que sobe a 9% nas respostas de quem concluiu só as séries fundamentais.

O Datafolha revela ainda que o desemprego atingiu com mais força as casas das famílias de menor renda. Dos que pertencem às classes D e E, 40% dizem que alguém no lar perdeu o trabalho há até seis meses.

O diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), Clemente Ganz Lúcio, pondera que a rotatividade no mercado brasileiro é elevada e que os dados da pesquisa não são alarmantes. Principalmente porque, para os que têm menor qualificação, a rotatividade é ainda mais comum. Mas ele destaca que os números que apontam o aumento do desemprego no país não podem ser atribuídos só à sazonalidade. "As pessoas vinham conseguindo encontrar outro trabalho. O risco é que o ritmo de geração de empregos se altere e que não encontrem mais."

O Datafolha também perguntou aos entrevistados se aceitariam reduzir o salário para garantir o emprego, proposta que embasa diversos acordos acertados no país nas últimas semanas na esteira da crise. Cerca de metade (47%) aceita a flexibilização. Entre os que têm menor renda (classes D e E), o percentual atinge 55%.

Amauri Mascaro Nascimento, professor da Faculdade de Direito da USP, argumenta que os trabalhadores que se sentem mais expostos à crise tendem a aceitar a redução de salário. "A crise não bate de frente para pessoas das classes A e B, que têm reservas nos bancos e conhecem o caminho da Justiça do Trabalho. A crise bate nos que têm como único patrimônio o salário da empresa."

No levantamento, o Datafolha questionou os paulistanos sobre os culpados pelo aumento do desemprego. Cerca de um quinto respondeu que a culpa é do governo federal ou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, os paulistanos apontaram a crise (9%) e o governo, sem especificar (7%). (Leia mais na Folha)

"Onda" protecionista é a nova ameaça, alertam economistas

As recentes medidas incluídas no novo pacote de incentivos de Barack Obama, as novas barreiras aos produtos chineses na União Europeia e a tentativa fracassada do Brasil de burocratizar a entrada de itens importados trazem à tona o temor de uma onda protecionista global. Segundo economistas, o cenário já está ficando claro e esse fenômeno pode agravar ainda mais os efeitos da crise.

Na opinião do ex-ministro e professor Delfim Netto, "já tivemos alguns ensaios importantes, tanto na Europa como nos Estados Unidos, onde ressurgiu o buy american (compras de governo só de empresas americanas, com abertura para canadenses e mexicanos), mas respeitando os tratados de comércio. Essa ressalva mostra que, apesar da necessidade política e das pressões lobistas, a sociedade reage mal à ideia de proteção a setores escolhidos pelo governo simplesmente". Segundo ele, os trabalhadores não parecem dispostos a apoiar medidas protecionistas sem antes discutir muito as consequências no mercado de trabalho, porque cedo ou tarde, os demais países vão reagir e todos vão sofrer com o desemprego causado pela queda da atividade econômica e a redução do movimento do comércio mundial.

"Mas foi um mal começo e já foram aprovados 'penduricalhos' no pacote de socorro financeiro estabelecendo a exclusividade de uso dos produtos siderúrgicos americanos nas obras de infraestrutura sugeridas para combater o desemprego. E parecem que estão surtindo efeito as pressões para aumentar a proteção nos setores agrícolas e da energia. De outro lado, uma observação do presidente Barak Obama nos dá algum alento, quando ele pediu aos líderes da indústria e congressistas que não se esquecessem que a crise de 1929 [que jogou o mundo numa recessão por três anos] foi agravada com medidas protecionistas", comenta Delfim.

Na opinião do presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), Abram Szajman, as emendas protecionistas que congressistas norte-americanos têm trabalhado para incluir no pacote econômico de Obama são uma ameaça à economia do mundo. "Protecionismo não é remédio, e sim veneno. Pode aliviar o desemprego em um dado país, num momento determinado, mas piora a situação global", avalia Szajman. Para ele, as barreiras comerciais representam um novo obstáculo à realização de uma nova Rodada de Doha, emperrada em sucessivas discussões em sete anos.

Segundo o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, o protecionismo não é o responsável pela recente queda da balança comercial brasileira. No entanto, para ele, "a tentativa de cada país de resguardar sua indústria doméstica acaba por reduzir os fluxos de comércio e acrescentar um novo elemento contracionista em uma economia mundial já em queda. Além disso, a crise atual nada tem a ver com o comércio internacional, portanto, restrições como essa em nada colaborarão para sua superação", afirma. (Leia mais no DCI)