segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sempre que o movimento sindical se une, o Brasil avança

Centrais sindicais realizam manifestações em todo o País

Sempre que o movimento sindical se une, o Brasil avança. Foi assim na Constituinte, quando entre outras conquistas, emplacamos as 44 horas semanais, apesar dos discursos patronais contra. Na época avançamos, também, na liberdade das entidades sindicais. Agora, iniciamos uma nova etapa, após o reconhecimento das centrais sindicais. A unidade agora sustenta intervenções diretas no Congresso Nacional, no relacionamento com o Poder Executivo e na mobilização e ampliação da organização dos trabalhadores. A última manifestaão do dia 14 é, na prática, um novo exemplo de que estamos preparados para avançar. Porque a redução da jornada para 40 horas semanais, sem redução de salários e com um controle das horas extras vai gerar mais de dois milhões de novas vagas. Ou seja, mais emprego e muito mais inclusão social. Além de significar uma melhor qualidade de vida para a família trabalhadora, pois sobrará mais tempo para os pais estarem junto com os filhos, apostando na educação e na orientação.

Leia mais: As centrais sindicais Força Sindical, CUT, NCST, UGT, CTB e CGTB, além de diversas organizações de movimentos sociais realizam hoje ato público em diversas capitais do País contra as demissões e pela redução de jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem redução dos salários. No Grande ABC, o ato será realizado a partir das 6h na estação ferroviária de Mauá.

Em São Paulo, a manifestação acontecerá a partir das 10 horas, com concentração na Praça Oswaldo Cruz, seguindo, a partir daí, pela Avenida Paulista rumo ao vão livre do Masp. Nesse percurso, os manifestantes prometem fazer duas paradas - uma em frente ao prédio da Petrobras e outra defronte à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

"Pretendemos reunir na Avenida Paulista cerca de 3.000 pessoas em nosso dia nacional de luta em defesa do trabalhador", disse o presidente estadual da Força Sindical, Danilo Pereira da Silva.

Segundo as Centrais Sindicais, em diversas regiões do Estado, sob coordenação regional das entidades, haverá panfletagens, comícios, atos públicos e passeatas para marcar a posição dos trabalhadores contra a crise.

De acordo com pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a redução de jornada geraria 2,5 milhões de novos postos no País, além de permitir ao trabalhador dividir o seu tempo entre trabalho, estudo e família. (Leia mais no DGABC)

Mercado interno também ameaçado

Essa é a tecla que a UGT bate desde o primeiro dia de crise. O mercado interno brasileiro, sustentado pelos salários e renda dos trabalhadores, ajudou a criar uma defesa do Brasil na crise mundial. Todo mundo reconhece. Mas alguns empresários, agindo contra a Pátria, adotam o caminho do lucro a qualquer preço e criam estratégias para apostar na rotatividade de mão-de-obra combinada com a redução de salários. O que já significa prejuízo para a classe trabalhadora e para o mercado interno.

Leia mais: Massa salarial há cinco meses em queda tira fôlego para o país sair da recessão

O encolhimento da massa salarial, cujo crescimento vem sendo fundamental para sustentar o consumo neste período de crise, começa a preocupar, adverte o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar de o nível dos rendimentos no primeiro semestre permanecer 4,2% acima do apurado no mesmo período de 2008, a margem de diferença vem caindo, tendo passado de 5,9%, em janeiro, para 3%, em junho.

Entre janeiro e maio, houve quedas contínuas na massa salarial. "Nos últimos anos, não há registro de queda do rendimento que tenha persistido por tanto tempo", destaca o Boletim de Mercado de Trabalho do Ipea.

De acordo com o pesquisador Lauro Ramos, editor da publicação, talvez o mercado de trabalho esteja chegando ao limite de sua capacidade de suportar a crise: "Os dados sugerem um possível desaquecimento do consumo das famílias, o que poderia dificultar a recuperação da economia e do próprio mercado de trabalho", observou.

Ramos, no entanto, avalia que a queda na renda "não foi espantosa". Para ele, parte desse recuo pode ser debitado à dificuldade crescente dos trabalhadores para negociar reposições inflacionárias, embora a inflação esteja baixa.

"Existe também algum grau de rotatividade fazendo com que trabalhadores demitidos aceitem outro emprego com salário menor", salientou.

Ramos reconhece ainda que a queda da massa salarial não ocorria há algum tempo: "Mas os resultados não foram ruins", relativiza.

No entanto, o boletim do Ipea também chama a atenção para o fato de que o nível da massa salarial no segundo trimestre é inferior ao registrado no último trimestre de 2008. (Leia mais no Monitor Mercantil)

BNDES tem desembolso recorde em sete meses

Maior agente financiador do País, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 33,2 bilhões somente no mês de julho. Quase dois terços desse montante foi alocado em projetos industriais (R$ 21,7 bilhões). O incremento elevou os desembolsos do banco nos primeiros sete meses do ano para R$ 75,1 bilhões, um resultado recorde, 65% superior ao do mesmo período do ano passado.

"Depois dos resultados ruins do primeiro trimestre do ano, verificamos que a decisão de investimento na indústria mudou. As empresas, que estavam em compasso de espera, voltaram a procurar o banco. Já vínhamos notando isso desde abril, mas em julho o saldo foi muito bom", afirmou o chefe do Departamento de Orçamento do BNDES, Gabriel Visconti.

A indústria foi responsável por 53% do volume de recursos liberados de janeiro a julho e ultrapassou o setor de infraestrutura, com o qual vinha dividindo, quase meio a meio, a hegemonia na destinação da verba do BNDES. No período, foram desembolsados R$ 39 bilhões para o setor industrial (112% a mais do que em 2008), enquanto a infraestrutura respondeu por R$ 25 bilhões.

O banco - que inaugurou hoje um novo procedimento de divulgação de resultados também durante os fins de semana - já trabalha com a possibilidade de encerrar 2009 com um nível de financiamentos superior a R$ 120 bilhões. Foram aprovados nos primeiros sete meses do ano projetos que totalizaram R$ 87 bilhões e em 12 meses, de agosto de 2008 a julho de 2009, os financiamentos liberados chegaram a R$ 122 bilhões. (Leia mais no Estadão)

Empréstimo em banco público cresce 29,7%

O volume mensal de crédito concedido pelos bancos públicos cresceu 29,7% entre agosto de 2008 e junho de 2009 no País, variação porcentual quase quatro vezes superior ao aumento de 7,51% do crédito liberado pelos bancos privados no período. Os dados constam no levantamento do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), feito a partir de dados do Banco Central (BC) e obtido pela Agência Estado.

Em agosto do ano passado, mês anterior ao agravamento da crise mundial, os bancos públicos liberaram R$ 380,32 milhões em crédito, volume que cresceu em todos os meses seguintes, até atingir R$ 493,42 milhões em junho deste ano. Já o crédito concedido pelos bancos privados passou de R$ 729,7 milhões para R$ 784,83 milhões ao mês no período.

Ao contrário dos bancos públicos, a oferta dos privados recuou por dois meses seguidos, entre dezembro do ano passado e fevereiro de 2009. Já o volume total de crédito saltou 15,13%, de R$ 1,11 bilhão durante agosto no ano passado, para R$ 1,278 bilhão em junho deste ano.

Segundo o professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e coordenador do Inepad, Alberto Borges Matias, as ações tomadas pelo governo após a crise foram refletidas no levantamento e, curiosamente, contrariaram o padrão do mercado de crédito no País. "As ações do governo na crise seguiram o ritmo verificado apenas anteriormente do mercado internacional, com taxas baixas de juros e volume alto de crédito", disse Matias.

Inadimplência — Para o economista, os bancos privados não aumentaram o crédito no mesmo ritmo pelo temor de inadimplência e "por não terem o mesmo fator de empreendimento que o governo teve durante a crise", disse. "Com isso, vão perder mercado", completou. E os dados apurados junto ao BC ratificam que a participação dos bancos privados no total de crédito oferecido no País caiu de 65,75%, em agosto de 2008, para 61,4%, em junho deste no. Já a fatia dos bancos públicos cresceu de 34,25% para 38,6% no período. (Leia mais no Estadão)

Baixa renda puxa retomada da construção civil

Afetadas pela crise de crédito no final do ano passado, as empresas de construção civil voltaram a registrar crescimento nas vendas de imóveis novos e a computar lucros consideráveis no segundo trimestre de 2009.

Segundo levantamento da consultoria Economática, o setor teve lucro líquido de R$ 577 milhões no segundo trimestre, resultado 3% superior aos R$ 561 milhões do mesmo período do ano passado, ainda antes da crise e em plena expansão no setor. O estudo considerou os resultados financeiros de 16 empresas com ações na Bolsa.

Impulsionado por programas do governo federal como o "Minha Casa, Minha Vida", o aumento nas receitas do setor veio principalmente do segmento de baixa renda, o primeiro a se recuperar ainda no início do ano.

Para a corretora Brascan, as construtoras focadas na baixa renda foram as que tiveram melhor desempenho financeiro no segundo trimestre. Líder na baixa renda, a Tenda teve alta de 32% no lucro líquido, bastante acima da média de 3% do setor, na comparação com o segundo trimestre de 2008. Mas a margem de ganho líquida da empresa caiu de 9,6% para 9%, nessa comparação.

Segundo Cassio Audi, diretor financeiro da construtora Rossi, as vendas de imóveis de média e alta rendas também mostram sinais de recuperação, mas isso só aconteceu em meados do segundo trimestre. A construtora teve lucro líquido de R$ 51,2 milhões, resultado estável em relação ao mesmo período de 2008 e 79% maior do que no primeiro trimestre."Tivemos um desempenho bastante forte no segmento de baixa renda, principalmente depois do anúncio do plano do governo", disse Audi.

No levantamento da Economática, as receitas das construtoras saltaram 35,8% -passaram de R$ 3,122 bilhões para R$ 4,239 bilhões do segundo trimestre do ano passado para o mesmo período deste ano.

Apesar desse forte aumento das receitas, o setor viu encolher suas margens de ganhos operacionais. O estudo mostra que houve redução dessas margens de 22,7% para 18,7%, do segundo trimestre de 2008 para o mesmo trimestre de 2009.

Para os próximos meses, a Brascan espera melhora nas margens, com acomodação dos incentivos do governo para baixa renda e recuperação maior das vendas na alta e média rendas. (Leia mais na Folha)