segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Avançamos para 2010 com bons sinais na economia e com estímulos para resgatar empregos e salários

Consumo interno banca retomada do investimento industrial

Levantamento do Bradesco aponta que, em outubro e novembro, 167 empresas anunciaram investimentos. Setor automobilístico planeja aumentar capacidade produtiva em 2010.

O Brasil já entrou num novo ciclo de investimentos. Passado o trauma da crise, empresários de setores voltados para o mercado interno, como o automobilístico e o de eletrodomésticos, planejam aumento de capacidade produtiva que não se via desde o Plano Real. Levantamento do Bradesco aponta que, em outubro e novembro, 167 empresas anunciaram investimentos.

O ano de 2010 ainda deve ser de recuperação do investimento, por causa do desempenho mais fraco dos exportadores, mas 2011 promete ser de "febre" graças aos eventos esportivos que ocorrerão no País - Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada de 2016 -, à exploração do petróleo do pré-sal e às grandes obras de infraestrutura. Os empresários já falam de "anos mágicos" para o Brasil.

Um índice de intenção de investimentos da consultoria Tendências, elaborado com base nos anúncios de 21 setores da economia, chegou a 105,6 pontos em novembro, depois de cair para 39,5 em maio. Para o analista Bruno Resende, o indicador reflete o bom momento dos investimentos, mas também um "represamento" na crise. "Os projetos estão saindo todos de uma vez."

Entre os anúncios recentes, estão os planos bilionários de grandes empresas como Petrobrás, Vale, Coca-Cola e Gerdau, mas também investimentos pontuais como o R$ 1 bilhão da CPFL em distribuição de energia ou os R$ 443 milhões da Riachuelo na abertura de 12 lojas. Os analistas estimam uma taxa de investimento entre 18% e 18,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, acima dos 16,9% previstos para 2009.

Se isso ocorrer, o País vai recuperar o nível de antes da crise, mas será um resultado bem inferior aos 21% prometidos na Política de Desenvolvimento Produtivo como meta para 2010. O governo espera que o País invista entre 23% e 25% do PIB nos próximo anos, taxa que garantiria crescimento sustentável de 6% ao ano e tiraria o Brasil do grupo dos países que investem pouco.

"Espírito animal" — Uma série de indicadores demonstra a retomada do "espírito animal"- termo usado pelo economista John Maynard Keynes para descrever o ânimo dos empresários. No terceiro trimestre, o investimento cresceu 6,5% em relação ao segundo e puxou a alta do PIB. A demanda por financiamentos do Finame/BNDES ultrapassou o recorde de setembro de 2008. O salto foi provocado pelo Programa de Sustentação de Investimento do banco que, na prática, oferece juro real zero para financiar a compra de máquinas.

O resultado das condições camaradas de crédito foi um aumento na venda de máquinas e caminhões. "O Brasil está entrando em um novo ciclo de investimentos", diz o presidente da Romi, Livaldo Aguiar dos Santos. Uma das maiores fabricantes de máquinas do País, a Romi elevou as vendas em 55% no terceiro trimestre do ano.

De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de caminhões chegaram a 12,4 mil unidades em novembro, quase o dobro das 6,7 mil de janeiro.

Outro termômetro é o ritmo de funcionamento das fábricas. Sondagem da Fundação Getúlio Vargas aponta que, em novembro, a indústria de bens de consumo usava 86,5% da capacidade produtiva, levemente acima dos 86,3% de agosto de 2008, antes da crise, e muito acima dos 78,4% de janeiro.

Mercado interno — Para o chefe do departamento de pesquisa do BNDES, Fernando Puga, esse novo ciclo é diferente do que ocorria antes da crise, quando todos os setores planejavam expansão. "Hoje os investimentos estão concentrados nos setores voltados ao mercado interno." Outra diferença é que o governo aparece como indutor importante, graças aos empréstimos a juros baixos do BNDES e ao programa Minha Casa, Minha Vida.

Os setores beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) são os primeiros a desengavetar projetos, pois já trabalham com horas extras e sem férias coletivas de fim de ano. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse que as montadoras vão investir R$ 20 bilhões nos próximos três anos. A previsão é que seja o terceiro grande ciclo de investimento no País, após a vinda da indústria na década de 50 e a abertura de novas fábricas no Plano Real. (Leia mais no Estadão)

Governo anuncia alíquota zero de Cofins para motos e Caixa e Banco do Brasil lançam linha de crédito de R$ 3 bilhões para o setor

O governo anunciou nesta quinta-feira a retomada da alíquota zero de Cofins para as motocicletas de até 150 cilindradas, enquanto a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil lançaram uma linha de crédito de R$ 3 bilhões para a compra de motos.

A ideia é fortalecer o setor de motos, cuja frota no Brasil aumentou de 4 milhões para 14 milhões em uma década. A alíquota do Cofins será reduzida de 3% para zero entre 1º de janeiro e 31 de março. Nesse período, os fabricantes se comprometeram a manter os empregos do setor.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou que este poderá ser o último pacote de ajuda a setores atingidos pela crise.

Segundo Mantega, como a economia já voltou a crescer a um ritmo "entre 4,5% e 5%", não seriam necessários novos pacotes e o governo também não teria necessidade de prorrogar os acordos já anunciados neste ano.

- Não posso dizer categoricamente (que o pacote anunciado é o último), porque a economia é dinâmica. O que digo é que a maioria dos setores já está crescendo e pode andar com as próprias pernas - afirmou o ministro, durante evento em São Paulo.

Segundo ele, apenas o setor de motos e de móveis (beneficiado recentemente por redução de tributos) ainda não tinham se recuperado totalmente da crise.

A desoneração implica em uma renúncia fiscal de R$ 54 milhões.

Os acordos anunciados nos últimos meses pelo governo passaram a ser alvo de economistas, que entendem haver risco de comprometimento do equilíbrio fiscal no próximo ano. Em resposta a esses ataques, Mantega afirmou que "as contas públicas foram mantidas sob controle num ano de crise e estarão melhores em 2010".

- É claro que o resultado primário foi menor, mas foi melhor do que em outros países. Em 2010, vamos voltar a uma superávit fiscal de 3,3% (do PIB) - disse ele.

Brasil é o 4º maior em vendas de motos

O programa, em parceria com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo), permite o financiamento nos dois bancos, mas também no PanAmericano e na BV Financeira. O financiamento será feito diretamente nas revendedoras. A Caixa já tinha lançado uma linha de crédito de R$ 100 milhões para motocicletas em novembro.

Do montante de R$ 3 bilhões, R$ 2,8 bilhões virão das instituições financeiras, enquanto R$ 200 milhões são recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Segundo comunicado da Caixa, o foco está na oferta de motocicletas com até 150 cilindradas, nicho que responde por 90% dos veículos comercializados. Estão em estudo, ainda, alternativas para ampliar a oferta de consórcio, modalidade de pagamento que representa 32% das vendas do setor.

As motocicletas são vendidas principalmente os motoboys, profissionais que trabalham com transporte remunerado de mercadorias e documentos.

O Brasil ocupa hoje a quarta posição entre os países que mais vendem motocicletas, atrás da China, Índia e Indonésia. São onze fabricantes de motos no país.

A partir da desoneração, o setor espera crescer 14% no próximo ano, ficando mais próximo do nível de vendas registrado em 2008, considerado um ano fantástico pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo). Neste ano, a expectativa da entidade é de que o mercado apresente uma contração de 18% em relação ao ano passado. (Leia mais em O Globo)

Mesmo com crise, rendimento bate recorde em 2009, mostra IBGE

O rendimento médio da população ocupada em 2009 superou o pico da série histórica calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a despeito dos efeitos da crise financeira sobre o mercado de trabalho. Entre março e novembro, o rendimento médio foi de R$ 1.345,18, ou 0,5% superior ao recorde anterior, de R$ 1.338,61, de 2002. Computando os dados desde janeiro - o que exclui 2002 da conta, já que a série começa em março daquele ano -, o rendimento foi de R$ 1.347,83 neste calendário, o que implica 3,4% acima do recorde de R$ 1.303,51, de 2008.

" O rendimento se segurou no meio dessa confusão, principalmente devido ao reajuste do salário mínimo " , frisou Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Em novembro, o rendimento médio foi de R$ 1.353,60, também recorde para meses de novembro, mas ainda abaixo do pico de R$ 1.378,32, de julho de 2002.

Apesar dos bons resultados do rendimento, os efeitos da crise ainda são vistos no mercado de trabalho. Azeredo ressaltou a queda do nível da ocupação, que entre janeiro e novembro registrou a média de 52%, contra 52,4% no ano passado.

Na avaliação do técnico, o patamar - que é o quociente da população ocupada sobre a população em idade ativa, aquela com 10 anos ou mais de idade - mostra o impacto da crise sobre o emprego, embora a taxa de desocupação de 7,4% no mês passado tenha sido a menor para um mês de novembro desde o início da série, em 2002.

" Essa queda não é favorável e mostra uma diferença expressiva em termos de taxa, em um indicador que se mexe pouco " , ressaltou Azeredo. " O maior efeito da crise foi desacelerar o crescimento do mercado de trabalho " , acrescentou.

A taxa de desocupação média no ano ficou em 8,2% entre janeiro e novembro, contra 8% no ano passado. O principal causador da alta foi o mercado de São Paulo, onde a taxa de desemprego pulou de 8,5% nos 11 primeiros meses do ano passado para 9,3% agora, afetado pelo desempenho da indústria, que responde por 20,2% da população ocupada na maior região metropolitana do país.

" A expectativa era de que, em 2009, o crescimento (do mercado de trabalho) fosse continuar acelerado. Em função da crise, creio eu, isso não se confirmou " , destacou Azeredo. (Leia mais no Valor)

Após 8 meses, Minha Casa sai do papel em São Paulo

Jaú inaugura 50 casas do primeiro projeto do programa habitacional

André Luiz Deonízio, de 29 anos, decidiu adaptar o ditado "quem casa quer casa". Primeiro vai se mudar para a casa nova para depois começar a fazer os planos de casamento com a namorada Isabela, com quem está há três anos e meio. Na tarde de ontem, ele recebeu as chaves de uma das 50 casas do primeiro projeto habitacional do Minha Casa, Minha Vida no Estado de São Paulo, em Jaú (SP).
Cidade paulista a 297 quilômetros da capital, Jaú tem, segundo a prefeitura, um déficit habitacional que afeta a vida de 16 mil famílias, de uma população de 133.469 habitantes. São pessoas que têm de dividir a casa com outros familiares, que moram em lugares precários ou gastam mais de 30% da renda com aluguel.
Deonízio paga R$ 450 por mês entre aluguel e condomínio. Agora vai desembolsar R$ 320 pela prestação da nova casa. Assim que levantar o muro em volta da construção e tiver a instalação dos serviços de água e esgoto, pretende marcar o dia da mudança - "quem sabe antes do Ano Novo".
O técnico em enfermagem, que ganha por mês por volta de R$ 2,3 mil líquido (ele tem dois empregos na área de saúde), optou por um financiamento de 15 anos, mas pretende quitar a dívida antes disso. A casa de 48,20 metros quadrados (dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e quintal) custou R$ 61,1mil. A entrada de R$ 15 mil veio do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Outra nova mutuária é Melina Lesley Aparecido Gomes de Abreu, de 24 anos. Ela se casou com Fábio há dois anos. Primeiro moraram de aluguel. Nos últimos meses, estão vivendo na casa da sogra para economizar. Fábio perdeu o emprego de motorista de caminhão há cinco meses e se vira com bicos. O jeito foi cortar o gasto com aluguel, de R$ 300, até a mudança.
Assistente de coordenação pedagógica, Melina conta que desde que assinou o contrato com a Caixa tem acompanhado o dia a dia do novo endereço. "Tenho ido à obra desde a época em que ainda era só um terreno. Fotografei tudo."
O salário de Melina é de R$ 2 mil (bruto) e ela reforça o orçamento com bicos, como as pinturas em festas infantis e artesanatos. A previsão é que ela pague por mês uma prestação de cerca de R$ 400. "Não vejo a hora de colocar as minhas coisinhas no lugar."
O maranhense Alcivone Martins de Sousa, de 24 anos, deixou Imperatriz (MA) há quase dois anos para trabalhar na construção civil. Por mês, ele ganha em torno de R$ 800 na função de apontador da obra. Atualmente, divide o aluguel de uma casa com outros dois colegas com quem trabalha na construtora Maribondo, responsável pelo Residencial Jardim Emília II, onde vão morar Melina e André e outras 48 famílias. Apesar de ter uma casinha na cidade natal, construída com a ajuda do pai, Sousa sonha em ter um imóvel em Jaú.
"Já fiz a inscrição para o Minha Casa e espero ser selecionado no ano que vem." Com a renda que tem, ele se enquadra nos projetos para quem ganha até três salários mínimos.
Sousa é dedicado na rotina de receber o material de construção e as notas entregues pelas lojas de material. E, pelo que conta, gosta muito do trabalho. "Faço o melhor. Capricho em cada etapa. Penso que ali vai morar uma família e que um dia será a minha vez de ocupar uma daquelas casas."
Além de Sousa, participaram do projeto de Jaú outros 224 trabalhadores, entre diretos e indiretos, como conta João Ranieri, executivo da construtora Maribondo. A empresa, de São Paulo, tem outros projetos no Minha Casa espalhados pelo interior do Estado. "Hoje o imóvel mais caro custa R$ 67,3 mil", afirma Ranieri.
No caso do residencial inaugurado ontem em Jaú, foram necessários oito meses entre a assinatura do contrato e a entrega das chaves. A construtora já tinha o terreno e começou a preparar o projeto assim que soube dos planos do governo de lançar o programa habitacional. (Leia mais no Estadão)

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Consumidores vão às compras para o Natal e fim de estoques deve puxar indústria em 2010

No primeiro Natal após o estouro da crise econômica mundial - com a quebra do banco americano Lehman Brothers em setembro do ano passado - as perspectivas são de 8% a 16% de aumento de vendas do comércio no Rio, em relação ao mesmo período de 2008.

Em todo o país, a Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping Center (Alshop) estima ao menos uma expansão de 10% nas vendas, o que levará a uma alta de cerca de 12% no faturamento deste ano.

No último fim de semana antes da chegada de Papai Noel, nos corredores cheios dos shoppings e nas lojas de ruas, pais tentavam convencer os filhos a mudarem seus pedidos, já que dezenas de brinquedos sumiram das prateleiras. Segundo economistas, o aquecimento no comércio vai levar ao fim do ciclo de ajustes de estoques, promovendo um incremento de encomendas à indústria para reposição de produtos no início de 2010.

- A expectativa é de que esse ritmo cresça a partir desta segunda-feira. Como muitas empresas já estão em férias coletivas, deve haver um fluxo maior de pessoas nos shoppings. E quarta-feira deve ser o melhor dia do ano por causa do horário de funcionamento das lojas, que vai até a meia noite - diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.

Economistas creem que o bom movimento no Natal deste ano favorecerá ainda mais a indústria no início de 2010, acelerando a retomada da economia. Com o otimismo do consumidor e do empresário em alta, as vendas do fim de ano devem enterrar o ciclo de ajuste de estoque e fazer a indústria produzir a todo o vapor para repor o que foi consumido no Natal. (Leia mais em O Globo)