segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Proposta da UGT de revolucionar a Educação é saída para gargalo em mão de obra qualificada

Mão de obra qualificada é novo gargalo

Em 2009, 1,7 milhão de vagas oferecidas nas agências públicas de emprego não foram preenchidas, índice recorde. Engenheiros e nutricionistas estão entre as ocupações com maior sobra de vagas; baixo nível de escolaridade está entre as explicações.
A escassez de mão de obra qualificada levou o Brasil a bater recorde de sobra de vagas no mercado de trabalho formal em 2009. Dados obtidos pela Folha sobre o desempenho do Sine -rede pública de agências de emprego- mostram que 1,661 milhão de postos de trabalho oferecidos pelas empresas no ano passado não foram preenchidos por esse sistema.
Apesar do estrago causado pela crise global na geração de empregos formais em 2009 (pior saldo anual desde 2003), a oferta de vagas nas agências do Sine foi a maior da década: 2,7 milhões.
A taxa de preenchimento de empregos apurada pelo Sine ficou em 39%, ante 42% em 2008 e 48% em 2007. Esse indicador considera a relação entre o número de vagas disponíveis na rede e o total de pessoas que conseguiram colocação no mercado por meio do sistema público. Em 2008, o excedente de vagas atingiu 1,458 milhão.
O principal motivo para o não preenchimento dos postos é a falta de qualificação da mão de obra, o que compreende baixo nível de escolaridade, carência de preparo técnico e pouca experiência.
Apesar da sobra de vagas pelo sistema Sine, a taxa de desemprego no ano passado ficou em 8,9%, segundo dados do IBGE -percentual pouco acima dos 7,9% registrados em 2008.
A tendência é que a situação se agrave neste ano, quando são esperados aumento da atividade econômica e maior oferta de emprego. A dificuldade de as empresas encontrarem trabalhadores qualificados já é considerada um gargalo comparável à falta de infraestrutura/logística e à elevada carga tributária.
Ranking — O excedente de postos de trabalho captado pelo Sine ocorreu tanto em profissões de nível superior quanto em atividades com menor escolaridade, mas que necessitam de conhecimento técnico.
Ranking elaborado pelo Ministério do Trabalho a pedido da Folha revela que entre as ocupações com maior sobra de vagas estão engenheiros civil e mecânico, nutricionista e farmacêutico. Também faltaram auxiliares de linha de produção, pedreiros e operadores de telemarketing. Nas estatísticas oficiais, ainda aparecem eletricistas, torneiros mecânicos e funções ligadas ao setor naval.
"Isso mostra o aquecimento da economia, que fez com que fossem geradas tantas vagas em 2009. Mas também traz uma decepção: o Brasil não tem mão de obra qualificada suficiente", disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. "Intensificamos os programas de qualificação, mas não dá para tapar o sol com a peneira. Não é possível atender à demanda."
Segundo ele, o governo federal investiu no ano passado R$ 600 milhões no conjunto de programas de qualificação profissional. Para 2010, a previsão é de R$ 800 milhões.
Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, entre os trabalhadores com nível superior, a falta de profissionais com especialização foi mais crítica. "A taxa de preenchimento para nível superior foi de apenas 22%. Para o grupo com menor escolaridade, o índice foi de 39,2%."
Construção civil — Para o economista, não causou surpresa a sobra de vagas nos principais setores listados no ranking, pois estaria relacionada à retomada da economia. "Engenheiro e pedreiro são profissões ligadas à construção civil. O setor cresceu muito nos últimos anos e houve avanço na formalização. Já o fraco desempenho do setor até 2003 desencorajou a formação de profissionais. Formar um engenheiro leva algum tempo."
A falta de pessoal qualificado nas carreiras mais técnicas também pode ser associada a outros fatores, na opinião do presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), Simon Schwartzman.
"Pode ser que as vagas estejam sendo oferecidas em Pernambuco e os engenheiros estejam em Minas Gerais, por exemplo. Pode haver um problema de falta de informação recíproca e de localização", diz. (Folha)

Endividamento dos brasileiros bate recorde e chega a R$ 555 bilhões

Dívida média com cartões, cheque especial e empréstimos bancários já equivale a cinco meses de rendimentos

Nunca o brasileiro deveu tanto. Entre cartões de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, empréstimos para compra de veículos, imóveis - incluindo os recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) -, a dívida das famílias atingiu no fim do ano passado R$ 555 bilhões. O valor é quase 40% da renda anual da população, que engloba a massa nacional de rendimentos do trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social.
"O endividamento do consumidor é recorde", afirma o economista chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Ele fez um estudo, a pedido do Estado, para medir o grau de endividamento das famílias. Constatou que, se os bancos resolvessem cobrar toda a dívida, levando em conta o empréstimo principal e os juros, de uma só vez, cada brasileiro teria de entregar quase cinco meses de rendimentos.
Em 2008, eram necessários 4,3 meses de rendimentos (salários, aposentadorias e pensões) para quitar os empréstimos. Em dezembro do ano passado o índice subiu para 4,8 meses, a maior relação entre dívida e rendimentos da série histórica iniciada em 2001, quando eram precisos dois meses de rendimentos para pagar os empréstimos. Borges explica que o estudo levou em conta a estimativa da massa de rendimentos nacional, não apenas nas seis regiões metropolitanas, e os benefícios pagos pela Previdência Social.
"Os benefícios pagos pela Previdência respondem por um quarto do total da massa de rendimentos de R$ 1,4 trilhão em 2009", observa o economista, ressaltando a importância da inclusão das pensões e aposentadorias.
RECORDE — Outro estudo, feito pelo consultor Humberto Veiga, da Universidade de Brasília, confirma que o endividamento do brasileiro é recorde, mas com números diferentes. Ele considerou apenas o saldo de empréstimos com recursos livres, isto é, excluiu os empréstimos do SFH e levou em consideração somente a massa de salários das seis regiões metropolitanas do País, deixando de fora os benefícios da Previdência.
Como a base de rendimentos considerada no estudo de Veiga é menor, ou seja, é a massa de salários nas seis regiões metropolitanas, o economista concluiu que o brasileiro encerrou 2009 devendo o equivalente a 10 meses e 20 dias de salário, a maior marca da série iniciada em 2004. Em 2008, a dívida, nessa fórmula de cálculo, era menor: correspondia a 10 meses e 2 dias de salário.
O aumento do endividamento das famílias é apontado também por outro tipo de pesquisa. De acordo com a diretora da Kantar Worldpanel (ex-Latin Panel), Christine Pereira, 65% dos dois mil lares visitados na Grande São Paulo e na Grande Rio pela consultoria tinham algum tipo de financiamento em 2009. No ano anterior, esse índice estava em 60%. Ela observa que, no ano passado, o porcentual de famílias com financiamento era superior a 50% em todos os estratos de renda.
RISCOS — Apesar do endividamento recorde do consumidor, o estudo da LCA mostra que o comprometimento da renda mensal com financiamentos diminuiu nos últimos 12 meses. Em 2008, o gasto com prestações consumia 5,9% da renda mensal e, no fim do ano passado, 15%. O pico do comprometimento da renda com empréstimos foi atingido em 2006, quando as prestações respondiam por 18,2% do orçamento. "De lá para cá houve um alívio", observa Borges.
O economista diz que a chave dessa aparente contradição entre endividamento recorde e menor comprometimento da renda mensal do consumidor é o alongamento dos prazos de pagamento dos financiamentos. De 2006 a 2009, os prazos médios quase que dobraram, passando de 17,3 meses para 31,1 meses. Dois anos e meio é maior prazo médio da série histórica do crédito.
Com mais prazo, ressalta Borges, o consumidor gasta mais com encargos financeiros. "O montante que as famílias estão pagando hoje aos bancos é maior, mesmo com a queda nas taxas de juros ao consumidor nos últimos meses." Um dado que ratifica esse raciocínio é o lucro robusto dos bancos auferido em 2009.
EMPREGO — Para Borges, enquanto o brasileiro continuar empregado - o que, na opinião dele, é o cenário mais provável -, o aumento do grau de endividamento das famílias não necessariamente vai representar elevação da taxa de inadimplência.
Segundo o economista, o risco de alta da inadimplência fica adiado para 2011, quando o emprego e o ritmo de atividade devem crescer mais lentamente.
Mas o indicador antecedente do calote, o Indicador Serasa Experian de Perspectiva de Inadimplência do Consumidor, que aponta a tendência para os próximos seis meses, mostra outra realidade. Pelo quarto mês consecutivo, o indicador subiu em dezembro.
"A inadimplência hoje está em queda, mas vai parar de cair em seis meses", afirma o gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi, com base nos resultados do indicador que leva em conta cerca de uma centena de variáveis.
Ele aponta três razões que sustentam essa previsão de reversão de tendência da inadimplência. A primeira delas é o crescimento acelerado da tomada de crédito por parte das famílias num ritmo superior ao aumento da renda. Outra razão é a corrosão do poder de compra da renda do consumidor, com repique inflacionário neste início de ano.
Por último, Rabi ressalta a elevação do custo dos financiamentos em várias modalidades de crédito. Esse movimento já é nítido em vários estudos que pesquisam as taxas de juros ao consumidor. "O cenário para o segundo semestre deste ano é muito diferente do quadro do segundo semestre de 2009", alerta o economista. (Estadão)

Serviços preveem melhor ano da história

Com 67% de participação no PIB (Produto Interno Bruto), o setor de serviços prevê para 2010 seu melhor ano da história, com expansão de ao menos 10% em relação ao ano passado, puxada especialmente pela indústria da construção civil.
As obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e os investimentos em infraestrutura para a Copa de 2014 deverão ser neste ano o principal motor do setor terciário, de acordo com Paulo Lofreta, presidente da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços), que representa as empresas desse segmento.
Isso porque a indústria da construção terceiriza uma série de serviços, como os de refeição coletiva para os funcionários e de limpeza e segurança para as obras. "Neste ano, o nosso setor vai girar na órbita da indústria e dos investimentos do governo, mas, quando os projetos estiverem concluídos, aí será a parte de entretenimento e recepção que terá um dinamismo."
Conforme levantamento da Cebrasse, segmentos diversos apontam crescimento vigoroso no ano. As empresas de asseio e conservação vislumbram alta entre 5% e 7% no faturamento. Já o setor de cartões de benefício prevê avanço de 10%, impulsionado por um maior número de contratações esperadas na construção civil.
Com a entrada de mais trabalhadores formais no mercado, crescem as operações de cartões de vale (alimentação, refeição, transporte e combustível). Empresas da área de segurança privada estimam crescimento médio de 4%.
"As construtoras terceirizam muitos serviços. Essa vai ser a mola do nosso crescimento."
De acordo com Lofreta, a expectativa é que o setor contrate entre 2010 e 2011 mais 1 milhão de trabalhadores. Hoje, são 13 milhões. "A demanda está muito aquecida. Também os serviços ligados ao turismo, como hospedagem e lavanderia, devem ter dinamismo maior." Segundo ele, o principal gargalo é a falta de mão de obra qualificada. "Temos pouco tempo para treinar muita gente."
Para Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica, o setor de serviços levou vantagem sobre a indústria durante a crise e funcionou como um colchão para a economia quando a turbulência cresceu. (Folha)