segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vamos construir o 2011 da distribuição de renda através de empregos decentes com salários dignos

2011 de agenda positiva para avançar luta dos trabalhadores

Começamos 2011 com um novo governo, com a presidenta Dilma Rousseff, a primeira mulher no cargo, sucedendo Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-metalúrgico que deixa o cargo com 88% de popularidade sustentada com politicas públicas a favor dos mais humildes, dos trabalhadores e da Nação brasileira. Lula apostou na inclusão econômica, que Dilma promete continuar, ao anunciar inclusive a inclusão digital, essencial para abrir novas oportunidades para milhões de jovens que só conseguirão entrar no mercado de trabalho ao serem qualificados na nova tecnologia.

É o ano em que David Zaia, vice-presidente da UGT passa a ocupar a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalhodo Governo do Estado de São Paulo, levando para o Estado mais importante da federação os nossos princípios de democracia, respeito às diferenças e integridade no trato das coisas públicas. Uma secretaria que apostará, temos certeza, na qualificação e na geração de oportuniddes para milhões de jovens e trabalhadores paulistas.

Temos também a alegria de anunciar que nosso companheiro Roberto Scalize, vice-secretário da UGT, que está integrado à equipe de Edson Giribone, deputado estadual do PV, que foi nomeado Secretário de Saneamento e de Recursos Hídricos do Estado.

E para completar a agenda de início de ano, na próxima semana, no dia 11 de Janeiro, todas as centrais sindicais vão se reunir para definir nossas ações para reverter o salário mínimo de 540,00. Queremos pelo menos 580,00 e vamos deixar claro nossa posição para a presidenta Dilma Rousseff.

Ao longo do ano, a UGT se mobilizará para a realização do seu 2o. Congresso, em Julho, em que confirmaremos nossas politicas a favor da ética, da cidadania e da inovação que nos tem garantido um dos mais sólidos crescimentos entre as centrais.

Leia o clipping do dia:

Dilma promete erradicar a miséria e projeta país de classe média sólida
PRESIDENTE ENFATIZA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DE SER PRIMEIRA MULHER PRESIDENTE. PETISTA DIZ NÃO TER "ARREPENDIMENTO" NEM "RANCOR" PELA ATUAÇÃO NA LUTA ARMADA.
Dilma Vana Rousseff, 63, tomou posse ontem como a primeira mulher e a 40ª pessoa a ocupar a Presidência da República do Brasil.
Num longo discurso no Congresso Nacional, em que citou o escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967), Dilma fez várias menções à questão de gênero, louvou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e prometeu erradicar a miséria e transformar o Brasil num país de "classe média sólida e empreendedora".
A presidente chorou no final da fala, ao mencionar sua participação na luta armada contra a ditadura e homenagear os que "tombaram pelo caminho". Ela fez menção à tortura ao dizer que suportou as "adversidades mais extremas" infligidas a quem "ousou" "enfrentar o arbítrio". "Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor".
Dilma prometeu ser "rígida" no combate à corrupção. "Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito." Ministros de Lula afastados sob acusação de envolvimento em escândalos, como José Dirceu e Erenice Guerra, foram à posse no Palácio do Planalto.
A forte chuva em Brasília impediu o desfile em carro aberto até o Congresso, mas cessou no trajeto até o Palácio do Planalto e no momento em que Dilma subiu a rampa para receber a faixa presidencial de Lula.
O público que foi à Esplanada dos Ministérios era estimado em 30 mil pessoas pela Polícia Militar. Lula quebrou o protocolo e foi cumprimentar as pessoas.
Amanhã, Dilma comanda a primeira reunião de coordenação de governo. Sete ministros tomam posse hoje. A primeira tarefa é definir o corte no Orçamento, estimado em pelo menos R$ 20 bilhões.
Em São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) defendeu parceria com Dilma e elogiou a gestão de José Serra. (Folha, 2/1/11)

Dilma prepara ações contra informalidade

Presidente pretende desonerar a folha de pagamento das empresas, reduzindo custos do setor produtivo

O primeiro passo da presidente Dilma Rousseff para concretizar a promessa de estimular a economia e reduzir os custos do setor produtivo — feita em seu discurso de posse — será a desoneração da folha de pagamento das empresas.

Ela já deu ordem para que sua equipe apresente, até o fim do primeiro semestre de 2011, uma proposta que reduza a contribuição previdenciária incidente sobre a folha — hoje fixada em 20%. Os técnicos da área econômica trabalham em cima de rascunhos que foram feitos durante o governo Lula e que previam uma queda gradativa do tributo em cinco pontos percentuais.

Como sempre, o maior desafio é acomodar essa renúncia. Cada ponto percentual de redução da contribuição previdenciária “rouba” R$ 4 bilhões da arrecadação. Por isso, no limite, isso significaria uma renúncia de R$ 20 bilhões caso a proposta seja colocada em prática. Esse foi um dos motivos pelos quais o assunto não avançou nos oito anos da era Lula.

Mesmo assim, é um ponto considerado indispensável para dar competitividade à industria nacional. Num momento em que os produtos brasileiros estão perdendo espaço tanto no mercado doméstico quanto no internacional por conta do câmbio, reduzir os custos dos empresários com mão de obra é considerado uma forma de minimizar o problema.

Além disso, a medida teria como bônus aumentar a formalização do mercado de trabalho, que hoje está em 50% dos trabalhadores. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, dependendo do tamanho da desoneração, o aumento da formalização seria entre 2 e 8 pontos percentuais. (O Globo)

Caixa teve o menor juro em 2010, diz Procon-SP
Maior taxa média para empréstimo foi do Itaú
A Caixa Econômica Federal foi o banco que ofereceu as melhores taxas no cheque especial e no empréstimo pessoal no ano passado, revela pesquisa da Fundação Procon-SP.
A instituição estatal cobrou em média juros de 7,02% ao mês no cheque especial em 2010. A taxa é 43% menor do que a do Safra (12,3% ao mês), a maior entre os sete bancos analisados (confira o ranking na tabela abaixo).
No empréstimo pessoal, o banco que apresentou a maior taxa média foi o Itaú: 5,92% ao mês. Já o juro médio da Caixa ficou 27% abaixo disso, em 4,65% ao mês.
Considerando a média das taxas cobradas pelos sete maiores bancos que atuam no Brasil, observa-se uma leve queda no último ano.
O juro médio no cheque especial recuou de 8,93% ao mês em 2009 para 8,88% ao mês no ano passado, enquanto o do empréstimo pessoal caiu de 5,49% ao mês no ano retrasado para 5,26% em 2010.
FÁCIL E CARO — O Procon orienta o consumidor a evitar o empréstimo no cheque especial.
A instituição destaca que essa é uma linha que disponibiliza crédito ao correntista automaticamente, sempre que sua conta estiver sem fundos disponíveis. Como o banco não conta com garantias, as taxas são altas.
Segundo o assistente de direção do Procon-SP, Diógenes Donizete, a soma das parcelas dos empréstimos não deve ultrapassar um terço da renda do consumidor.
"As pessoas confundem limite do orçamento com limite do cartão, do cheque especial, criando um limite virtual para consumir. É preciso ter cuidado, pois, ao se endividar, terá que pagar juros, multa, além dos gastos correntes do mês", afirma.
De acordo com o Procon, o cartão de crédito e o cheque especial foram as modalidades de financiamento que mais cresceram no primeiro trimestre de 2010. Essas duas formas de financiamento são justamente as mais caras para o consumidor.
O ideal, afirma Donizete, é o consumidor reservar antes parte dos recursos para cobrir os gastos extras de início de ano. Caso não tenha feito isso, deve pesquisar um opção de crédito mais barata.(Folha)

Medidas do BC devem acabar com a ''festa do crédito''

Previsão das instituições bancárias é de que a média de expansão do crédito diminuirá de 20% nos últimos anos para 15% em 2011.

Dirigentes de bancos centrais costumam fazer uma piada sobre sua função na sociedade. O objetivo de seu trabalho, dizem, é desligar o som quando uma festa está muito animada. O chiste encaixa-se nas ações que o Banco Central (BC) adotou no início de dezembro para esfriar o crédito no Brasil. Em decorrência das mudanças, a expectativa de bancos e analistas é de que o ritmo de concessão de empréstimos desacelere em 2011.

Oficialmente, executivos de instituições financeiras mantêm estimativas elaboradas entre setembro e novembro, quando prepararam o planejamento para o próximo ano. Por esses números, o crédito terá expansão ao redor de 20%, exatamente na média dos últimos anos. Nos 12 meses encerrados em novembro, por exemplo, a concessão de empréstimos avançou 20,8% - 20,9% entre empresas e 20,8% entre pessoas físicas.

Nos bastidores, profissionais admitem que o aumento dos depósitos compulsórios (dinheiro que fica parado no BC) e o aperto nas regras para financiamento de carros e consignado, entre outras, vão desacelerar a expansão para a faixa de 15% ou menos.

O cuidado ao falar do assunto é explicado pelo fato de que os quatro maiores bancos de varejo do País têm ações negociadas na Bovespa. No momento em que afirmam publicamente que vão emprestar menos, o recado entendido pelos investidores é o de que a expansão do lucro também vai desacelerar. O Estado procurou os quatro maiores (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander) para falar do assunto, mas apenas o Bradesco respondeu.

"Nossa estimativa de crescimento de 20% para o crédito está mantida, porque acreditamos que eventuais reduções de demanda em alguns produtos, como automóveis, serão compensadas pela alta em outros, como consignado", afirma o diretor do Departamento de Empréstimos e Financiamento do Bradesco, Octávio Lazzari Junior.

O otimismo do executivo toma por base o desempenho esperado para a economia brasileira. Se não vai crescer perto de 8% como em 2010, o ritmo de 2011 não pode ser desprezado. "Ainda continuaremos a ver o ganho efetivo de renda decorrente da mobilidade social", diz. "Além disso, a taxa de desemprego vai permanecer baixa."

O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, projeta alta do crédito geral entre 14% e 18%. Mas faz distinção entre pessoas físicas e empresas. "As medidas recentes do governo deixaram claro que o objetivo é esfriar as concessões em um dos segmentos (pessoas físicas)", diz. "Entre as empresas, o objetivo é oposto: como quer estimular o investimento na economia, o governo precisa que o crédito para empresas continue forte". Por isso, aposta em alta maior de empréstimo às pessoas jurídicas.

Prazos mais curtos. Outro efeito esperado é a redução dos prazos médios dos financiamentos. É algo que os próprios bancos reconheceram logo após o anúncio das medidas do BC. Na prática, ainda não foi sentido pelo consumidor porque as condições de empréstimos pré-acertadas para dezembro não foram alteradas. Por isso, ainda se viu crédito para a compra de carros em até 80 parcelas. A partir de 2011, esse tipo de pacote ficará apenas na lembrança.

Há, ainda, quem diga que a inadimplência, que está em níveis recordes de baixa, sobretudo entre pessoas físicas, vai subir. "Aquelas pessoas que estão penduradas, que recorrem a um empréstimo para cobrir outro, vão ficar sem opção e se tornarão inadimplentes", diz o diretor de crédito de um grande banco.

Em sua opinião, as estatísticas do setor começarão a mostrar piora dos indicadores de inadimplência a partir de fevereiro. Para Santacreu, o comportamento do calote depende da política econômica (notadamente a fiscal) do novo governo. Ele observa que um ajuste mais forte na área fiscal pode ter efeito contracionista sobre a atividade, algo que, por tabela, elevaria o calote.

Quem também está de olho no cenário fiscal é o BC. Aperto nas contas públicas significa menor pressão de demanda - e alívio na inflação. Se tal panorama se concretizar, o "estragador" de festas pode não se ver obrigado a desligar o som. Apenas a baixar o volume.

PARA LEMBRAR — Medidas já tiveram efeito na economia

Dados preliminares divulgados pelo Banco Central (BC) um pouco antes do Natal mostraram que as medidas para conter o ritmo do crédito já tiveram efeito prático. As taxas de juros que os bancos pagam para captar dinheiro subiram e atingiram o maior nível desde janeiro de 2009, no auge do impacto da crise financeira global no Brasil. Esse cenário indica que as taxas de juros para o consumidor também devem subir - e aparecer em breve nas estatísticas do BC.

As medidas agem em várias frentes. Uma delas retirou R$ 61 bilhões de circulação por meio do aperto dos depósitos compulsórios. A outra é a provável elevação do chamado spread bancário (diferença entre a taxa que o banco paga ao captar o dinheiro e o que cobra ao emprestá-lo). Nesse caso, a diferença se dá por causa do aperto de algumas exigências de capital, sobretudo para os empréstimos de longo prazo. (Estado)

Expansão da renda altera a pirâmide social e tende a extinguir a classe E

Economistas apontam como tendência para o ano de 2011 a continuidade do crescimento da classe C, que já é maioria na população.

Artêmio Cruz, 29 anos, e Antônia Joelma, 24 anos, não têm carro, nem casa própria. Usam três celulares para aproveitar as promoções das operadoras e estão programando para este ano a primeira viagem de avião. Ele é vigilante e ela, auxiliar de limpeza. A renda dos dois ainda não chegou a R$ 1,5 mil. "Mas é questão de tempo", diz Cruz. Pronto para começar um curso de mecânico, ele está entre os 64% da população da classe D que espera melhorar de vida neste ano.

Se tudo correr como planejado e os dois continuarem empregados, em breve o casal, que vive em São Paulo, deve integrar o que se convencionou chamar de "nova classe média". Em 2014, quando o Brasil estiver às voltas com a Copa do Mundo e o governo de Dilma Rousseff chegando ao fim, praticamente três em cada cinco brasileiros pertencerão à classe C - Cruz e Antônia estão batalhando para entrar nesse grupo que chegará a 115 milhões de habitantes ou três vezes a população da Argentina.

Embora falar da nova classe média tenha virado moda no Brasil nos últimos anos, ainda há divergências sobre quem faz parte dela. Não há definição oficial. A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (Abep), por exemplo, adota o Critério Brasil, baseado nas posses e no grau de instrução das famílias. Boa parte dos levantamentos, no entanto, leva em conta apenas a renda familiar. Uma das classificações considera classe C famílias com ganhos mensais de quatro a dez salários mínimos. Em 2010, esse grupo passou a representar metade da população brasileira e continuará ganhando espaço.

Fazer projeções não é tarefa fácil: câmbio, inflação e crises mundiais mudam da noite para o dia o rumo da economia de um país. "Mas é possível ensaiar uma análise olhando pelo retrovisor", diz o professor Waldir Quadros, da Unicamp. A tendência, segundo ele, é que as transformações da pirâmide social brasileira registradas entre 2004 e 2009 se reproduzam nos próximos anos: classe A estagnada, classe B em crescimento moderado, explosão da classe C e uma redução ainda maior da base da pirâmide.

É o que mostra também um levantamento feito pela consultoria Data Popular a pedido do Estado. "A classe C será maioria absoluta e a E deve entrar em extinção", diz Renato Meirelles, diretor da consultoria. "Já ficou claro até aqui que as empresas que ignorarem a nova classe média não sobreviverão."

Consumo. Um número "mágico" ajuda a entender o que Renato Meirelles quer dizer com isso: a classe C movimenta cerca de R$ 881,2 bilhões por ano, com salário, benefícios e crédito. Não é qualquer produto ou empresa que consegue abocanhar esse dinheiro, porque a nova classe média tem um jeito próprio de consumir. "Eles estão experimentando alguns produtos e serviços pela primeira vez."

Cristiane de Souza, 33 anos e Alex Ferreira, 36 anos, atingiram há tão pouco tempo esse padrão de consumo e ainda estranham ser chamados de "classe média". "Isso é muito chique", diz a dona de casa, cutucando o marido, no corredor do supermercado. Seis anos atrás, eles moravam com o pai dela, porque os R$ 400 que recebiam na época não eram suficientes para bancar um aluguel. "Fazíamos compra com calculadora: não podíamos gastar nem um centavo a mais", lembra Cristiane, mãe de uma menina de 11 anos e de um menino de 7 anos.

O carrinho de compras não é mais refém da calculadora desde que Alex deixou o emprego de metalúrgico e voltou a trabalhar na fábrica de vidros onde, ainda adolescente, aprendeu seu primeiro ofício: o de vidraceiro. Como a atividade remunera bem, o salário dele foi multiplicado por nove.

De lá para cá, o casal quitou as dívidas, mudou para um imóvel alugado, comprou um carro zero, trocou móveis e eletrodomésticos e se concedeu alguns "luxos": ela vai ao salão de beleza duas vezes no mês e ele agora só compra tênis originais. A mais nova conquista é a casa própria. O imóvel será entregue em outubro. "Não sei se somos classe média, mas, perto do que tínhamos, estamos ricos", diz Cristiane.

Migração sustentável. Um dos primeiros a falar do novo perfil da classe C nessa década, o pesquisador Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, afirma que essa foi uma mudança que veio para ficar.

"Não estamos falando de uma bolha de consumo. É um processo sustentável, diz Neri." Segundo ele, a ascensão das classes sociais no País é explicada apenas em parte por programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família. A educação e o trabalho formal, afirma Neri, são os grandes protagonistas da reestruturação da pirâmide. "É o que garante que a evolução vai continuar acontecendo."

Entre 2003 e 2009, a renda individual do brasileiro cresceu 3,8% ao ano. O crescimento foi duas vezes maior entre os mais pobres. No mesmo período, eles conseguiram aumentar os anos de estudo em 5,19%, enquanto esse índice entre os mais ricos ficou abaixo de 1%. Ao mesmo tempo, as horas de trabalho dos integrantes das classes C e D diminuíram. Resumindo: os brasileiros da base da pirâmide passaram a ganhar mais e não é porque a carga horária de trabalho está maior, mas porque estão mais qualificados.

Nos próximos anos, além de continuar acompanhando a migração de uma faixa social para outra, o Brasil verá uma ascensão dentro da própria classe C - dos níveis mais baixos para o topo da renda. "Basta termos controle de inflação, redução de gastos públicos e da taxa de juros", diz Cláudio Felisoni, coordenador do Provar-USP.

Ele alerta, no entanto, que toda a euforia em torno da nova classe média não significa que o País tenha superado os níveis de desigualdade. "Continuamos longe do ideal." No Brasil, os 10% mais pobres se apropriam de 1,1% da renda total gerada, enquanto os 10% mais ricos absorvem 43% dessa mesma renda, segundo o Banco Mundial. No Canadá, essa proporção é de 2,6% e 24,8%, respectivamente. (Estado)

Mulheres respondem por 66% dos gastos no país, o que equivale a R$ 1,3 trilhão por ano

Com a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, elas já respondem por 66% do consumo no Brasil. Em cifras, esse poder de decisão nas compras de casa e da família representa R$ 1,3 trilhão em gastos por ano, segundo a empresa de pesquisas Sophia Mind. É o décimo maior mercado feminino do mundo e que tem potencial para crescer ainda mais.

- A renda da mulher continuará a crescer e, com isso, seu poder de decisão sobre as compras. Das empresas de alimentação que tradicionalmente já falam com as mulheres a novos nichos, como bebidas, planos de saúde e seguro de carro, há uma demanda crescente para o público feminino - afirma Bruno Maletta, da Sophia Mind.

As solteiras têm fôlego para gastar mais em produtos e serviços, disse Maletta. Diferentemente da solteira do início do século passado, lembrou ele, a prioridade hoje está na carreira e não em casar.

- Elas têm uma renda "ociosa" que não pode ser negligenciada pelo varejo. Estamos falando, especialmente, de um grupo de 30 anos, que já está no mercado de trabalho há algum tempo, tem mais anos de estudo, tem bom salário e não tem filhos. Muitas ainda moram com os pais. Os gastos são para elas.

Aos 24 anos, Paula Guedes estuda Relações Internacionais e faz um estágio na sua área. Com renda mensal de cerca de R$ 2.500, não tem entre suas prioridades o casamento - mas sim a sua carreira. Sem filhos e morando sozinha, Paula se permite gastar com grifes de roupa, maquiagem e serviços de beleza.

- Com namorado, tem que se cuidar, né?

Rotina bem diferente tem Dilma de Medeiros. Chega ao seu trabalho por volta das 8h, malha na hora do almoço "para ficar bonita para o marido" e volta para a casa às 19h. A analista de sistemas faz parte de um contingente de mulheres que trabalha mais do que o seu companheiro. Hoje, 32% das brasileiras têm jornada maior dos que a de seus maridos, mostra a pesquisa da Sophia Mind, que ouviu cerca de 14 mil mulheres. O que quebra, em parte, um mito de que a distância entre os ganhos deles e delas - ainda enorme - se explica pelas horas a menos no serviço.

- O Cláudio é representante comercial, não precisa cumprir horário. Outro dia, fui trabalhar e ele foi à praia. Eu tenho horário e até trabalho fim de semana quando necessário. Mas, como ele ganha mais do que o dobro do que eu, arca com as maiores despesas - disse Dilma, que, em casa, como a maioria das mulheres casadas e com filhos, tem pouco tempo para ela. - Eu chego em casa e nem troco de roupa. Brinco com eles, conto historinha, ponho para dormir, e aí vou tomar banho e ficar um pouco com o Cláudio.

Mulheres são chefes de família em 35% dos lares — Dilma é exceção a esta regra, já que mulheres trabalham, segundo o IBGE, em média menos horas semanais (36,5 horas) que os homens (43,9). Mas foge à regra somente neste item. Mesmo ocupadas fora de casa, as mulheres ainda são as responsáveis pelos afazeres domésticos: elas dedicam em média 22 horas semanais a essas atividades contra 9,5 horas dos homens ocupados.

A pesquisa do Sophia Mind mostrou ainda que 22,8% das mães de filhos pequenos de até 2 anos trabalham mais do que seus companheiros fora de casa. Entre as moças sem filhos, essa média sobe para 38,1%. A maior carga de trabalho fora de casa, entretanto, não tira da mulher a responsabilidade pelos afazeres domésticos.

- Ainda quando ela trabalha mais, as responsabilidades de casa continuam com ela, como cuidar da roupa ou da alimentação - disse Bruno Maletta, um dos responsáveis pela pesquisa e co-autor do "Poderosas consumidoras - o que pensa a nova mulher brasileira."

Após as 22h, muitas vezes faz silêncio na casa de Maria Fernanda Figueiredo. Costumam já estar dormindo o marido e o pequeno Felipe, de 4 anos. Ao longe, apenas o barulhinho do tec-tec do teclado do computador, à medida que vai escrevendo uma de suas petições. A advogada, assim como Dilma, representa outra minoria. Dessa vez, a das mulheres que são chefe do lar - ou seja: ganham mais do que seus respectivos maridos e, por isso, pagam a maior parte das contas de casa. Hoje, segundo o IBGE, há 21,9 milhões de mulheres à frente de suas famílias: 35,17% dos lares são chefiados por uma mulher. Para alguns especialistas, divórcios ajudam a explicar parte da expansão dessa participação feminina, que em 2001 era de 27,34%.

- Às vezes, me sinto sobrecarregada, seria bom ter um pouco mais de proteção. Mas a questão financeira fica para trás quando vejo que meu marido é um companheiro e um pai maravilhoso. Sou uma mulher independente e me orgulho disso - disse Maria Fernanda, que ganha, ao menos, 50% a mais do que o marido e não deixa de cuidar dos afazeres de casa e do filho. - Levo meu filho ao médico, vou à reunião da escola, planejo o cardápio das refeições e administro as obras de casa. E ainda sou síndica do meu prédio. Mas esse corre-corre não me deixa ser negligente: o suquinho de melancia do meu marido no café da manhã é sagrado.

A economista Hildete Pereira, professora da UFF, lembra que Maria Fernanda está longe de representar a realidade do país. O rendimento delas continua inferior ao deles: as ocupadas ganham em média 70,7% do que recebem os homens. Situação que se agrava quando ambos têm 12 anos ou mais de estudo - nesse caso, o rendimento delas é 58% do deles.

- Será necessário mais de uma geração para que os salários de homens e mulheres se igualem. Para mudar esse cenário, não podemos contar apenas com o desenvolvimento econômico do país. É preciso pensar numa intervenção política para melhorar as estatísticas. Hoje, é bom lembra que uma família com mulher e filho é o retrato da pobreza do Brasil - disse Hildete, para quem as famílias de menor renda não sabem lidar muito bem com a situação de uma mulher ganhar mais que o homem.

A professora acrescentou que hoje a renda da mulher é relevante para a família: seus ganhos representam 40% do rendimento da casa.

- A mulher não trabalha mais para comprar batom. Sua renda hoje é fundamental para a sua própria família.

Segundo Ana Lucia Saboia, especialista do IBGE, a maior presença da mulher no mundo do trabalho se explica por vários fatores: o menor número de filhos, o casamento mais tardio e avanço na escolaridade. A renda menor também se explica pelo fato de que elas estão em ocupações que pagam menos - como professoras, assistente sociais e psicólogas.

- A cada 100 mulheres em idade ativa, 50 trabalham. Há duas décadas, eram 35. Hoje os homens passaram a respeitar mais as mulheres que trabalham. E isso acaba sendo outro incentivo para elas. (O Globo)

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