terça-feira, 19 de abril de 2011

Nas vésperas da definição da taxa Selic é bom avaliar como o Brasil joga dinheiro fora com os pagamentos de juros

Valor gasto com juros pagaria 15 programas como o Bolsa Família

Os gastos com juros do setor público devem atingir cerca de R$ 230 bilhões neste ano, o equivalente a 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quase 15 vezes os R$ 15,5 bilhões que o governo federal deve destinar ao Bolsa Família em 2011. É um aumento considerável em relação aos R$ 195 bilhões de 2010, ou 5,3% do PIB. Neste ano, ciclo de aumento da taxa Selic e a inflação em alta contribuem para elevar os gastos financeiros do setor público.

O custo efetivo do endividamento líquido do setor público - que inclui, além da União, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobras e da Eletrobrás - também tem sido puxado para cima pela forte acumulação de reservas internacionais e pelas operações de capitalização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo Tesouro.

Para comparar com outra despesa pública importante, os R$ 230 bilhões de juros equivalem a pouco menos de seis vezes os R$ 40,1 bilhões de gastos que foram autorizados para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No começo do ano, os gastos com juros superaram pela primeira vez os R$ 200 bilhões no acumulado em 12 meses, somando R$ 205 bilhões em fevereiro, nessa base de comparação.

A alta da taxa Selic, que corrige 35% da dívida interna em títulos do Tesouro, ajuda a elevar esse custo em 2011, diz o economista Maurício Oreng, do Itaú Unibanco. Em 2011, os juros básicos já subiram 1 ponto percentual, devendo aumentar mais 0,5 ponto na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de amanhã, para 12,25% ao ano, segundo a maior parte dos analistas. Há também as operações compromissadas, pelas quais o Banco Central vende papéis ao mercado e os recompra depois de um determinado prazo, cujo custo é ligado à Selic. No fim de fevereiro, o saldo dessas operações era de R$ 360 bilhões.

Além dos juros em alta, a inflação ascendente também aumenta os gastos financeiros do setor público, lembra o economista Marcos Fantinatti, da MCM Consultores. Da dívida em títulos do governo federal, 30% são indexadas a índices de preços. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou 2010 em 5,9%, já acumula alta de 6,3% nos 12 meses até fevereiro. Nessa base de comparação, deve superar os 7% no começo do terceiro trimestre. "A elevação do juro implícito [o custo efetivo da dívida] do ano passado para 2011 será mais explicado por Selic e inflação em alta", afirma Fantinatti.

Ele projeta despesas com juros de R$ 236 bilhões neste ano, ou 5,8% do PIB. Há quem espere gastos mais modestos, mais próximos de 5% do PIB (cerca de R$ 205 bilhões) e quem veja despesas na casa de 6% do PIB R$ 246 bilhões). Se ficarem neste ano acima de 5,3% do PIB, o nível registrado em 2010, será a primeira vez desde 2005 que as despesas com juros vão subir nessa base de comparação.

O economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, projeta elevação dessas despesas neste ano, para 5,6% do PIB, chamando atenção para os custos salgados da acumulação de reservas.

O Brasil gasta tanto com juros porque tem uma dívida líquida ainda elevada, embora sua trajetória seja cadente e não haja risco de insolvência do setor público. Em fevereiro, por exemplo, ela estava em 39,9% do PIB, patamar maior que o de outros emergentes, como os cerca de 16% do PIB da China, 22% do PIB da Tailândia ou 34% do PIB do México, segundo números da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) para 2010. Sobre essa dívida, incide um juro bastante elevado, como lembra Oreng.

Nos últimos meses, o custo efetivo sobre a dívida líquida, dado pela chamada taxa implícita, subiu consideravelmente. No acumulado em 12 meses, passou de 14,4% em setembro do ano passado para 15,5% ao ano em fevereiro de 2011. É um patamar bem superior ao da taxa Selic, hoje em 11,75%.

O processo de forte acumulação de reservas internacionais, hoje acima de US$ 300 bilhões, e a maciça injeção de dinheiro do Tesouro no BNDES são dois dos principais motivos para o fenômeno de descolamento da taxa implícita e da Selic, diz o economista José Roberto Afonso, consultor técnico do Senado.

O aumento das reservas e a capitalização do BNDES elevaram o descompasso entre as taxas que corrigem os créditos e os débitos públicos, nota Afonso. Um ponto importante é que os gastos com juros são o saldo líquido entre o que o setor público gasta e o que recebe de juros.

No caso das capitalizações do BNDES, o Tesouro fica com crédito atrelados à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), em 6% ao ano, enquanto seus débitos são vinculados à Selic.

Os créditos do governo federal junto ao BNDES, que eram de R$ 35 bilhões no fim de 2008, totalizavam R$ 236,7 bilhões em fevereiro deste ano.

A acumulação de reservas também tem custos elevados. Ao comprar dólares, o BC injeta reais na economia, que são retirados de circulação por meio das operações compromissadas. As reservas são aplicadas no exterior, a taxas baixíssimas, enquanto o custo para o setor público está ligado ao juro básico. (Valor)

Taxa de desemprego chega em 6,5%, a menor da série para março

O número de pessoas desocupadas ficou em 1,5 milhão, montante estável frente a fevereiro

A taxa de desemprego apurada nas seis principais regiões metropolitanas do País ficou em 6,5% em março, ante 6,4% em fevereiro, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa foi a menor para o mês de março desde o início da série, em março de 2002. O resultado ficou estável em relação a fevereiro (6,4%), mas recuou 1,1 ponto porcentual em relação a março de 2010 (7,6%).

O resultado veio abaixo do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que iam de 6,6% a 7%, com mediana de 6,7%.

O número de pessoas desocupadas ficou em 1,5 milhão, montante estável frente a fevereiro. Na comparação a março do ano passado, houve queda de 14%, o que representa 250 mil pessoas a menos procurando trabalho.

Já o número de ocupados, 22,3 milhões, permaneceu estável ante fevereiro, mas registrou alta de 2,4% frente ao mesmo período de 2010, com 513 mil ocupados a mais.

Renda real — O rendimento médio real dos trabalhadores registrou variação positiva de 0,5% em março ante fevereiro e aumento de 3,8% na comparação com março do ano passado

A massa de renda média real habitual dos ocupados no Brasil somou R$ 35,1 bilhões em março, com alta de 0,8% em março ante fevereiro, e alta de 6,7%% em relação a março de 2010.

Já a massa de renda média real efetiva dos ocupados chegou a R$ 34,8 bilhões em fevereiro deste ano, com alta de 0,6% ante janeiro e crescimento de 6,9% na comparação com fevereiro de 2010. O rendimento médio real efetivo sempre se refere ao mês anterior ao mês de referência da PME. (Estado)

IGP-M sobe 0,55% na segunda prévia de abril

O índice acumula aumentos de 2,99% no ano, e de 10,71% em 12 meses.

A segunda prévia do Índice Geral de Preços (IGP-M) de abril ficou em 0,55%, contra 0,59% no mesmo período do mês anterior, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado ficou dentro das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo AE-Projeções, que calcularam uma variação de 0,49% a 0,68%, com mediana de exatos 0,55%.

A FGV informou ainda os resultados dos três indicadores que compõem a segunda prévia do IGP-M de abril. O IPA-M teve alta de 0,51% na segunda prévia do índice este mês, em comparação com a alta de 0,68% na segunda prévia de março. Por sua vez, o IPC-M apresentou alta de 0,65% na prévia anunciada hoje, após subir 0,45% na segunda prévia de março. Já o INCC-M teve elevação de 0,50% na segunda prévia deste mês, após registrar aumento de 0,37% na segunda prévia de março.

O IGP-M é muito usado para reajuste no preço do aluguel. Até a segunda prévia de abril, o índice acumula aumentos de 2,99% no ano, e de 10,71% em 12 meses. O segundo decêndio do IGP-M compreende o intervalo entre os dias 21 do mês anterior e 10 do mês de referência. (Estado)

FMI vê risco de bolha de crédito no Brasil

Países emergentes como Brasil, China e Turquia correm riscos de sofrer uma crise bancária caso não sejam aplicadas as políticas adequadas ao forte e rápido crescimento do crédito. "Sinais de nascente bolha de crédito em algumas economias emergentes do G-20 podem representar riscos de eventual crise financeira e um pouso forçado para o crescimento econômico", alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um relatório final sobre a reunião de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, no encontro de primavera encerrado no domingo, em Washington.

Os booms de crédito estiveram relacionados a recentes crises nos sistemas bancários, aponta o FMI, ao citar as turbulências no final dos anos 1990 na Ásia e a crise financeira de 2008 deflagrada nos Estados Unidos. Segundo o Fundo, é difícil avaliar se um boom é "bom" ou "ruim", mas o Fundo ressalta que eles geralmente são nocivos quando são maiores, de longa duração e relacionados à inflação alta e à rápida elevação dos preços imobiliários, junto com o aumento do déficit em conta corrente (trocas de recursos com o exterior). Na análise do FMI, Brasil, China e Turquia são "atuais exemplos notáveis" de rápido crescimento do crédito, interrompido apenas brevemente pela crise financeira.

O Fundo aconselha economias emergentes como a do Brasil a enfrentar os riscos de superaquecimento e ameaças provocadas pelo forte fluxo de capitais por meio de uma resposta combinada entre a consolidação fiscal e taxas de juros mais elevadas, com uso de medidas de controle de capitais. "Há espaço para continuar com o ciclo de aperto da política monetária, enquanto as importantes medidas recentes de consolidação fiscal devem entrar em efeito gradualmente". Para os economistas da instituição, a valorização da moeda nos países em desenvolvimento não pode ser totalmente rejeitada: "A apreciação da taxa de câmbio que pode resultar faz parte do ajuste desejável, aumenta a renda real, e não deve ser encarada com resistência". (O Globo)