segunda-feira, 25 de julho de 2011

UGT, mobilizada após 2o. Congresso, acompanha de perto desdobramentos da economia brasileira

Indústria do país perde de concorrentes

Indicador mostra que Brasil foi o único, entre 13 nações, a apresentar encolhimento do setor no mês passado. Produção industrial brasileira sofre com a forte valorização do real, que é resultado da elevada taxa de juros.
A indústria brasileira tem apresentado o pior desempenho entre os grandes mercados emergentes.
Segundo analistas, a forte valorização do real faz com que os bens fabricados no Brasil fiquem mais caros em relação ao que é produzido fora. Isso torna o setor industrial do país menos competitivo em relação a seus pares.
Um indicador baseado em entrevistas feitas com executivos apontou uma tendência de contração do setor no país em junho.
O chamado Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) tenta prever o comportamento da indústria com base em informações como nível de estoques, ritmo de novas encomendas e contratações.
Entre as 13 nações emergentes para o qual é calculado, o Brasil foi o único a registrar queda no mês passado, embora outros países tenham exibido tendência de desaceleração.
Na média dos últimos 12 meses, o Brasil também teve expansão mais fraca que a de outras nações.
Para Fabio Akira, economista-chefe do JP Morgan no Brasil, a fraqueza da indústria medida pelo PMI reflete, principalmente, o desempenho dos setores exportadores, mais afetados pelo câmbio valorizado.
"Isso contribui para uma redução da produção industrial", diz Constantin Jancso, economista do HSBC.
O HSBC, em parceria com a consultoria Markit, calcula o Índice de Gerentes de Compras para um grupo de mercados emergentes (conhecido pela sigla EMI, em inglês).
Dados de produção industrial confirmam a debilidade relativa do Brasil.
Entre os dez emergentes que estão no G20 (grupo que reúne importantes economias), a produção industrial brasileira em maio só teve desempenho melhor que a da África do Sul (veja mapa).
Registrou expansão em relação ao mesmo mês de 2010 de 2,7%, contra 13,3% da China, 5,6% da Índia, 4,1% da Rússia e 6,3% da Argentina.
Segundo o economista Claudio Frischtak, da InterB Consultoria, o real forte prejudica a indústria, mas aumenta o poder aquisitivo da população. Produtos importados estão mais baratos.
No longo prazo, ele acredita que o câmbio valorizado -resultado em parte de juros altos que atraem capitais de fora- limita o crescimento.
Economistas ressaltam que conter despesas públicas -que seguem em patamar elevado- seria o canal ideal para uma redução dos juros, contribuindo para a recuperação da competitividade.
O governo deve lançar, em agosto, medidas de estímulo à exportação de produtos manufaturados.
Segundo especialistas, incentivos pontuais ajudam setores específicos. Mas não atacam a perda de competitividade do setor, também afetado pela alta carga tributária e excesso de burocracia. (Folha)

Cor da pele tem influência na profissão, aponta IBGE

Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o trabalho é o local onde as pessoas acreditam que a raça ou cor têm a maior influência na relação social entre as pessoas. A resposta foi dada por 71% dos entrevistados de uma amostra de cerca de 15 mil domicílios, coletada em 2008 em cinco Estados brasileiros (Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso), além do Distrito Federal.

Com o objetivo de classificar o peso dos fatores cor e raça em diferentes situações da vida do brasileiro, a "Pesquisa das Características Étnico-raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça" ouviu pessoas com 15 anos ou mais, escolhidas por sorteio.

Cada entrevistado podia apontar três alternativas para questões sobre trabalho, relação com a Justiça e polícia, convívio social, escola, repartições públicas, atendimento à saúde e matrimônio. Depois de trabalho, as relações sociais mais citadas foram Justiça/polícia, escolhida por 68,3% dos pesquisados pelo IBGE, e convívio social, item mencionado por 65% das pessoas ouvidas.

Para especialistas consultados pelo Valor, a indicação de que cor e raça têm influência relevante em várias situações da vida do brasileiro reflete uma realidade há muito conhecida: o Brasil ainda é um país preconceituoso, sem verdadeira integração racial, o que é sentido principalmente no trabalho - espaço social que, assim como a escola, é o que mais envolve o cotidiano do cidadão.

Na opinião do cientista político Daniel Cara, o estudo do IBGE só mostra em termos de opinião o que já é verificado de forma objetiva. "A questão racial pesa negativamente para os negros nos aspectos-chave para a construção da qualidade de vida e questão social", avalia. "A opinião dada na pesquisa só corrobora que é preciso tomar medidas no sentido de superar o preconceito."

A violência contra os negros é tão gritante, diz Cara, que acaba superando discussões sobre o preconceito sofrido no emprego e na escola. "Desde o mercado de trabalho passando pela educação, e chegando especialmente nas relações que evidenciam violência e criminalização, no fundo a vida cotidiana mostra que o Brasil é um país que ainda precisa evoluir muito para superar a questão racial", afirma.

Maria Julia Nogueira, secretária de combate ao racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), lembra que, nos últimos anos, o país "avançou muito" nas políticas de enfrentamento da discriminação racial, mas o preconceito ainda pode ser percebido nas estatísticas. "Pesquisas mostram, invariavelmente, que a disparidade entre trabalhadores negros e não negros é enorme, principalmente nas questões salariais e de ocupação de cargos de chefia", afirma a sindicalista.

Recente relatório produzido pelo Instituto Ethos e pelo Ibope , a partir de um levantamento que colheu a opinião de mais de 620 mil empregados de 109 empresas grandes, revelou que 67,3% dos cargos de direção dessas companhias são ocupados por brancos, enquanto os negros representam 31% dos principais cargos da elite empresarial.

Mesmo com três diplomas, incluindo uma graduação em literatura inglesa pela universidade Westminster College, de Londres, o advogado João Antonio Alves reclama da dificuldade de conseguir emprego e diz que "já cansou" de sofrer preconceito racial "velado" em processos seletivos, principalmente em empresas de grande porte.

"Dizer que o Brasil é um país sem preconceitos, que não há racismo por aqui, é chover no molhado. Pegue as grandes corporações: quantos chefes são de cor? Tenho três faculdades e sofri muito para me colocar no mercado numa posição à altura da minha capacidade, mas hoje trabalho por conta e estou muito bem profissionalmente", conta Alves.

Na opinião de Antonio Guercio, também advogado, associar cor e raça a questões profissionais é um sinal claro de que "o preconceito existe e faz parte do nosso dia a dia". "Uma pessoa dizer que a cor tem peso no seu trabalho é obviamente uma percepção negativa, porque mostra que a sociedade brasileira ainda mantém arraigados certos valores da época do Brasil escravocrata. Ou seja, quando falamos de negros continuamos dando importância aos valores externos e não aos valores intrínsecos de cada cidadão", diz Guercio.

"É um dado um pouco chocante", diz a pesquisadora do IBGE Ana Lúcia Saboia em alusão à pesquisa sobre raça e cor. Ela destaca, no entanto, que o instituto não pôde chegar a outras conclusões a partir das respostas encontradas no estudo, mas que pretende aprofundar melhor o tema em futuros levantamentos.

"Estamos estudando como essa questão da cor e da raça está presente no debate público do país. Também estamos preocupados em fazer com que o nosso sistema de dados esteja sempre adaptado à realidade brasileira. Esse é um primeiro estudo para vermos como será daqui para frente", diz Ana Lúcia. (Valor)

Governo estuda cobrar menos INSS de domésticos
Objetivo é incentivar patrões a assinar a carteira de trabalho do empregado. Contribuição do patrão cairia de 12% para 8%; a do empregado, de 8%, 9% ou 11% para apenas 6%, no total de 14%.

O governo estuda reduzir a contribuição paga à Previdência Social para estimular o registro de empregados domésticos em todo o país.
Pode ainda ampliar o desconto na declaração anual do Imposto de Renda dado aos patrões que recolhem a contribuição previdenciária de seus empregados.
As informações são do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que está concluindo proposta para apresentar à presidente Dilma Rousseff. As duas mudanças fazem parte do que Lupi chama de "Simples para Domésticos".
O Brasil tem 7,2 milhões de trabalhadores domésticos, mas apenas 2 milhões (28%) têm carteira assinada.
Segundo o ministro, esse projeto tem como objetivo formalizar mais de 5 milhões de empregados domésticos e, consequentemente, aumentar a arrecadação.
De acordo com Lupi, está em estudo no Ministério do Trabalho a redução da alíquota da contribuição previdenciária para o empregado e para o empregador, hoje de 20% a 23% (8%, 9% ou 11% para o empregado e 12% para o empregador).
A proposta é reduzir a alíquota para 14%. Com isso, os patrões passariam a pagar 8% e os empregados, 6%.
Outra mudança permitirá que o empregador possa descontar do IR, quando fizer declaração no modelo completo, toda a parcela da contribuição patronal paga à Previdência. O desconto será proporcional ao salário pago.
Atualmente, os patrões têm direito a deduzir a contribuição patronal calculada com base em um salário mínimo, mesmo que pague e recolha a contribuição sobre um salário maior. (Folha)

Reclamações contra bancos crescem 40%

As queixas mais frequentes dos consumidores em relação ao sistema bancário são débitos não autorizados e serviços não contratados.

As queixas contra os principais bancos do País aumentaram 40% entre janeiro e junho comparado com o primeiro semestre de 2010. Os dados do Banco Central indicam que as reclamações - em que foram constatadas o descumprimento de normativos do Conselho Monetário Nacional ou do BC - contra o setor bancário voltaram a crescer após dois anos de queda.

Neste primeiro semestre, a média mensal de reclamações foi de 790 ante 564 nos primeiros seis meses de 2010. Vale lembrar que a quantidade de clientes avançou 7% no período. Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o aumento da base de correntistas contribuiu para parte da alta no volume de reclamações.

Entre os principais bancos do País, o Santander foi o que teve maior aumento de reclamações. No período, as queixas aumentaram 240%. Em seguida, aparecem Itaú (alta de 81%), Bradesco ( 22%) e Caixa Econômica Federal (20%). Há quem esteja na contramão: caíram as reclamações contra Banco do Brasil (recuo de 12%) e HSBC (-15%).

Pelos dados do BC, também é possível identificar quais as principais queixas dos consumidores. A reclamação mais recorrente é sobre débitos não autorizados ( 20,2%). Em seguida, estão serviços não contratados (10,1%), esclarecimentos incompletos (9,7%) e descumprimento de prazos (9,3%). Por fim, estão as operações não reconhecidas (6,2%).

O diretor da ouvidoria da Febraban, Francisco Calazans, diz que o motivo de os bancos estarem entre os mais reclamados é simples: "A relação entre o correntista e o banco é muito, muito próxima. Sem contar que, agora, os clientes são cada vez mais exigentes e sabem que podem reclamar. Esses dois fatores nos colocam mais para o alto do ranking", comenta o executivo.

No Procon de São Paulo, a queixa mais comum contra os bancos é em relação às transações eletrônicas não reconhecidas.

"O consumidor não reconhece o saque que foi feito na conta, uma transferência, ou um pagamento, por exemplo", diz Renata Reis, especialista do órgão. Outra queixa recorrente é sobre cobrança equivocada de alguma tarifa. Antes de buscar ajuda no órgão, 80% dos consumidores tentam uma solução diretamente com a empresa.

Para Renata, apesar do avanço tecnológico dos bancos, alguns clientes ainda têm dificuldade de fiscalizar diariamente se houve alguma movimentação irregular na conta. "A inclusão digital não é total no País. Os bancos disponibilizarem as informações na internet, mas existem consumidores que têm problemas para acessá-las", explica a especialista.

Caminho. Ao receber a reclamação do consumidor, o órgão envia uma carta preliminar para a empresa que tem a oportunidade de explicar o problema.

Se não houver uma solução por esse caminho, é aberto um processo administrativo que pode fazer com que a companhia seja autuada. (Estado)

BNDESPar privilegia grandes empresas
7 em cada 10 das principais companhias em que braço do BNDES tinha participação em 2010 estavam entre as 300 maiores. Em quase 40% dos casos BNDESPar figura como acionista há ao menos uma década; política é alvo de crítica.
Sete em cada dez das principais empresas nas quais o BNDES tinha participação acionária direta em 2010 estão entre as 300 maiores por faturamento no país.
A história do BNDES como acionista -via BNDESPar, seu braço de participações- das empresas listadas em suas demonstrações financeiras de 2010 é relativamente longa. Em quase 40% dos casos, a BNDESPar figura como acionista das empresas há ao menos uma década.
Os dados foram levantados pela Folha a partir da lista divulgada pela BNDESPar das 33 empresas nas quais seus investimentos somavam 85% do total da carteira de participações acionárias diretas do banco no ano passado.
O fato de a BNDESPar entrar com recursos em empresas de grande porte e de algumas participações acionárias do banco se estenderem por muitos anos motiva críticas de especialistas.
LONGE DO MANDATO -- Para analistas, o braço de participações do BNDES se distancia de seu mandato, que, segundo documento da própria empresa, é: "Apoiar o processo de capitalização e o desenvolvimento de empresas nacionais (...) principalmente através de participações de caráter minoritário e transitório, buscando oferecer apoio financeiro sob a forma de capital de risco".
"A BNDESPar vem se apresentando mais como uma fonte de recursos para as grandes empresas dos setores eleitos como prioritários pelo banco e menos como uma empresa que visa o fortalecimento do mercado de capitais", diz Rogério Sobreira, professor da Ebape/FGV.
Sobreira também critica a participação de longa duração da BNDESPar em algumas empresas grandes, como Fibria, Copel, Eletrobras, Vale e Petrobras. "É uma longa transitoriedade", ironiza.
COMPRA E VENDA -- A atuação da BNDESPar no mercado de ações de forma global (considerando todas as compras e vendas de papéis) é elogiada por analistas do mercado financeiro.
O executivo de uma corretora disse à Folha que os investimentos e as reduções ou vendas de participação (chamados desinvestimentos) têm seguido a boa prática de "vender na alta e comprar na baixa".
O problema, dizem analistas, é o fato de a BNDESPar manter participação significativa em grandes empresas por muitos anos.
A ideia de participações transitórias -ressaltadas pela BNDESPar como parte de seus objetivos- segue a lógica de ajudar as empresas a se fortalecer em um primeiro momento e, depois, caminhar com as próprias pernas.
Segundo especialistas, a longa duração de investimentos -principalmente em empresas grandes- restringe a capacidade da BNDESpar de ajudar as empresas de menor porte, que têm mais dificuldade de se financiar.
Segundo Ruy Quintans, economista do Ibmec, a BNDESPar perdeu sua função original de entrar como acionista em empresas não consolidadas para fortalecer o mercado de capitais.
Para ele, a BNDESPar (e o próprio BNDES) "privilegia setores e empresas escolhidos". "Essas escolhas não estão necessariamente sendo feitas com base no interesse da nação", dizQuintans. (Folha, domingo)

Aposentados e pensionistas poderão conferir hoje se têm revisão pelo teto
Aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que começaram a receber o benefício entre os dias 5 de abril de 1991 e 1º de janeiro de 2004 poderão conferir, no final da tarde de hoje, se terão a revisão do teto previdenciário.
A consulta pode ser feita pelo telefone 135 ou no sitewww.previdencia.gov.br.
Para fazer a consulta, o interessado deverá informar nome, número do benefício, CPF e data de nascimento. Ele não saberá de quanto será a revisão ""só se terá direito.
A revisão, garantida pelo STF (Supremo Tribunal Federal), dará aumento médio de R$ 240 para 117.135 segurados que tiveram o benefício limitado ao teto da época, mas que não tiveram as diferenças do reajuste extra do limite em 1998 e em 2004 incorporadas ao benefício. Até novembro de 1998, o teto era de R$ 1.081,50. Em dezembro, por uma emenda constitucional, o teto foi elevado para R$ 1.200. Quem já recebia o valor anterior não passou a receber o novo teto. O mesmo ocorreu em janeiro de 2004, quando outra emenda fixou o teto em R$ 2.400.
O benefício com o aumento será pago em setembro.
Além do reajuste ""que pode variar de acordo com a média de contribuição do segurado à época"", o INSS também irá pagar os valores retroativos a 131.161 segurados.
Haverá escalonamento. O primeiro lote, para 68.945 beneficiários, será pago em 31 de outubro para quem tem até R$ 6.000 para receber. Em 2012, outros dois lotes serão liberados: em 31 de maio, para os 28.122 segurados que têm direito a receber entre R$ 6.000,01 e R$ 15 mil; e, em 30 de novembro, para os 15.553 aposentados e pensionistas que receberão de R$ 15.000,01 a R$ 19 mil.
Os 15.661 segurados que têm crédito acima de R$ 19 mil só irão receber os atrasados em 31 de janeiro de 2013. (Folha)

FGTS só pode ser usado para compra de imóvel de até R$ 500 mil

Especialistas, embora reconheçam a função social do fundo, consideram que, diante da valorização imobiliária atual, teto deve ser revisto

O saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) só pode ser usado para compra à vista de imóveis que custem até R$ 500 mil. A princípio, a sensação é de que os responsáveis pela regra esqueceram de atualizá-la. Afinal, diante da tremenda valorização imobiliária atual, ainda é possível encontrar uma casa nesse preço?

Normas. Os trabalhadores que têm recursos no fundo de garantia só podem usá-lo para a compra do primeiro imóvel

Mário Avelino, presidente do instituto FGTS Fácil tem, na ponta da língua, a resposta para a pergunta. "Não importa a valorização. O FGTS tem uma função social. É simples: quem pode comprar uma casa por mais de R$ 500 mil à vista não precisa usar o FGTS." Ele continua: "O FGTS que está depositado serve para dar crédito imobiliário barato a quem precisa, entre outras funções sociais. Se há saque, diminui-se o volume de crédito a ser concedido."

Quem vai apelar ao financiamento, no entanto, pode usar os recursos do FGTS para imóveis de qualquer valor. "Se há financiamento, é possível usar o saldo do fundo em imóveis de qualquer valor", acrescenta Avelino.

Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper (ex-Ibmec São Paulo), embora reconheça o papel social do FGTS, critica o teto de R$ 500 mil para uso do fundo na compra de imóveis. "Acho injusto haver esse teto, sobretudo por conta dos altos preços do imóveis", diz.

Ele lembra que o teto de R$ 500 mil foi revisto em 2009. "Antes disso o valor máximo era de R$ 200 mil", reforça.

A antecipação da prestação do financiamento, diz Chaia, também não pode ser feita se a avaliação do imóvel resultar em valor mais alto que o teto de meio milhão. "Então o trabalhador, que acumulou os recursos no fundo, fica engessado e não pode usar os recursos", critica.

Outras regras. Existem outras regras para o uso do FGTS na compra de imóveis. Uma delas diz que o fundo só pode ser utilizado se o trabalhador não tiver outro imóvel na cidade. Isso também é para reforçar a função social do fundo.

"Assim, ninguém compra o imóvel como investimento, mas como moradia", comenta Avelino, do FGTS Fácil. Também por isso, o trabalhador precisa comprovar que sua ocupação principal é no mesmo município em que está o imóvel desejado.

Expurgos da TR. Desde 1990, a remuneração do fundo de garantia é calculada com base na Taxa Referencial (TR), que é um índice regulamentado pelo Banco Central. "É uma péssima rentabilidade", comenta o professor do Insper.

Avelino lembra, no entanto, que quando o FGTS foi criado, em 1966, a remuneração proposta era outra. "Na época, foi determinado que haveria correção monetária. Quando criaram a TR, no entanto, a rentabilidade passou a ser essa taxa", explica.

Para ele, há uma injustiça nessa "troca de regra" no meio do jogo. Ele compara essa questão com os expurgos inflacionários da poupança dos planos Collor, Bresser e Verão. "Os trabalhadores perderam muita rentabilidade com isso", diz.

Para comprovar o tamanho da perda de cada trabalhador, o FGTS Fácil vai disponibilizar em seu site, a partir da segunda quinzena de agosto, uma tabela para que cada um calcule a sua perda.

"A partir daí, queremos estimular essas pessoas a irem à Justiça pleitear a diferença. Vamos ver no que dá", comenta Avelino. (Estado)

Dilma deixa aliados apreensivos

A decisão da presidente Dilma Rousseff de fazer a faxina no Ministério dos Transportes causou apreensão nos aliados, menos no que se refere ao mérito e mais à forma como está sendo implementada. Dilma anunciou sua intenção de reestruturar o setor de infraestrutura do país em uma conversa com cinco principais jornais do país, entre os quais o Valor.

A presidente disse que enviará os novos nomes da diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec ao Congresso assim que os parlamentares retornarem do recesso, no início de agosto. "Todos sairão", afirmou, acrescentando que não se trata de "juízo de valor", mas de ampla reestruturação no setor.
Teme-se, especialmente no PT, que o confronto possa desestabilizar a coalizão governista e provocar problemas de governabilidade para Dilma, a curto ou médio prazos.
A presidente, ao contrário, não considera qualquer possibilidade de problemas ou rupturas com aliados. "Tenho tido, com a base aliada, uma relação muito madura". Aliás, disse, a área dos transportes, responsável por boa parte das obras de infraestrutura, "tem que funcionar". Ela não concorda com a definição de que está fazendo uma "faxina" no setor contaminado por denúncias de corrupção. "O que estamos fazendo é uma completa renovação para dar eficiência ao Ministério dos Transportes", afirmou.
O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que governou a maior parte de seus dois mandatos com essa mesma base aliada, já manifestou preocupação com a reação dos congressistas, que costuma acontecer sem aviso prévio, quando o governo baixa a guarda em alguma comissão técnica.
Pode ser desde uma convocação do presidente do Banco Central para dar explicações sobre o aumento da taxa de juros até a consignação de duas ou três assinaturas que faltam à oposição para criar uma comissão parlamentar de inquérito. O crítico escândalo do mensalão começou quando um burocrata, filmado enquanto recebia propinas, desvendou o esquema do PTB nos Correios. Foi a pior crise do governo Lula.
Em avaliações feitas na cúpula do PT, o problema agora é quanto ao método: Dilma expôs praticamente todo o primeiro escalão do corpo técnico do setor dos Transportes, independentemente de prova, quando a presunção da inocência é o princípio constitucional. No PT, há dúvidas sobre o envolvimento do secretário Hideraldo Caron no esquema do PR; enquanto no próprio Partido da República, a ala ligada ao senador Blairo Maggi (MT) acusa, nos bastidores, o grupo ligado ao deputado Valdemar Costa Neto (SP) de ter operado o esquema de cobrança de propina no Ministério dos Transportes.
Chama atenção o fato de o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ter assumido a defesa de um dos grupos em disputa no PR (o de Blairo Maggi), ao declarar a "inocência" do ex-diretor-geral do Dnit Luiz Antonio Pagot. A própria Dilma, na conversa que manteve na manhã de sexta-feira com jornalistas deu mais importância à reestruturação que pretende fazer na área de infraestrutura que às questões éticas envolvidas no caso.
A presidente disse que "não se deve demonizar" a política, mas pesquisas que chegaram ao Palácio do Planalto registraram aprovação alta à iniciativa de Dilma. Caiu particularmente bem na opinião pública a expressão "faxina" moral. A ofensiva de Dilma contou com a aprovação tanto do eleitorado tradicional de Lula quanto da classe média. Mas só esta última identifica o esquema que Dilma desmontou nos Transportes como resultado do loteamento de cargos no governo Lula.
Outra preocupação dos partidos aliados do governo é com a "impulsividade" da presidente. Lula, quando era apresentado a um problema, não resolvia nada, ouvia outra pessoa e levava a questão ao limite. Dilma reage na hora. Há registro dos episódios em que ela teve de voltar atrás, caso da Lei de Acesso à Informação (primeiro, ficou com o projeto mandado por Lula ao Congresso que prevê o sigilo eterno dos documentos ultrassecretos, agora está com o projeto aprovado na Câmara, que prevê o prazo de 25 anos renováveis por outros 25 anos).
Houve também a derrota do governo na votação do Código Florestal na Câmara, quando ela se posicionou frontalmente contrária a uma emenda do PMDB (anistia a desmatadores), posição que provavelmente vai sofrer algum ajuste quando for votada no Senado, na reabertura do Legislativo.
No aspecto das relações com o Congresso, há também a tentativa do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de pressionar publicamente a presidente a nomear seus afilhados políticos para Furnas. Dilma cobrou do PMDB, que por sua vez "enquadrou" Cunha.
Nas substituições seguintes no ministério (Casa Civil e Relações Políticas), o PMDB sequer apresentou indicações, mas o partido, assim como os demais aliados, demonstra-se apreensivo com a "impulsividade" de Dilma e aguarda o momento oportuno para exigir o espaço que considera adequado ao seu tamanho no governo. A "impulsividade" da presidente não só expõe aliados, mas pode levar a brigas por meio da imprensa. Se um determinado grupo deseja derrubar o outro, manipula dossiês na expectativa de que a presidente reaja às notícias. "É um risco", diz um interlocutor de Lula.
No Palácio do Planalto, argumenta-se que a presidente deu ao PR a mesma oportunidade dada ao PMDB no episódio Cunha: a de o próprio partido resolver o problema. Primeiro, Dilma determinou o afastamento da cúpula dos Transportes, mas manteve no cargo o senador Alfredo Nascimento para que ele implementasse as mudanças.
Nascimento, no entanto, não implementou as demissões exigidas pela presidente, faltou a uma reunião no Palácio do Planalto e ainda foi atingido pela denúncia de que crescera mais de 56.000% o faturamento da empresa de um de seus filhos, no período em que era ministro dos Transportes no governo Lula.
Posteriormente, Dilma chamou Blairo Maggi para o cargo, justamente o padrinho do diretor do Dnit que mandara afastar. Blairo recusou, sob a alegação de que não poderia misturar suas atividades públicas e privadas (ele já foi o maior produtor de soja do Brasil). Dirigentes do PT recomendam atenção especial a Maggi porque chegou ao conhecimento da cúpula que ele tem feito ameaças de retaliação.
É consenso entre dirigentes da base aliada, especialmente do PT e do PMDB, que Dilma abriu um contencioso com o Congresso que pode causar constrangimentos. Em setores do PT mais ligados a Lula, a avaliação é que a presidente resolveu "marcar" o seu governo com a moralização dos espaços do Estado capturados por interesses políticos que sequer têm pudor de disfarçar a chantagem feita nos bastidores.
PT e PMDB também avaliam que a nova coordenação política do governo ainda precisar ser ajustada. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, deu mais exposição à articulação política, mas ainda tem sido pouco efetiva. Além disso, deixou recentemente um vice-líder do PR esperando por mais de uma hora. A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) voltou-se às questões técnicas, em dobradinha com Miriam Belchior (Planejamento). Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete de Lula, tende a crescer na coordenação política, e no segundo semestre será mais testado pelos movimentos sociais, com a chegada do período mais intenso das negociações salariais. (Valor)

Recife é o maior consumidor de uísque, Curitiba lidera em xampu anticaspa e o Rio em camarão

Recife lidera o consumo nacional de uísque - que ainda leva pedrinhas de gelo feitas de água de coco em plena praia. Já o orgulho de ser gaúcho fala mais alto na hora de optar entre a cerveja produzida na região e uma outra vinda de outros estados. Cariocas carregam menos na maquiagem do que brasilienses ou goianas. E a margarina dos baianos leva mais sal do que a dos paulistas. Diversidade. É essa a palavra que define os inúmeros tipos de consumidores espalhados do Oiapoque ao Chuí. Investigar para conhecer. É essa a estratégia da indústria e do varejo para vender - e muito - para esses milhões de brasileiros ávidos para ir às compras.

- As companhias já perceberam que não há como vender sem entender e respeitar as peculiaridades de cada região do país. Assim, por bem ou por mal, são enquadradas pelo consumidor. Mas erram. Como o gaúcho, que é muito orgulhoso de sua origem e tradição, vai aceitar uma loja que traz Bahia no nome e ainda tem como símbolo um cangaceiro? - diz Carla Barros, professora da UFF e da ESPM, citando ainda o caso da Coca-Cola que, em épocas da festa do boi de Parintins, no Amazonas, muda a cor de sua lata para azul. - A companhia precisou de uma autorização de Atlanta para, num período curto, ser tingida de azul. Respeitou o consumidor regional e garantiu mercado. Até porque a gigante já vinha perdendo para a Pepsi.

As companhias já perceberam que não há como vender sem entender e respeitar as peculiaridades de cada região -- Nas regiões Norte e Nordeste do país, por exemplo, a relação com aromas e temperos é extremamente forte. A ponto de muitos usarem perfume como "bom ar" em suas residências. Não é toa, portanto, que cerca de 60% do mercado de fragrâncias da Avon se concentrarem nessas duas regiões. Ignorar essas particularidades é fatal para indústrias que visam a atuar nesses mercados, avisam especialistas.

- Especialmente no Nordeste, a pessoa quer que os demais percebam o seu perfume. É a coisa do cheiro, que explica expressões como "vou te dar um cheiro". Ao contrário do Sul, onde um perfume forte pode ser mal visto por poder incomodar o outro - comenta Luis Renato Bueno, diretor regional da Natura.

O clima da cidade, os hábitos da região, o folclore, a cultura local, a religião dão pistas de como pensam, agem - e compram - as famílias de determinados locais. Só assim se descobre, por exemplo, que pequi não pode faltar num supermercado em Goiânia. Ou que é em Curitiba que se usa mais xampu anticaspa, já que os frequentes banhos quentes causam caspa. E famílias do Nordeste usam leite em pó para engrossar papinhas e mingaus. Já o protetor solar é mais vendido no Sul, onde as pessoas são mais brancas e mais conscientes dos efeitos nocivos do sol. Na terra dos gaúchos, por sua vez, supermercado tem que ter erva na gôndola para fazer chimarrão. (Globo)