quinta-feira, 28 de julho de 2011

UGT acompanha movimentação do governo para conter alta do Real que desindustrializa o país e ameaça os empregos

Dólar tem maior alta do ano após novas medidas

Moeda americana sobe 1,3% com criação de imposto para derivativos, mas efeito no longo prazo é incerto. Decisão do governo pode inibir especulação, mas aumentará custos para exportadores e empresas endividadas.
O governo anunciou ontem novas medidas para inibir a especulação com o dólar no mercado financeiro, em mais uma tentativa de combater os efeitos negativos da enxurrada de dólares que atinge a economia brasileira.
As medidas afetam o mercado de derivativos, instrumentos financeiros que empresas e investidores usam para se proteger contra variações inesperadas na taxa de câmbio ou simplesmente para especular com o dólar.
O primeiro efeito das medidas foi conter a queda do valor da moeda americana, cuja cotação no mercado brasileiro subiu ontem 1,3% e atingiu R$ 1,557. Foi a maior alta observada em um ano.
Mas o impacto das medidas no longo prazo ainda era considerado incerto ontem. Uma das únicas certezas era que elas aumentarão os custos que as empresas têm para evitar perdas em seus contratos de exportação e com dívidas contraídas no exterior.
O governo anunciou que passará a cobrar 1% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em novas transações feitas por investidores que tiverem mais de US$ 10 milhões em negócios no mercado de derivativos e quiserem aumentar suas apostas.
Ao apresentar as medidas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a alíquota do novo imposto poderá ser elevada para até 25% se o governo julgar necessário. "Vamos tirar rentabilidade da especulação", afirmou.
O secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, reconheceu que as medidas trarão custos para os exportadores, um dos principais motores da atividade econômica no país hoje. Mas disse que esses custos poderão ser compensados se a queda do valor do dólar for contida.
O dólar barato ajudou o governo a conter a inflação nos últimos meses, barateando produtos importados que competem com mercadorias nacionais. Mas ele torna as indústrias exportadoras menos competitivas no exterior.
O governo adotou diversas medidas nos últimos meses para conter a entrada de dólares no país, taxando aplicações financeiras e empréstimos externos de curto prazo, mas não conseguiu evitar a valorização do real em relação à moeda americana.
Muitos investidores driblaram as restrições impostas pelo governo e continuaram trazendo dólares para aplicar no Brasil, que é hoje um país atrativo para os investidores por pagar taxas de juros muito superiores às encontradas nos EUA e na Europa.
INTERVENÇÃO -- Operadores do mercado de câmbio disseram que as medidas anunciadas ontem dificilmente mudarão isso, mas poderão coibir operações financeiras mais arriscadas como as que muitas empresas teriam feito para lucrar especulando com o dólar.
Muitos investidores se assustaram com o poder que as medidas dão ao governo para intervir de maneira agressiva nos negócios com derivativos. "A medida autoriza uma ampla intervenção no mercado", disse Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que as novas medidas têm o objetivo de garantir a estabilidade financeira do país e não afetarão os investimentos estrangeiros no setor produtivo, que atingiram nível recorde nos últimos meses. "O Brasil continua sendo receptivo a investimentos estrangeiros", afirmou. (Folha)

Entenda por que o governo quer atacar a especulação no câmbio com derivativos

O novo pacote de medidas cambiais lançado pelo governo federal nesta quarta-feira pegou investidores e especuladores de surpresa e deixou dúvidas no mercado. Depois que o dólar comercial bateu o patamar de R$ 1,537 na terça-feira, o governo tenta agora conter a desvalorização do dólar no mercado futuro.

Segundo a teoria econômica mais aceita, a taxa de câmbio do dólar comercial, ou seja, aquele negociado no mercado à vista entre bancos, é estipulada pelo preço do dólar futuro, um contrato derivativo negociado em pregão da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa) e em balcão. Então, se o dólar futuro cai, o dólar à vista também se desvaloriza.

- No Brasil, por razões históricas, o mercado futuro é mais líquido que o mercado à vista. Bancos operam (no mercado à vista) fazendo momentaneamente posições vendidas (no mercado futuro) - explica o professor Márcio Garcia, da PUC-Rio.

Exemplo de como a demanda por dólares no mercado à vista não afeta o preço do dólar futuro foi o que aconteceu com o fluxo cambial do país em junho. Foi um mês em que a saída de dólares superou a entrada em US$ 2,556 bilhões no Brasil, o que indicaria a falta de dólares e, portanto, motivo para valorização. Mesmo assim o dólar comercial perdeu valor ante o real. Isso porque, ao mesmo tempo, o dólar manteve queda no mercado futuro. Daí a razão para o governo intervir no dólar futuro para conter a queda no mercado à vista.

Entenda como o dólar cai no mercado futuro -- Ao comprar ou vender contratos de dólar futuro, o investidor faz uma aposta: se acredita na valorização do dólar, ele compra contratos, o que é chamado de manter posição comprada; se espera uma queda, ele vende contratos, na chamada posição vendida. Cada contrato vale US$ 50 mil e tem uma data de vencimento futura quando a negociação é interrompida. Até lá, o negociador vende o contrato e é remunerado pela diferença entre a cotação do dólar à vista no momento da compra e a cotação na hora da venda, e vice-versa para os compradores. Então, quem compra o contrato ganha dinheiro com a valorização do dólar, e quem vende, perde.

Acontece que as condições atuais favorecem a aposta de investidores na queda do dólar, como lembra o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. O dólar está em queda internacionalmente devido ao descrédito da recuperação econômica americana e ao risco de calote da dívida dos EUA. Enquanto isso, o Brasil atrai investimentos especulativos com a taxa de juro real mais elevada do mundo.

Essa tendência de desvalorização do dólar ante o real é agravada pelo poder de fogo dos estrangeiros no mercado de dólar futuro, principais negociadores desse mercado e, portanto, quem dita os preços dos contratos. Só para exemplificar: investidores estrangeiros, na maioria fundos hedge que vivem de ganhar lucros com variação de moedas, tinham acumulado na terça-feira apostas de US$ 4,2 bilhões na desvalorização de contratos de dólar e US$ 18,6 bilhões na desvalorização de contratos de cupom cambial (DDI).

Como ocorre o ganho do investidor de derivativo -- Para calcular qual o ganho ou a perda de um investidor de derivativo, é preciso entender que os US$ 50 mil de valor atribuído a cada contrato são apenas um valor de referência. Se o investidor comprou 10 contratos, dá um valor referencial de US$ 500 mil. Então, o ganho ou a perda equivale à diferença do valor referencial entre a cotação do dólar futuro no momento da compra e a cotação do dólar futuro no momento da venda.

Para comprar cada contrato, o desembolso de dinheiro, ou seja, a quantia depositada na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa) varia diariamente. Por exemplo, na terça-feira, o depósito necessário na forma de garantia para comprar um único contrato de dólar com vencimento em agosto de 2011 era de R$ 9.354,52. Ao vender o contrato, a garantia é devolvida. A garantia serve para o caso de o investidor não depositar a variação devida pelo período em que manteve o contrato. Ou seja, se perdeu US$ 5 mil enquanto segurou o contrato durante a desvalorização do dólar futuro, essa quantia será tomada do depósito de garantia pela BM&F, que zela pelas remunerações adequadas entre investidores. (O Globo)

Crédito em alta ainda puxa lucro de banco
Medidas do Banco Central reduzem ritmo de elevação das operações, mas não revertem tendência de aumento. Financiamentos foram responsáveis por 30% do resultado do Bradesco, que cresceu 21,7% no 1º semestre.

Apesar das medidas do governo para esfriar o crédito, os bancos continuaram expandindo seus financiamentos no primeiro semestre.
Bradesco e Santander, que divulgaram seus resultados ontem, tiveram lucros puxados, principalmente, pelo aumento nos financiamentos.
No Bradesco --que lucrou R$ 5,487 bilhões, 21,7% a mais que nos seis primeiros meses de 2010--, as operações foram responsáveis por 30% do resultado do banco. A carteira de crédito cresceu 21,1%, para R$ 298,3 bilhões.
Os financiamentos no Santander somaram R$ 171,4 bilhões --17% mais do que em 2010. No ano passado, o ritmo de alta foi de 19%.
"As medidas do governo impactaram o crédito à pessoa física, que continua crescendo, mas em ritmo menor", afirma Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.
No Bradesco, o destaque foram os financiamentos às grandes empresas, que cresceram 23,6%. Para os consumidores, houve alta de 14,6%.
"O crescimento de crédito está nos agentes que cuidam da oferta, e há um aumento menor entre aqueles que demandam, ou seja, as pessoas físicas", diz Luiz Carlos Trabuco, presidente do banco.
"E acho que essa vai ser a tônica no decorrer do ano, em razão das medidas que o Banco Central tem adotado."
QUEDA -- O aumento do crédito, no entanto, não foi suficiente para elevar o lucro do Santander, que caiu 9,5% no semestre, para R$ 1,824 bilhões.
Ainda assim, o Brasil já responde por 25% dos ganhos do grupo no mundo --em 2010, contribuía com 23%.
"Tivemos uma performance abaixo da dos concorrentes. Mas construir uma franquia com o resultado da fusão de dois bancos semelhantes leva tempo. Os investidores têm que ter alguma paciência", disse Marcial Portela, presidente do Santander.
"Vamos ver os grandes bancos apresentando lucros maiores neste ano. A exceção deve ser o Santander, que ainda não achou um foco no país", afirma Rodrigues.
Ontem, as ações de ambos fecharam em queda: as preferenciais do Bradesco caíram 1,23%; nas Units do Santander, a baixa foi de 6,64%. (Folha)

Planos de saúde: usuário terá direito à mudança sem carência a partir desta quinta-feira

Mais de 13 milhões de usuários de planos de saúde terão direito de mudar de operadora sem precisar cumprir novos prazos de carência a partir desta quinta-feira. As operadoras tiveram 90 dias para se adaptar à nova regra estabelecida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A norma deverá beneficiar clientes de planos de saúde individual, familiar e coletivo por adesão (contratado por conselhos profissionais, entidades de classe, sindicatos e federações). Esse último grupo representa mais de 5 milhões de usuários. A ANS espera aumentar a concorrência no mercado e melhorar o atendimento ao consumidor.

Para fazer a mudança de plano, o usuário precisa estar em dia com o pagamento das mensalidades. A nova regra permite que ele mude de um plano de abrangência municipal, por exemplo, para outro com cobertura em todo o estado ou nacional. O usuário terá quatro meses a partir do mês de aniversário do contrato para fazer a mudança, e não mais dois meses como era anteriormente.

A ANS criou também uma portabilidade especial para usuário de plano de saúde que está sob intervenção da agência ou em processo de falência, e para quem perdeu direito ao plano deviso à morte do titular. Nesses casos, a mudança não está limitada ao mês de aniversário do contrato é não há necessidade de permanência mínima no plano para pedir a modificação.

Entretanto, a nova norma não vale para planos coletivos contratados por empresas para seus funcionários, os chamados planos empresariais. (O Globo)

Brasileiro é o 2º mais insatisfeito com seu carro

Gastos elevados após a compra reduzem nível de satisfação com os automóveis; pesquisa mostra que mais satisfeitos são os mexicanos.

O brasileiro é um dos menos satisfeitos com a posse do seu veículo, principalmente por causa dos altos custos pós- compra com manutenção, reparos e combustível. Entre sete países, o Brasil está atrás apenas da Itália, segundo pesquisa inédita feita pela consultoria J.D. Power. A insatisfação é maior entre donos de modelos mais baratos. O País também é o penúltimo na lista onde os veículos apresentam maior índice de defeitos.

Pesquisa feita com proprietários de veículos adquiridos num intervalo de dois anos mostra que, numa escala de até 1 mil, a satisfação dos brasileiros com seu automóvel atinge 743 pontos, enquanto a dos italianos é de 729 pontos. O maior índice é dos mexicanos (889 pontos), seguido por alemães (807), ingleses (794), canadenses (789)e franceses (753).

Nos sete países citados, a pesquisa envolve custo de propriedade, design, serviços prestados pelas concessionárias e qualidade do veículo. No Brasil, foram ouvidas 5 mil pessoas durante o mês de maio. Referência em países da Europa e nos Estados Unidos, a pesquisa sobre a satisfação dos proprietários de veículos foi iniciada em 1995 e é chamada de Vehicle Ownership SatisfactionStudy (Voss), nome mantido no País, onde será feita anualmente.

A estreia local já tem uma particularidade. "Na maioria dos países, o principal fator de insatisfação dos consumidores é o design; no Brasil, é quanto eles gastam para ter o carro, especialmente entre donos de modelos compactos", diz Jon Sederstrom, diretor da J.D. Power do Brasil. Segundo ele, 20% dos consultados nessa categoria afirmaram que os gastos com serviços foram muito maiores do que o esperado.

O item envolve consumo de combustível, seguro e manutenção/reparo e foi citado por 31% dos pesquisados como principal fator de insatisfação. A aparência, desempenho e conforto vêm em segundo lugar (28% das respostas), os serviços das revendas em terceiro (23%) e, por último, a qualidade e confiabilidade do veículos (17%).

"Isso mostra que os brasileiros são apaixonados por carros, mas são práticos", avalia Sederstrom. A J.D. Power tem escritórios em mais de 40 países e abriu filial no Brasil há um ano. Nos EUA, 60% dos compradores de carros novos levam em conta os resultados da pesquisa no momento da compra.

Segundo Sederstrom, o objetivo da pesquisa é ajudar o consumidor a escolher um produto e contribuir para que o fabricante entenda as expectativas e necessidades dos clientes e possam melhorar sua atuação em toda a cadeia. "Numa pontuação de um a dez, o consumidor que mostra satisfação na casa dos 9 e 10 pontos tem 2,5 vezes mais chances de ser fiel à marca do que aquele que tem pontuação abaixo disso". O executivo cita ainda que o número de problemas e defeitos para cada 100 carros no Brasil também só fica atrás da Itália, mas esses dados são sigilosos.

Campeões. A pesquisa apresenta um ranking com os carros de maior satisfação entre os consumidores. Numa lista com os 37 modelos mais vendidos no País, o campeão entre os subcompactos é o novo Gol (G5), da Volkswagen, com 731 pontos. Entre os compactos, segundo a classificação da consultoria, o Volkswagen CrossFox tem a melhor pontuação (790), enquanto o líder entre os médios é o Honda Civic (830).

Quando avaliada a marca, a campeã em satisfação é a Toyota, seguida por Honda e Citroën. Sederstrom explica que nessa categoria entram todos os modelos do fabricante. A marca com mais produtos acaba tendo a pontuação diluída, daí a explicação para a Volkswagen, com quatro automóveis citados na lista dos nove mais pontuados, ficar em quinto lugar nesse ranking. Modelos mais completos também têm melhor avaliação.

Os fabricantes dos três modelos que ficaram em primeiro lugar - Volkswagen e Honda - vão receber da empresa que fez a pesquisa um troféu confeccionado pela mesma empresa que produz o Oscar. (Estado)

Medidas são ''péssimas'', diz Loyola

Para ex-presidente do BC, as medidas cambiais adotadas pelo governo tendem a enxugar a liquidez no Brasil e aumentar no exterior.

O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, classificou como "péssimas" e "desesperadas" as novas medidas cambiais, anunciadas ontem pelo governo. Para ele, um dos efeitos colaterais das medidas será a exportação do mercado de derivativos do Brasil para a Bolsa de Mercadorias e Futuros de Chicago.

"No fundo, isso tende a reduzir a liquidez aqui e aumentar no exterior. É uma medida que vai contra o Brasil", reclamou Loyola, ao explicar que os estrangeiros que investem no Brasil usam a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) para fazer um hedge (proteção) de sua posição.

Ao lançar mão de mecanismos para encarecer as operações, o governo, diz Loyola, estimula o investidor estrangeiro a optar por fazer esse hedge no exterior. "O mercado de Chicago negocia várias moedas. O real não tem muita liquidez lá porque tem aqui. Não sou purista, acho que eventualmente você tem de tomar medidas drásticas em situações de emergência. Mas elas têm de, pelo menos, funcionar. Essa não funciona."

Loyola não acredita numa reversão da tendência de queda do dólar por causa desse pacote cambial e diz que os efeitos da MP são apenas temporários. "Acho essa medida péssima, muito ruim. Quase uma medida desesperada, que não vai gerar efeito nenhum, vai gerar mais distorções." Segundo ele, a ideia de taxar o mercado de derivativos deve criar ainda uma insegurança jurídica, com os investidores estrangeiros temendo novas mudanças de regras.

Investidores. A maior parte dos investidores estrangeiros ouvidos pela Agência Estado criticou a medida. "É uma medida sem noção, pois vai afetar o mercado de hedge do País", disse o chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities, em Nova York, Tony Volpon. "A intenção é claramente parar o crescimento de posições vendidas em câmbio, que estão em torno de US$ 45 bilhões na BM&F e pelo menos US$ 70 bilhões na Cetip."

O executivo vê a medida como extremamente nociva para as empresas que captam recursos no exterior e fazem hedge para se proteger do risco, pois o custo de proteção vai aumentar muito e afetar a economia real." Segundo Volpon, por causa das medidas, as mesas de câmbio dos bancos estão praticamente paralisadas, pois há muita incerteza.

Maior poder. Para Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do BC, as medidas podem ser consideradas as mais amplas até agora no câmbio, principalmente pela possibilidade de aumentar o IOF até 25%, afirma. "Na prática, significa quase que aumentar (o tributo) indefinidamente." Para o economista, as medidas significam "mais prudência na política cambial".

Assis afirma que as medidas têm grande poder de interferência, ao alcançarem investidores estrangeiros e domésticos, e mostram que é "falaciosa a ideia de que não há o que fazer" no câmbio.

"O governo mostrou que há o que fazer e há outros instrumentos que podem ser eventualmente acionados. Vemos hoje tentativa de refrear a valorização do real que pode ser aperfeiçoada nos próximos dias. Interferência que foi amplamente antecipada pelo próprio governo", disse ao serviço AE Broadcast Ao Vivo, da Agência Estado. Para ele, o governo tem ferramentas diversas para atuar. (Estado)

Governo tenta conter especulação, mas dólar deve continuar baixo

Para analistas, medidas têm efeito de curto prazo e cenário externo ainda contribui para alta do real.

Da BBC Brasil em São Paulo - As medidas anunciadas pelo governo nesta quarta-feira para impedir a queda do dólar, visando conter a especulação, deverão ter apenas um efeito de curto prazo sobre a cotação da moeda americana, que deverá permanecer baixa por mais tempo, segundo afirmam analistas entrevistados pela BBC Brasil.

O Diário Oficial da União desta quarta-feira publicou uma Medida Provisória que autoriza a cobrança de até 25% de IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros, ou Imposto sobre Operações Financeiras) em negociações de títulos ou valores mobiliários com contratos de derivativos.

O derivativo é um ativo financeiro cujo preço deriva de outro ativo. As operações com derivativos servem geralmente como proteção contra a oscilação dos preços futuros, mas funcionam também como uma aposta dos investidores em quedas maiores do dólar.

Após o anúncio, o dólar comercial chegou a subir 2%, em um pico de R$ 1,57, mas fechou com valorização de 1,35%, a R$ 1,559.

Especulação -- Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a medida visa combater a especulação com o mercado futuro de dólar.

"Há excesso de dólares vendidos no mercado futuro. Estão apostando que o dólar vai se desvalorizar ou que o real vai se valorizar e eles ganham quando isso acontece", disse.

Para o economista Alexandre Schwartsman, a especulação é apenas uma parte do processo de valorização do real frente ao dólar. Segundo ele, o cenário externo, com os Estados Unidos e a Europa em crise, e a alta do preço das commodities fazem com que a moeda brasileira mantenha uma tendência de apreciação.

"O câmbio está reagindo da maneira como ele deveria reagir", disse Schwartsman à BBC Brasil. "(A valorização do real) parece muito mais um resultado dos outros fatores que determinam a variação do câmbio".

O economista acredita que o dólar deverá se manter na faixa entre R$ 1,50 e R$ 1,55 nos próximos meses.

Já o professor de Macroeconomia e Finanças do Insper José Luiz Rossi afirma que a taxação das operações com derivativos terá uma eficiência de curto prazo, possivelmente diminuindo o ritmo de queda do dólar, pela diminuição das posições dos investidores.

"No entanto, em vez de adotar o capital de curto prazo, o mercado deverá adotar os de médio e longo prazo, mantendo o fluxo de capitais e investindo no Brasil de qualquer jeito", diz Rossi.

Para o professor do Insper, as previsões de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para os próximos anos, embora representem uma baixa em relação a 2010, dão uma perspectiva de tranquilidade para que os investidores estrangeiros continuem injetando capitais no País.

"Os investidores olham o cenário lá fora e veem essa incerteza, depois eles olham para o Brasil e veem um ambiente mais tranquilo, então apostam aqui."

Inflação

Schwartsman também acredita que a entrada de capital externo deverá fazer com que o resultado das medidas do governo seja de curto prazo, e afirma que, se por um lado, a taxação dos negócios com derivativos deve desacelerar a alta do real, por outro, terá o efeito de pressionar a inflação, embora não de forma decisiva.

"O câmbio não é um instrumento pra isso (controlar a inflação), mas nos últimos meses ele tem sido uma força no sentido de manter disciplinados alguns preços, ao favorecer as importações", diz o economista.

"Se estivéssemos em um momento de menor pressão inflacionária, a influência do câmbio talvez sequer seria notada." (Estado/BBC Brasil)

Balanços de Bradesco e Santander trazem números díspares

Os bancos Bradesco e Santander atravessaram os meses entre abril e junho sob o mesmo cenário macroeconômico. Mas os balanços divulgados por ambas as instituições financeiras ontem seguiram rumos bastante diferentes.

O Bradesco mostrou lucro crescente, forte expansão da carteira de crédito e conseguiu segurar as rédeas da inadimplência, nos números comparados com o mesmo trimestre de 2010. As ações preferenciais do banco tiveram queda de 1,2% no dia, menor que o tombo de 1,8% do Ibovespa, ficando cotadas a R$ 28,83.

Já o Santander fez acender a luz amarela ao apresentar resultado líquido menor, crescimento mais modesto das concessões de empréstimos e deterioração da qualidade da carteira. O humor dos acionistas foi sentido na bolsa, já que os papéis (units) do banco tiveram a maior queda do Ibovespa: 6,38%, a R$ 14,8.

O Bradesco teve lucro líquido de R$ 2,78 bilhões, aumento de 3,1% em relação ao primeiro trimestre e de 15,8% na comparação com o segundo trimestre de 2010.

A combinação do crescimento do crédito e das receitas de serviço contribuiu para impulsionar o lucro do banco da Cidade de Deus. A carteira de crédito encerrou junho com R$ 298,3 bilhões, expansão de 21,3% ante junho de 2010 e de 4,1% em relação ao primeiro trimestre do ano. As receitas de serviço totalizaram R$ 3,75 bilhões no segundo trimestre, incremento de 13,9% na comparação com igual período do ano passado e de 6,9% ante o primeiro trimestre de 2011.

Do lado do crédito, os financiamentos para grandes empresas foram destaque. No período de 12 meses encerrados em junho, o avanço da carteira para grandes empresas (incluindo debêntures e notas promissórias) foi de 28,1%, para R$ 124,87 bilhões. No segmento de pessoa física, o crescimento nesse mesmo intervalo foi de 14,6%, "em linha" com a perspectiva do Banco Central.

O índice de atrasos superiores a 90 dias em relação aos ativos de crédito encerrou junho em 3,6%, leve aumento de 0,1 ponto percentual na comparação com março. Segundo o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, o aumento de inadimplência foi provocado, basicamente, por uma mudança no modelo de contabilização dos atrasos, reflexo da migração das operações de processamento das transações de cartões, no fim do ano passado, para uma nova empresa, a Fidelity.

"Passamos a capturar mais rapidamente o atrasos no crédito parcelado pelo lojista, daí o impacto inicial", explicou Trabuco Cappi. O Bradesco projeta uma estabilização nos níveis de inadimplência no segundo semestre. "Olhamos linha por linha ainda nesta manhã [de ontem] e não vimos nada de diferente tanto na jurídica quanto na física", ressaltou Domingos Abreu, vice-presidente do Bradesco.

O Santander, pelos padrões contábeis brasileiros, registrou uma queda de 19% no lucro na comparação com igual período de 2010, com R$ 811 milhões.

Uma combinação de fatores negativos levou ao encolhimento da última linha do balanço. Para começar, carteira de crédito da instituição não cresceu a passos tão largos: 16,6%, ante mesmo período de 2010, para R$ 175,8 bilhões. O destaque ficou por conta dos créditos a pequenas e médias empresas (+ 27,2%) e a pessoas físicas (+ 22,2%).

Além disso, houve uma piora na qualidade das concessões do banco. Os créditos de pior risco, classificados pelas regras do Banco Central com as letras de E a H, subiram 17,4% na comparação com o primeiro trimestre do ano. "A qualidade dos ativos do banco está mais fraca", afirmou o Goldman Sachs, em relatório. Isso se refletiu no volume de provisões, que cresceu 45% ante o segundo trimestre de 2010, para R$ 2,9 bilhões.

"A carteira do Santander é mais focada no financiamento à pessoa física. Isso não quer dizer que a carteira do banco é pior, mas que é sim uma carteira mais arriscada - e que é mais lucrativa ao mesmo tempo, trabalha com spreads maiores", disse Mário Pierry, analista do Deutsche Bank.

Porém, assim como o Bradesco, o Santander diz acreditar que a inadimplência chegou ao ponto máximo em junho. "Acredito que o trimestre que começou em julho apresentará um ponto de ajuste dessa curva", disse Marcial Portela, presidente do Santander.

Provisões fiscais e trabalhistas também afetaram o Santander, somadas aos gastos com a credenciadora de cartões GetNet. (Valor)