segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Monitorar empréstimos públicos para setor privado e exigir mais empregos com salários dignos

Dinheiro público contra a crise mas com contrapartidas sociais e empregos

Marcos Afonso de Oliveira, secretário de imprensa da UGT

Acompanhamos, mais uma vez, a covardia dos bancos privados brasileiros que diante da crise correm para o colo do governo ao investir, preferencialmente, em títulos públicos. Enquanto o governo obriga os bancos públicos a investir no setor privado. Uma contradição do sistema capitalista brasileiro que ajuda a enriquecer banqueiros e a forçar o Estado a investir nos momentos mais críticos. Como trabalhadores nos interessa que estes investimentos tenham contrapartida social. Pois o mesmo governo que investe no setor privado, como fez em 2008/2009 e promete fazer agora com vultosos empréstimos, a juros subsidiados para a indústria, pressiona também para que não haja reajustes reais de salários e que a Participação nos Lucros e Resultados não seja expressiva. Outra contradição pois ficou provado na crise anterior que salario sustenta o mercado interno. E descobrimos ao longo dos últimos anos que a distribuição de renda acontece através de ganhos salariais. A UGT está atenta e mobilizada para exigir contrapartidas sociais pois o dinheiro que promete ajudar a superar a crise atual é de todos nós. E não aceitaremos, como não aceitamos na crise financeira mundial anterior, pagar por uma situação financeira que não ajudamos a criar. Vamos vigiar de perto o número de empregos garantidos por cada empréstimo público, a ampliação das vagas e o repasse da participação nos lucros e resultados com aumento real de salários.


Bancos públicos vão reforçar crédito para a indústria

Diferentemente da crise de 2008, quando o alvo foi o consumidor, objetivo agora é estimular a produção para evitar demissões.

Se em 2008 o governo respondeu à crise financeira internacional estimulando o consumo das famílias, com cortes de impostos, agora pretende direcionar linhas de crédito dos bancos públicos para fortalecer a produção industrial. Em vez de pressionar a inflação, o Planalto espera, assim, dar condições para uma capacidade maior de crescimento da economia no longo prazo.

O Banco do Brasil vem conversando com indústrias e estudando cadeias produtivas específicas para identificar gargalos na produção, além de aperfeiçoar os desembolsos das linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil.

"Lá atrás, era muito crédito ao consumidor, agora é crédito à produção", diz Malieni. Como a turbulência do mercado financeiro ainda não afetou as operações de exportadoras e grandes empresas nacionais, o trabalho de Malieni nos últimos dias têm sido monitorar dados: o fluxo de exportações, para verificar se há dificuldade de financiamento de embarques, os preços de commodities, para a eventualidade de menores valores afetarem a receita das exportadoras, e os estoques das empresas.

Descompasso. O receio do Banco do Brasil neste último caso é um descompasso muito grande entre o valor das mercadorias quando a empresa construiu o estoque e a possibilidade de os preços caírem à frente, por causa da desaceleração da economia. O Banco do Brasil já opera linhas do BNDES que atenderiam a todas essas demandas, por isso não há ideia de criar novos produtos, apenas acelerar a liberação de dinheiro, caso seja necessário.

O objetivo principal é evitar demissões. Dada a incerteza e volatilidade nos mercados financeiros e as medidas diárias anunciadas por governos de países desenvolvidos, ainda não há certeza do impacto nas companhias do País. "A impressão é que o Brasil está mais preparado, tem uma memória muito grande porque foi recente, a gente está atento para poder avaliar, mas é muito cedo para saber se vai ter impacto", disse Malieni.

Segundo o diretor do Banco do Brasil, o objetivo da decisão de estender linhas de crédito do BNDES na política industrial é preparar o País para uma eventual deterioração da economia mundial até o fim do próximo ano. "O Plano Brasil Maior trabalha a manutenção do mercado interno por meio da oferta agregada, aumentando a base de bens de capital. Funciona um pouco como amortecedor."

Equipe. O banco formou uma equipe com 50 técnicos em áreas específicas, como indústria naval, telecomunicações, transporte de alta velocidade, energia hídrica e outros, segundo Malieni. Assim, o Banco do Brasil espera responder mais rapidamente à demanda das empresas por projetos complexos, reduzindo o tempo de análise, por exemplo.

Para acelerar investimentos de micro, pequenas e médias empresas, o carro-chefe será o cartão de crédito do BNDES, que permite a compra de bens de capital como máquinas e equipamentos com maior velocidade e menor burocracia. O Banco do Brasil emitiu 76% do total de cartões neste ano, liberando R$ 2,22 bilhões nos primeiros seis meses do ano.

Outra medida adotada para tornar mais rápida a chegada de recursos às mãos dos empresários foi a adoção de um teto pré-aprovado para investimentos, que funciona como uma espécie de cheque especial. Neste caso, a empresa não precisa apresentar novo projeto quando pretende ampliar uma fábrica já instalada, pois usa o crédito diretamente. (Estado)


BNDES está atento a efeitos da crise sobre consultas, diz Coutinho

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que a instituição vai manter o acompanhamento ao processo de consulta ao banco, com o objetivo de detectar se há efeitos da recente crise internacional global sobre os planos de investimento das companhias. No primeiro semestre, as consultas ao BNDES somaram propostas de R$ 90,998 bilhões, um tombo de 23% frente aos seis primeiros meses do ano passado.

"Não é uma tendência [a queda das consultas], o que não quer dizer que não devemos ficar atentos ao que vem pela frente", disse Coutinho, que hoje apresentou os resultados do banco de fomento no primeiro semestre.

Coutinho afirmou que o desempenho de 2011 "está dado". Segundo ele, o desembolso já atingiu R$ 70 bilhões até o fim de julho e outros R$ 70 bilhões estão em vias finais de contratação.

"Geralmente o segundo semestre é mais forte. Cumprir os R$ 145 bilhões é altamente provável", frisou o executivo. "Dependendo da demanda pelas linhas do Plano Brasil Maior, pode ser que vá um pouco além dos R$ 145 bilhões, mas ainda dentro da nossa programação", acrescentou.

Questionado sobre os efeitos da crise sobre o investimento no Brasil, Coutinho destacou que o banco não considera que a redução de consultas verificada no primeiro semestre seja estrutural. Segundo ele, o BNDES trabalha com dois cenários, um de crescimento reduzido nas economias de Estados Unidos, Europa e Japão e de manutenção do crescimento dos emergentes, com um avanço da economia chinesa de 9,3%. O segundo cenário, um pouco mais grave, aponta para uma crise maior entre os países desenvolvidos e uma desaceleração mais forte dos emergentes, com queda na demanda por commodities. Mas, mesmo no segundo cenário, Coutinho enxerga "efeitos ambíguos" sobre o Brasil. Se, por um lado, haveria o peso da balança comercial, por outro resultaria em menos pressão inflacionária, segundo ele.

"Pode abrir perspectiva de o Banco Central iniciar uma redução de juros mais cedo. Toda conjuntura tem seus prós e contras", afirmou Coutinho, evitando fazer previsões sobre uma possível queda da taxa básica de juros. "O momento é muito mais de cautela e observação. O que constatamos é que os instrumentos que o governo tem hoje para enfrentar um cenário menos favorável são instrumentos bastante fortes", acrescentou. (Valor)


GOVERNO DEIXARÁ SERVIDORES SEM AUMENTO REAL DE SALÁRIO

O ajuste fiscal prometido pelo governo para enfrentar a crise mundial vai passar também pelo salário dos servidores. Dirigentes das principais estatais – Correios, Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal, Infraero e Petrobras – já foram orientados a negar reajuste salarial com ganhos acima da inflação aos seus empregados, tanto em 2011 quanto em 2012.

Nas campanhas salariais, a proposta será apenas a reposição da inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

Os funcionários públicos também não terão aumento. Mas os investimentos do Programa Nacional de Aceleração (PAC) serão mantidos e o objetivo do Executivo é acelerar as obras para garantir os empregos.

Segundo fontes da equipe econômica, apesar da calmaria nos mercados, há ainda muita apreensão sobre os desdobramentos da crise e eventuais impactos para o Brasil.

Apesar da pressão dos sindicatos das categorias por aumentos reais significativos, já que o INPC nos últimos 12 meses até julho já acumulava alta de 6,87%, técnicos da equipe econômica afirmam que o governo vai “comprar a briga”, mesmo sabendo que poderá haver custos com eventuais paralisações.

O argumento é que essas categorias foram contempladas durante os oito anos da gestão do presidente Lula com reajustes salariais e melhorias na carreira. A última parcela do reajuste oferecido por Lula será paga em 2012 e tem custo estimado em R$ 20,6 bilhões. (O Globo)


BNDES lucra R$ 5,3 bilhões no primeiro semestre

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fechou o primeiro semestre com lucro líquido de R$ 5,3 bilhões, o melhor resultado da história da instituição de fomento para o período entre janeiro e junho.

"O resultado foi muito positivo e veio, em larga medida, da carteira de renda variável administrada pela BNDESPar", disse o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, lembrando o braço de investimentos do banco de fomento.

Os resultados da carteira de investimentos da BNDESPar respondeu por quase metade do ganho do banco nos seis primeiros meses do ano, com um resultado positivo de R$ 2,5 bilhões. Outros R$ 850 milhões vieram da reversão de provisão para risco de crédito, sendo R$ 450 milhões advindos da melhora da classificação de risco das empresas da carteira de crédito do banco e o restante da recuperação de crédito.

O crescimento do resultado com participações societárias em 2011 decorreu principalmente do acréscimo de 79,2% na receita com dividendos e juros sobre o capital próprio, que totalizou R$ 2,1 bilhões no primeiro semestre. O resultado com alienações subiu 77,8%, para R$ 1,581 bilhão. A carteira de crédito do banco de fomento atingiu R$ 376 bilhões em 30 de junho.

O patrimônio líquido da instituição totalizou R$ 65,4 bilhões em 30 de junho, correspondendo a um patrimônio de referência de R$ 101,1 bilhões, acima dos R$ 83,1 bilhões de 31 de dezembro de 2010. O crescimento do patrimônio de referência foi possível graças ao aumento de capital de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre, o que alavancou o patrimônio de referência em R$ 12,8 bilhões. O índice de Basileia do sistema BNDES foi de 22,3%, contra 11% exigidos pelo Banco Central. (Valor)


Crise cria oportunidade para redução dos juros

Ainda é cedo para estimar os efeitos do recrudescimento da crise financeira nas economias avançadas sobre o Brasil, mas já há um consenso quanto ao caminho que o governo deve trilhar para reagir à turbulência. Por esse consenso, o remédio para enfrentar uma provável queda da atividade econômica é de natureza monetária e não fiscal.

A crise nos mercados americano, europeu e japonês frustrou o processo de recuperação da economia mundial, iniciado em 2009. O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, por exemplo, começou 2011 com perspectiva de crescer em torno de 3,5%, mas deve avançar abaixo de 2%. Os países da zona do euro podem ter desempenho ainda pior e, o Japão, crescimento negativo.

A debilidade dessas economias afetará as nações em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, líderes do crescimento mundial nos anos recentes. A tendência é que os preços das commodities, que já vêm arrefecendo desde o início do ano, caiam mais fortemente nos próximos meses.

A queda das commodities diminui o saldo da balança comercial brasileira, pressionando o real frente ao dólar. Apenas esse canal de transmissão já seria suficiente para diminuir a taxa de crescimento da economia, afinal, os produtores de commodities estão entre os mais competitivos do país. Há, no entanto, outros fatores a serem considerados. Um deles diz respeito às expectativas de consumidores e empresas; outro, a um possível travamento do crédito doméstico por parte dos bancos.

O PIB do Brasil já está em processo de desaceleração, como resultado da política de combate à inflação promovida pelo Banco Central (BC). O agravamento da crise mundial coincide, portanto, com o fato de a atividade econômica estar perdendo força. Chamam atenção informações de que os estoques em setores como o automobilístico e o siderúrgico já estavam, em julho, em níveis historicamente elevados.

Os números do mercado de trabalho ainda não mostram arrefecimento, mas, nos últimos dias, várias empresas começaram a anunciar corte de investimentos e redução no quadro de pessoal. Essas notícias têm o efeito de aplacar o ímpeto dos cidadãos ao consumo.

Num cenário de aumento da taxa de desemprego, as instituições financeiras, por sua vez, tendem a moderar a concessão de crédito. Uma motivação adicional pode contribuir para uma postura mais conservadora. Desde o início da nova fase da crise mundial, as ações dos grandes bancos internacionais, principalmente os americanos e europeus, são as que mais têm perdido valor no mercado.

Os investidores estão, claramente, ressabiados. Temem que a debilidade das finanças públicas nas economias centrais afete a saúde dos bancos. Nunca é demais lembrar que a crise de 2008 foi, basicamente, uma crise bancária. A atual é de natureza fiscal, mas não se descarta a possibilidade de atingir o sistema financeiro.

Esse ambiente leva os bancos, mesmo os brasileiros, que são saudáveis e não estão diretamente expostos à turbulência internacional, a adotar uma postura mais cautelosa em relação à oferta de crédito. Em 2008, fenômeno parecido ocorreu no Brasil. Na ocasião, para enfrentar o problema, o governo obrigou os bancos públicos a aumentarem os recursos disponíveis para crédito às empresas e famílias.

Sem dúvida, a estratégia funcionou, mas, agora, como o próprio governo reconhece, o espaço fiscal para repetir a dose é praticamente inexistente. A alternativa, portanto, para evitar que o PIB caia de forma dramática na hipótese de aprofundamento da crise mundial é o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) reduzir os juros.

Analistas consideram o momento atual uma janela de oportunidade para o Brasil se livrar daquilo que muitos consideram uma maldição: o fato de o país ostentar o título de campeão mundial de juros. De fato, a depender da manutenção do equilíbrio fiscal, com o qual a presidente Dilma Rousseff se comprometeu mais uma vez, na semana passada, a chance de superar essa deficiência é histórica.

Evidentemente, o governo terá que lidar com obstáculos que, hoje, impedem os juros de cair. Um deles é a indexação de grande parte da dívida pública à taxa básica de juros (Selic), usada pelo Banco Central para calibrar a política monetária. (Valor)


Na Siemens, o Brasil deixou a China para trás

Nos próximos cinco anos, gigante alemã vai dobrar investimentos no País, líder de crescimento entre as grandes nações emergentes.

Há duas semanas, ainda antes do rebaixamento da dívida americana, o presidente mundial da Siemens decretou: "A recuperação da economia mundial acabou." Ao constatar que o ritmo de crescimento da Europa e dos Estados Unidos voltará a se desacelerar, Peter Loescher enviou um recado claro ao mercado: a aposta da Siemens, nos próximos anos, estará nas grandes nações emergentes. Neste cenário, o Brasil surge como protagonista - o que vai impactar diretamente nas metas do diretor-presidente da operação local, Adilson Primo, cujas decisões passarão a ter um papel mais relevante no resultado global da gigante alemã.

A aposta no Brasil está fundamentada em números. A receita em euros da operação local cresceu 32% em 2010, mais do que na Índia (17%) e na China (12%), enquanto a operação global sofreu leve retração. Por isso, a Siemens estabeleceu um plano ambicioso para Primo: dobrar as receitas brasileiras de 2 bilhões para 4 bilhões até 2015. Para viabilizar a meta, a empresa vai dobrar os investimentos no País, que atingirão US$ 600 milhões nos próximos cinco anos.

Em 2006, a venda da operação mundial de telefonia da Siemens resultou na desativação de uma unidade local de produção de celulares, em Manaus. Nos anos seguintes, porém, o investimento no Brasil acelerou: de 2006 a 2011, a empresa contratou 4 mil funcionários no País e o número de fábricas subiu de 5 para 13. A décima quarta unidade - uma linha de montagem de aparelhos de diagnóstico por imagem - será inaugurada no próximo ano, em Joinville (SC).

Adilson Primo, 58 anos, vai completar uma década como presidente da Siemens do Brasil no próximo mês de setembro. Na empresa desde 1977, ele diz que tanto as qualidades da economia brasileira quanto as carências estruturais do País contribuem para elevar as possibilidades de crescimento da Siemens. De um lado, o mercado interno está fortalecido, o que aumenta a capacidade de investimento de órgãos de governo e empresas. De outro, o portfólio da companhia está intimamente ligado às deficiências nacionais nos setores de energia, transporte e urbanização.

Primo explica que a visão estratégica da Siemens prevê que os países em desenvolvimento cresçam pelo menos o dobro das nações desenvolvidas nos próximos anos. Do ponto de vista macro, a priorização do Brasil se justifica pela baixa possibilidade de contágio da economia local por turbulência externas graças à força do mercado interno. "O consumo doméstico concentra 85% do PIB nacional. A perspectiva é de estabilidade macroeconômica com déficit público baixo, de 2,5%. Se o Brasil fosse parte da zona do euro certamente passaria no teste de estresse."

Primo afirma que as expectativas em relação ao Brasil só não são mais otimistas por causa dos desafios estruturais que impedem uma expansão anual da economia acima de 4%. "Não temos infraestrutura. Os portos operam no limite e os aeroportos mais parecem rodoviárias. Não há como crescer 5%", ressalta. No entanto, o executivo afirma que há indícios de que, dentro de suas limitações, o Brasil é um mercado confiável: "A indústria de carros continua a bater recordes, a construção civil ainda cresce e o investimento na infraestrutura também está aumentando, apesar de ainda aquém do desejado."

A decisão da Siemens de dobrar o investimento no mercado brasileiro não reflete somente os fundamentos da economia local, mas também o despertar de grandes concorrentes globais para o potencial do País. Enquanto a gigante alemã anunciou a aplicação de US$ 600 milhões nos próximos cinco anos, uma de suas principais rivais em nível mundial - a americana GE - prevê despejar US$ 570 milhões na operação local em 36 meses. As empresas disputam diretamente a clientela nas áreas de saúde, energia e mobilidade. Ambas também estão empenhadas em usar o Brasil como plataforma de expansão de uma das principais apostas para os próximos anos: as soluções ecologicamente corretas.

Tecnologia ‘limpa’. Para se ter uma ideia do potencial do mercado de soluções industriais "limpas", 37% do faturamento de 76 bilhões da Siemens em 2010 em seus quatro grandes setores de atuação - indústria, energia, cuidados com a saúde e infraestrutura - vieram do chamado "portfólio ambiental". São incluídas nessa categoria as soluções que contribuíram de alguma forma para a redução da emissão de gás carbônico pelas companhias que adquiriram equipamentos e serviços.

O objetivo global é que o faturamento do portfólio ambiental cresça 10% ao ano, atingindo 40 bilhões em 2014. Na opinião de Primo, as soluções "verdes" podem ter participação ainda maior no Brasil. "É uma vantagem que temos, por conta da nossa matriz energética, que tem um perfil renovável."

Outro movimento da Siemens que acompanha uma tendência percebida na concorrência é a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento no Rio de Janeiro - algo que IBM e GE também já anunciaram. Cinquenta por cento dos investimentos previstos pela gigante alemã no País serão destinados à área de pesquisa e desenvolvimento.

Segundo Peter Loescher, presidente mundial da Siemens, a ordem é desenvolver soluções customizadas para o cliente. Isso, explica ele, exige uma nacionalização cada vez maior da produção. "Hoje, o índice de nacionalização de nossos produtos do setor de energia é de 70%. E a ideia é aumentar esse porcentual", afirmou ele ao Estado (leia entrevista abaixo).

Óleo e gás. O centro de pesquisa e desenvolvimento, que deverá ser concluído no fim de 2012, vai consumir investimentos de R$ 80 milhões. Por conta da localização no Rio de Janeiro, o foco inicial será o setor de óleo e gás. Ao longo do tempo, a estrutura também desenvolverá soluções para indústrias e para a área de energia. O centro terá a função de reorganizar as iniciativas de inovação dentro da operação brasileira, hoje pulverizadas pelas fábricas da Siemens em diversas regiões do País.

A concentração das iniciativas de pesquisa, que deverá envolver 1.000 profissionais, incluirá a transferência de parte da estrutura da Chemtech, adquirida pela Siemens em 2001. Na época do negócio, a Chemtech tinha 100 funcionários e faturamento de R$ 9 milhões ao ano. Hoje é uma das principais fornecedores de projetos para a Petrobrás, tem 1,1 mil engenheiros e receita de R$ 250 milhões. "A Chemtech é referência em engenharia avançada", diz Primo.

O desenvolvimento local de tecnologia, na visão do executivo, pode ser um passo para a correção de um erro estratégico do Brasil: a pífia taxa de inovação. "A balança comercial mostra que exportamos produtos sem manufatura. Sem pesquisa, houve a invasão asiática e a perda da competitividade. É necessário um processo de reformulação." (Estado)


Volume de dívida de grandes empresas em moeda estrangeira é US$ 38 bi maior que em 2008

Após dois anos de farra na tomada de crédito a juros baixos no mercado internacional, as empresas brasileiras terão que enfrentar a nova turbulência da economia mundial endividadas como nunca em moeda estrangeira. Um estudo da Economatica feito a pedido do GLOBO mostra que 212 empresas brasileiras de capital aberto acumulavam uma dívida de US$ 90,256 bilhões ao fim de março deste ano. Esse montante representa um aumento de 74% - ou mais US$ 38,4 bilhões - frente ao endividamento delas em setembro de 2008 (US$ 51,868 bilhões), mês que marcou o ápice da crise financeira internacional com a quebra do banco Lehman Brothers.

Para especialistas, os riscos do pesado endividamento estão nos repiques de alta da moeda americana, um movimento clássico nas crises. Isso elevaria em reais os custos para as empresas pagarem suas dívidas. Nas últimas três semanas, por exemplo, esses custo subiu R$ 8,67 bilhões após a valorização do dólar em R$ 0,10. Nesse período, a taxa Ptax do Banco Central (BC) - uma cotação do dólar no mercado interbancário - avançou de R$ 1,534 (menor valor em 12 anos) para R$ 1,630, efeito do corte da nota de risco dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor's(S&P).

Petrobras eleva dívida em US$ 29 bi -- Entre os economistas, poucos acreditam em uma forte valorização do dólar nos próximos meses. No boletim Focus do BC, por exemplo, a taxa média de câmbio projetada pelo mercado para o fim deste ano permanecia a R$ 1,60 na segunda-feira passada. Poucos também acreditavam, contudo, que a moeda americana sairia de R$ 1,562 para R$ 2,536 entre julho e dezembro de 2008, o que de fato ocorreu após a quebra do banco Lehman Brothers.

- Eu não acredito numa alta abrupta do câmbio. Mas obviamente conhecemos a história e sabemos que grandes movimentos cambiais acontecem - avalia o economista Armando Castelar, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). - Uma valorização mais forte do dólar pode ter impacto sobre a saúde financeira das empresas. Foi o que aprendemos com a experiência: no pânico, todos correm para a mesma porta.

O avanço do endividamento em moeda estrangeira foi liderado pela Petrobras. A estatal elevou em US$ 29,2 bilhões sua dívida em dólares nos últimos três anos, para US$ 44,9 bilhões ao fim de março passado. Em janeiro, por exemplo, a companhia captou US$ 6 bilhões no mercado de dívida externa, com emissão de bônus. Outras empresas também tiveram forte aumento da dívida frente a setembro de 2008, como a Telemar Norte Leste (mais US$ 3,3 bilhões), Fibria (US$ 2,6 bilhões) e JBS (US$ 2,17 bilhões).

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, explica que esse forte aumento tem origem no casamento do acelerado crescimento da economia brasileira e uma farta oferta de crédito no mercado internacional.

- O Brasil saiu na frente após a crise, com bons números de emprego, produção e demanda por investimentos. Como aqui os juros são altos, as empresas foram pegar empréstimos nos EUA, Europa, Japão, que estão com juros baixíssimos para incentivar suas economias - explica Agostini. - O Brasil foi um dos maiores receptadores de crédito externo no mundo.

Proteção mais cara após medidas -- Para evitar perdas com o aumento do dólar, as empresas realizam em bancos uma espécie de seguro contra os solavancos da moeda, a chamada operação de hedge (proteção, em inglês). Os bancos assumem o risco da oscilação do dólar, operando contratos no mercado futuro, em troca de um prêmio pelo risco. Mas esse prêmio é caro. Por isso, muitas companhias acabam protegendo apenas parte das dívidas em moedas estrangeiras.

- Quem tem dívida muito longa, como dez anos, paga uma taxa gigantesca para proteger-se do câmbio. Por isso, empresas não cobrem 100% do que devem em dólar. Elas assumem uma parte do risco e de eventual perda - explica Ivan Nacsa, da consultoria FBM, para quem não há empresas excessivamente expostas nesses contratos, como em 2008 e que provocou grandes prejuízos à Aracruz e à Sadia.

Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, lembra que fazer operações de proteção ficou mais caro após o governo adotar, no fim de julho, duras medidas para conter o derretimento da moeda americana. Desde então, quem faz operações vendidas (aposta na queda do dólar) acima de US$ 10 milhões e não tem contrapartida em operações compradas (aposta na alta do dólar) passa a pagar Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% sobre a diferença:

Esse custo foi repassado ao cliente. Ficou mais caro para as empresas se protegerem. Foi um efeito colateral da medida. Não tem como o governo conseguir separar o joio do trigo - disse Leal. - Mas também não acredito em uma forte alta do dólar. A tendência é de desvalorização.(O Globo)


Empresários investem em negócios com fins lucrativos que têm forte impacto social

Idealistas, eles querem melhorar o mundo, sim. Mas fazem disso o seu ganha-pão: a ideia é contribuir para o desenvolvimento da sociedade e, ao mesmo tempo, como qualquer trabalhador, colocar dinheiro no bolso. Movidos por esse objetivo, um time de empreendedores vêm se destacando à frente de negócios inovadores, com fins lucrativos, que provocam um forte impacto social. Comércio justo, inclusão profissional e educação são apenas algumas áreas que têm recebido atenção dessa turma.

Convencido de que poderia contribuir para a democratização da cultura audiovisual entre jovens carentes do Rio, o diretor Luis Carlos Nascimento criou o Cinema Nosso, organização que oferece cursos gratuitos de cinema, videografismo e desenho animado, além de funcionar como produtora e empresa júnior. Cerca de 2,5 mil alunos - sendo 90% estudantes de escolas públicas - já passaram pelo projeto em dez anos de história.

- No início, muita gente disse que era um luxo ensinar cinema para esse público, já que é uma arte elitista. Mas isso só fortaleceu a minha vontade. Eu sabia que, com a revolução digital, o maior valor estaria nas ideias e não apenas nas máquinas - explica Nascimento. - Acho que somos a prova viva de que é possível unir inovação tecnológica, produção artística de qualidade e educação popular.

Formada em desenho industrial e comunicação visual pela PUC-Rio, Viviane Zambelli teve uma ideia diferente: criar uma empresa que desenvolve projetos nas áreas de design gráfico,webdesign, produção de vídeo, fotografia e ilustração com a participação de jovens de baixa renda formados em design, arte e tecnologia. Nascia a SócioDesign, fruto da experiência da empreendedora em projetos ligados ao Terceiro Setor, como o CDI, de inclusão digital, e o Oi Kabum, escola de arte e tecnologia da Oi.

- O objetivo é concretizar parcerias com empresas que investem em responsabilidade social para que confiem à gente suas demandas na área de comunicação e design. Só assim será possível estabilizar a receita e manter equipes contratadas em regime integral, o que garante maior geração de renda - explica Viviane.

Criada há três anos para acelerar a consolidação do sistema de comércio justo no país, a Parceria Social presta serviços de consultoria na realização de planos de negócios com foco em economia solidária e responsabilidade social. Por trás da iniciativa está a administradora Ana Asti que, após um estágio no Viva Rio durante a faculdade, percebeu a importância de estimular a geração de trabalho e renda em diferentes cadeias produtivas.

- Trata-se de uma tendência forte de mercado, já que os consumidores estão mais atentos e exigentes - diz Ana, que alcança uma margem de 70% de lucro em suas operações.(O Globo)