segunda-feira, 12 de setembro de 2011

UGT e demais entidades sindicais vai se reunir para definir estratégia conjunta para defender trabalho decente nas obras da Copa de 2014

“Greve continua por mais uma semana pelo menos”, diz Sindicato dos trabalhadores do Maracanã

Depois de uma assembleia realizada hoje, 12/09, às 7h00, ficou decidido que a greve continua e que será realizada uma passeata amanhã em torno do Maracanã. “Vamos começar as 7h00 no Portão 13 e contornar o estádio”, diz Nilson Duarte, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada Intermunicipal do Rio de Janeiro (Sitraicp), filiado à UGT. Segundo Nilson, a disposição dos trabalhadores continua firme, como também se mantém a indiferença do Consórcio que toca as obras em negociar com os trabalhadores. Hoje à tarde o Ministério Público receberá as defesas dos trabalhadores e dos patrões. Amanhã encaminha para o Tribunal Regional do Trabalho e será agendada uma data para o julgamento. Provavelmente na próxima sexta-feira ou na semana que vem, avalia Nilson Duarte. (Da Redação da UGT)


Leia, por favor, o clipping de hoje:

Greves ameaçam prazos de obras para a Copa

A combinação de relações cada vez mais tensas entre sindicatos e empreiteiras começa a formar um barril de pólvora que pode comprometer o andamento das obras dos estádios que servirão de palco para a Copa do Mundo de 2014. Além da greve no Maracanã, que deixou 2,5 mil trabalhadores de braços cruzados e deverá ser julgada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) nesta semana, há focos de insatisfação espalhados pelas reformas ou construções das arenas de Belo Horizonte, Recife, Salvador e Cuiabá, e Porto Alegre.

O Valor apurou que, nos dias 22 e 23, lideranças sindicais das 12 cidades-sedes vão se reunir, em Vitória (ES), para elaborar uma pauta conjunta de reivindicações. A ideia é avançar em uma proposta de piso salarial unificado para os operários e um pacote de benefícios comum, segundo Adalberto Galvão, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Construção Pesada.

"Mesmo com empreendedores iguais e em localidades próximas, as condições são muito distintas", afirma Galvão. Ele cita os casos de reforma da Fonte Nova, em Salvador, e a construção da Arena Pernambuco, em Jaboatão dos Guararapes. Na Bahia, um operador de grua ganha R$ 2,3 mil por mês, recebe cesta básica de R$ 130 e é efetivado com 30 dias de experiência. A menos de 900 quilômetros, no estádio pernambucano, o salário é de R$ 1,7 mil para a mesma função, a cesta básica é de R$ 100 e a efetivação ocorre após os 90 dias previstos no contrato de experiência, segundo o relato do líder sindical.

Com o prazo apertado para a conclusão das arenas, o poder de barganha dos trabalhadores tende a aumentar. Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff prometeu a entrega de nove dos 12 estádios da Copa até 31 de dezembro do ano que vem. Outra fonte de preocupação para o governo, principalmente com as obras de infraestrutura relacionadas ao Mundial, é a contestação judicial do Regime Diferenciado de Contratações Públicas, o RDC. Na sexta-feira, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contestando a constitucionalidade da nova lei, argumentando que ela não fixa parâmetros mínimos para identificar obras, serviços e compras que podem dispensar a tradicional Lei de Licitações (8.666/93) e seguir o RDC.

Para o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, o problema é que as obras começaram "atrasadas demais" e "não houve tempo hábil sequer para a capacitação dos profissionais pelos consórcios". Patah acredita que o desfecho da greve no Maracanã será um tipo de balizador para as reivindicações sindicais nas demais cidades-sedes.

A paralisação no estádio carioca foi detonada por vários motivos. Os trabalhadores do turno da noite dizem que são servidas sobras das refeições diurnas, reclamam da falta de lanche durante a madrugada e da ausência de médicos de plantão. Também alegam que houve atraso na entrega de cartões do plano de saúde e no reajuste da cesta básica, que devia ter subido de R$ 110 para R$ 160. Uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), para apresentação das defesas dos trabalhadores e do consórcio, está marcada para hoje.

Na Bahia, uma greve foi evitada em cima da hora, no início de setembro, graças à concordância dos empreendedores em elevar o valor da cesta básica de R$ 130 para R$ 170. Outra reclamação recorrente é a de que, para dar conta da conclusão das obras no prazo previsto, os trabalhadores precisam cumprir grande quantidade de horas-extras. "Para dar conta do cronograma das obras, há a imposição de um ritmo de trabalho às vezes sobrehumano", afirma Adalberto Galvão, que faz parte da diretoria da Força Sindical.

Os sindicalistas rejeitam a tese de que os trabalhadores estão se aproveitando do cronograma apertado para aumentar as cobranças. Em Belo Horizonte, os 800 trabalhadores que trabalham nas obras do Mineirão já fizeram uma paralisação em junho. Uma segunda mobilização pode ocorrer, caso a pauta de reivindicações que será apresentada em dez dias não seja atendida, diz José Antônio da Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada de Minas Gerais. "Estamos pedindo aumento salarial de 15%, igualando os salários de Minas com os do Rio de Janeiro. Se as obras e o trabalho nos estádios são iguais, por que os salários não são?", questiona Cruz.

A cobrança por melhores condições de trabalho também é forte nas obras da Arena do Grêmio, em Porto Alegre (RS), onde já ocorreram três paralisações. O estádio escolhido para sediar os jogos da Copa é o Beira-Rio, do Internacional, mas a arena gremista ainda corre por fora e está com as obras mais avançadas.

"Cerca de 90% dos 700 empregados do estádio são de fora do Estado, a maioria vem do Nordeste. Aqui faz muito frio, é preciso dar condições adequadas de trabalho para essas pessoas", diz Isabelino Garcia dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada do Rio Grande do Sul.

Em Cuiabá, um indicativo de greve foi suspenso em março, quando o consórcio responsável pela construção da Arena Pantanal concordou em oferecer um piso de R$ 830 para serventes e de R$ 1,1 mil para os demais profissionais. Antes, pagava-se o valor mínimo de R$ 720, definido em acordo coletivo da categoria.

"A questão é que, com o mercado aquecido, os pedreiros conseguiam um salário bem melhor em outras obras", explica o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Construção Civil de Cuiabá, Joaquim Santana. O acordo fechado entre sindicato e empreiteiras valia até a nova convenção coletiva, homologada em junho. Desde então, negocia-se a renovação do acordo, sem resultado, embora os valores fixados antes estejam sendo respeitados.

Apesar das disputas que têm ocorrido entre as centrais sindicais para definir quem representaria os profissionais da construção civil, o secretário nacional de finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Wagner Freitas, afirma que só um "entendimento nacional" poderá dar fim aos movimentos de greve.

"Os trabalhadores dos estádios e de outras obras do governo ainda estão sujeitos às piores condições e a salários muito baixos. Para resolver esse problema, as centrais sindicais têm que andar juntas", comenta Freitas. "Estamos trabalhando uma mesa nacional para a construção civil, ao lado do governo e das empreiteiras." O sindicalista da CUT afirma que, desde as paralisações nas obras da hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho (RO), ocorridas em março, sindicatos e empresas conseguiram algum avanço em negociações, mas falta uma padronização do que é oferecido ao trabalhador. (Valor)


Estudo contesta apagão de mão de obra
53% de brasileiros com diploma superior estão subempregados; qualidade sofrível de universidades seria razão. Para muito jovem formado sem colocação, seria melhor curso profissionalizante, diz professor da UFRJ.
Apesar das constantes queixas de falta de trabalhadores qualificados no país, não há indícios de que o Brasil esteja sofrendo de um apagão de mão de obra generalizado. Essa é a conclusão comum em alguns dos estudos recentes sobre o tema.
Podem faltar profissionais qualificados em alguns setores, mas, analisando tendências do mercado de trabalho, o país tem formado mais quadros de nível superior do que é capaz de absorver.
Em caso de escassez de quadros qualificados, é esperado que os rendimentos destes cresçam, pois as empresas precisam de mais esforço para contratar e manter os profissionais.
Não foi o que aconteceu na década passada, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE. Quando considerada a inflação, a renda média da população adulta ocupada com nível superior teve queda de 17%.
MAIS CONCORRÊNCIA -- Ter diploma universitário continua sendo um bom negócio no Brasil. No entanto, como houve crescimento de 79% no número de trabalhadores com essa formação, o mercado é mais concorrido.
Uma consequência dessa expansão foi verificada em estudo do economista João Saboia, da UFRJ.
Analisando o cadastro de empregos do Ministério do Trabalho, ele identificou que mais da metade (53%) dos brasileiros com formação superior que conseguiram emprego no ano passado ocuparam postos de menor exigência de escolaridade, como auxiliares de escritório, funcionários de cartórios ou vendedores no comércio.
Para Saboia, é um reflexo da baixa qualidade de muitos cursos universitários. Ele cita como exemplo o alto número de formados em direito que não passam no exame da OAB e acabam empregados em outras áreas.
"Para muitos desses jovens, teria sido melhor fazer um bom curso profissionalizante", diz o economista.
Mesmo com essa quantidade significativa de diplomados em empregos de menor exigência, a Pnad mostra que trabalhadores com nível superior ganham mais que o triplo daqueles que apenas completaram o nível médio.
Paloma Simonetti, 27, formada em jornalismo, diz que seu diploma a ajudou a conseguir um emprego de promotora de vendas num banco. Ela conta que não há exigência de formação universitária para a função, mas quase todos os colegas de trabalho cursam ou concluíram a universidade.
"Não acho que foi perda de tempo ter estudado. A experiência que tive na universidade me ajuda muito hoje. Se tivesse parado no ensino médio, acho que não conseguiria esta vaga", afirma. (Folha, de 11/09/11)


Brasil pode ter juro de um dígito em 2012

Bancos refazem cálculos com os modelos de previsão do BC e chegam a inacreditáveis 5%.

Resignado com o novo comportamento do Banco Central, o mercado refez cálculos e ampliou a percepção que o Brasil pode voltar a ter juro de um dígito em breve. Usando modelos de previsão semelhantes aos adotados pelo Comitê de Política Monetária (Copom), alguns economistas preveem Selic abaixo de 10% no início de 2012. E, se a crise externa piorar muito, a taxa poderia cair rapidamente para perto de 5%.

Mesmo sem terem sido convencidos pelas explicações para o corte do juro, analistas passaram os últimos dias refazendo contas para entender o que deve acontecer com a economia comandada por esse "novo BC". Nesse cálculo, foi preciso aumentar a dose da influência da crise global, colocar uma porção da promessa do governo de rigor com os gastos, além de incluir uma inédita pitada de ousadia do BC. Feitas as contas, alguns resultados causam espanto.

Uma das estimativas mais surpreendentes é a do banco Credit Suisse, de que a Selic deve cair de 12% para 9% em dezembro - 1,5 ponto a cada uma das duas próximas reuniões, em outubro e novembro. O corte continuaria em janeiro de 2012, quando o juro recuaria para 8,5%.

"Assumindo que a avaliação do Copom sobre o cenário global seja confirmada, mantemos a leitura que a resposta de política monetária mais adequada seria a de implementar um corte de juros expressivo de forma acelerada", diz o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, em relatório. Estimativas como essas ainda são minoria no mercado, dominado por previsões que a Selic deve ficar entre 10% e 11% na virada do ano.

A hipótese de redução mais forte presume inflação mais próxima de 6,5% para favorecer o crescimento da economia. E avança no mesmo ritmo em que piora o quadro internacional. Na ata, o BC explica que cortou o juro para reagir ao efeito da turbulência externa, que já equivale a um quarto da crise de 2008. O raciocínio dos analistas é: se piora a tensão na Europa e nos EUA, será preciso uma resposta mais forte, um corte maior do juro.

Na LCA Consultores, o economista-chefe Braulio Borges estima que a possibilidade de o Brasil ter juro de um dígito no início de 2012 é de um terço, mas tende a crescer. "Se houver calote na Grécia ou se a resistência alemã em ajudar outros países ganhar força, a hipótese aumenta bastante."

Estudioso dos modelos de previsão usados pelo BC, o professor de economia da USP Fabio Kanczuk admite que ficou impressionado com o resultado da projeção feita para o juro caso os problemas externos piorem. "Se o Brasil sofrer o mesmo baque, seria preciso derrubar o juro para cerca de 5% para impedir uma depressão profunda da economia. É impressionante", diz ele.

Mercado -- Um BC mais imprevisível e disposto a correr riscos ganhou forma depois da surpreendente decisão de reduzir a Selic em 0,5 ponto porcentual. O ambiente de incerteza no mercado global e as dificuldades fiscais nos países da zona do euro, a estagnação da economia dos EUA e a fase aguda da crise na Grécia fundamentaram a decisão da diretoria do BC, mas desnortearam economistas e analistas.

Essa dificuldade pode ser evidenciada no descompasso entre a grita do mercado contra a decisão do BC e as apostas no mercado futuro. Os juros com vencimento em 2021 estão com taxas em torno de 11,25% e 11,3%, nível bem inferior aos de antes da decisão do Copom, quando giravam em 12,4% e 12,6%. Para integrantes do governo, esse seria um sinal que o mercado teria "comprado" a aposta que o juro real cairá mais do que a inflação vai subir. (Estado)


Ex-campeã de juros, Turquia é espelho para o Brasil

Antiga campeã mundial dos juros altos, a Turquia reduziu as suas taxas a níveis mais civilizados nos últimos três anos, aplicando um misto de políticas ortodoxas e heterodoxas. Agora, o país é visto como um exemplo a ser seguido pelo Brasil, que iniciou um ciclo de afrouxamento monetário no começo do mês. A dúvida é se a própria Turquia conseguirá manter os juros baixos por muito tempo.

"Como o Brasil, a Turquia cortou os juros contra as expectativas da maioria das pessoas", afirma ao Valor Timothy Ash, analista baseado em Londres do Royal Bank of Scotland (RBS). "Mas estamos vivendo tempos excepcionais, e os juros de longo prazo na Turquia serão significativamente mais altos do que os níveis atuais."

A Turquia surpreendeu os economistas quando promoveu, entre 2008 e 2009, um ciclo de corte de juros de 10,25 pontos percentuais, baixando a sua taxa básica de 16,75% para 6,5% ao ano. Na época, muitos analistas achavam que, para evitar fuga de capitais e combater a inflação, os turcos seriam obrigados a apertar a política monetária.

Em fins do ano passado, outra surpresa: apesar dos sinais de forte aquecimento da economia, a Turquia resolveu cortar levemente os juros, em vez de subi-los. O objetivo maior foi conter a enxurrada de capitais estrangeiros que invadia o país.

Hoje, os juros estão em 5,75% ao ano, depois de um novo corte em agosto, desta vez justificado pelos riscos de desaceleração mundial global. E vão cair mais. O consenso entre os analistas econômicos é que, daqui para o fim do ano, serão feitos mais um ou dois cortes de 0,25 ponto percentual cada.

"O Brasil é a próxima Turquia?", perguntou o Bank of America Merrill Lynch em relatório distribuído a clientes há duas semanas, pouco antes de o BC brasileiro cortar de surpresa o juro básico da economia, de 12,5% para 12% anuais. "Alguns anos atrás, Brasil e Turquia estavam competindo pelas maiores taxas reais de juros do planeta", notou o relatório.

Alguns desconfiam que o BC baixou juros atendendo à pressão do primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, que disputou eleições gerais há três meses. "As decisões de política monetária na Turquia são um tanto políticas", afirma Tatha Ghose, analista baseado em Londres do Commerzbank. "Não consideramos o Banco Central da Turquia muito independente."

Ghose estima que a taxa de juros de equilíbrio (taxa que não acelera a inflação) da Turquia esteja em torno de 10% ao ano. Em tempos de demanda mais fraca, os juros podem ficar temporariamente mais baixos do que isso, na casa dos 8% ao ano. Quando a economia estiver mais aquecida, subiriam um pouco acima disso, na casa dos 12%. Ou seja, passados esses tempos excepcionais, os juros vão subir.

De qualquer forma, os juros caíram de forma definitiva em relação ao patamar próximo de 17% ao ano observado antes da crise de 2008. Há alguns meses, economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgaram um estudo que investiga como a Turquia foi capaz de relaxar a política monetária em tempos de crise, em vez de restringi-la, como costumava fazer.

A conclusão é que a eficácia da política monetária aumentou depois de uma série de reformas bastante ortodoxas implementadas a partir de 2001, quando a economia turca passou a ser comandada por Kermal Dervis, um respeitado economista que chegou a ser cotado para ser diretor-gerente do FMI em substituição a Dominique Strass-Kahn. O receituário incluiu a adoção de um regime de câmbio flutuante, do sistema de metas de inflação e de regras fiscais mais sólidas.

Com uma equipe econômica diferente, hoje os juros reais são negativos na Turquia, e só chegaram a esses patamares porque recentemente o BC turco deu uma guinada mais heterodoxa. O discurso do BC é que, além da estabilidade de preços, a política monetária deve zelar pela estabilidade financeira.

Os juros muitos altos, segundo explicações oferecidas no relatório de inflação do BC turco, estavam tornando o país muito atrativo para os capitais estrangeiros, levando à apreciação cambial e deixando a economia vulnerável a choques externos. Foi necessário baixar os juros para romper esse ciclo, diz o BC, contrariando a cartilha ortodoxa que diz que os juros só mexem para controlar a inflação.

De fato, a lira turca sofreu uma desvalorização relativamente forte, perdendo perto de 20% de seu valor ante o dólar em um ano. Mas analista ponderam que a moeda turca não caiu exatamente pelos juros mais baixos, mas sobretudo porque foram divulgados dados que revelavam um déficit em conta corrente de 10% do Produto Interno Bruto (PIB).

"Uma parte desse déficit é causado pelo aumento do preço do petróleo", afirma Ash, do RBS. "Mas também é resultado do forte aquecimento da economia." O núcleo de inflação também subiu bastante e hoje está em 6,5%, acima da meta, fixada em 5,5%.

No fim, porém, os cortes de juros se mostraram um tanto premonitórios, já que agora a economia turca corre o risco de se desacelerar em virtude do agravamento da crise na Europa e nos Estados Unidos. "No ano passado, a Turquia estava crescendo até mais rápido que a China", afirma Ghose. "A não ser que você soubesse que a economia mundial teria uma segunda desaceleração, o que ninguém sabia naquele período, você deveria estar normalizando suas taxas de juros." (Valor)


Escola pública perde espaço entre as melhores do Enem
Queda no ranking é verificada na comparação do desempenho dos alunos nos exames de 2009 e 2010. Para o ministro da Educação, a condição socioeconômica pode ajudar a explicar a diferença entre escolas.

O ensino médio público não tem melhorado e perdeu participação no grupo das melhores escolas do Brasil.
A conclusão se baseia no desempenho por colégio no Enem 2010, que o Ministério da Educação divulga hoje.
O levantamento é uma das principais formas de avaliar escolas. É apurado a partir de prova com testes e redação feita por formandos.
Resultados tabulados pela Folha apontam que a proporção de escolas públicas no grupo de elite do país (10% melhores, ou seja, quase 19.500 escolas) sofreu leve queda (6%) entre 2009 e 2010. Foi de 8,4% para 7,9%.
Se ampliada a quantidade de colégios analisados para o grupo das 25% melhores, a redução das públicas é mais acentuada: vai de 20,7% para 15,7% (queda de 24,1%).
Quase todos colégios oficiais de elite são técnicos, de aplicação, militares ou ligadas a universidades. São diferentes da maioria das públicas, que não seleciona alunos, entre outras diferenças.
A melhor pública não técnica de SP, por exemplo, é a Professor Carlos Cattony, que está na 2.911ª posição do ranking geral nacional, com 19.414 colégios avaliados. O colégio fica em Parelheiros, na periferia da cidade. explicações
Desde 2008 o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o ensino médio é o "elo frágil" do setor.
Sobre a disparidade entre escolas, Haddad (pré-candidato à Prefeitura de SP) disse que "às vezes, condições socioeconômicas explicam mais o resultado da escola que o trabalho do professor".
O MEC diz ainda que parte dos alunos das escolas federais pode não ter sido avaliada, pois em 2008 passaram a ter ensino técnico com quatro anos de duração e não três e, assim, não haveria formandos no ano passado.
Membro do Conselho Nacional de Educação, César Callegari diz que "no geral, as melhores escolas são bem equipadas, têm professores mais bem pagos e melhores condições de trabalho".
Thiago Peixoto, representante do Consed (órgão que reúne secretários de educação), lembra ainda que muitas particulares treinam alunos para a prova e fazem marketing com os resultados. (Folha)


Bancos estudam queda na taxa de juros, mas repasse é desigual e lento
Quase duas semanas após o BC (Banco Central) reduzir a taxa básica de juros, a Selic, apenas o Bradesco cortou suas taxas de crédito.
Em seu rastro, a Caixa afirmou que deve anunciar nesta semana uma redução na composição dos preços de alguns de seus produtos. "A política da Caixa continua sendo a de praticar os menores juros do mercado", disse.
O BB (Banco do Brasil), Itaú-Unibanco e Santander informaram que estão avaliando a decisão do BC e que, por ora, não modificaram suas tarifas.
Apesar disso, quando implementado, o ritmo de redução dos bancos é menor do que o promovida pelo BC.
Enquanto o governo reduziu em 0,5 p.p. (ponto percentual) a Selic, o Bradesco, até agora o único banco a anunciar cortes, diminuiu suas taxas no máximo em 0,05 p.p. -ou seja, um repasse de apenas 10%.
"Os bancos acabam aproveitando o custo de captação mais baixo, mas não repassam essa diferenças para os consumidores", afirma Luís Miguel Santacreu, analista da consultoria Austing Rating.
Segundo ele, outro fator que pesa é a diferença de leitura do cenário entre os departamentos de economia dos bancos e o governo. "O entendimento do BC se baseou principalmente no cenário de crise internacional."
"Já as instituições bancárias brasileiras estão cautelosas com a inflação e a inadimplência, uma vez que a economia local ainda mostra sinais de aquecimento."
Para Santacreu, os bancos estão começando a analisar "cliente a cliente" antes de conceder empréstimos.
"A inadimplência não vai estourar, mas o movimento dos bancos no segundo trimestre foi no sentido de aumentar as provisões, o que não é condizente com uma queda de tarifas", diz. (Folha)


Brasil cai 20 posições em ranking de infraestrutura

Na listagem feito pelo Fórum Econômico, qualidade das estradas está entre as 25 piores.

A qualidade da infraestrutura brasileira piorou em relação ao resto do mundo pelo segundo ano consecutivo. Desta vez, no entanto, o País despencou 20 posições no ranking global de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de 84º para 104º lugar. Em 2010, já havia perdido três colocações por causa da lentidão do governo para tirar projetos importantes do papel.

A tendência não é nada animadora. Na avaliação de especialistas, com a paralisia verificada em algumas áreas este ano a situação tende a piorar. É o caso da malha rodoviária. No ranking mundial, elaborado com base na opinião de cerca de 200 empresários nacionais e estrangeiros, a qualidade das estradas brasileiras caiu 13 posições e está entre as 25 piores estruturas dos 142 países analisados.

A preocupação é que, depois dos escândalos de corrupção no Ministério dos Transportes, muitas obras estão paralisadas. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram suspensos 41 editais, que estão sendo liberados de acordo com a prioridade do ministério.

O órgão destaca, entretanto, que esses processos estavam em diferentes estágios, alguns na fase anterior à abertura das propostas. Apesar disso, afirma que conseguiu executar R$ 1,2 bilhão em agosto. Mas será preciso bem mais energia para melhorar a posição no ranking mundial, avalia o consultor para logística e infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet.

Ele destaca que já esperava essa piora do País em relação ao resto do mundo. "A economia brasileira está crescendo e a infraestrutura está estagnada, em deterioração." Um dos pontos críticos, na opinião do executivo, é o sistema portuário, que recebeu nota de 2,7 pontos (quanto mais próximo de 1, pior). Com isso, a qualidade dos portos brasileiros caiu sete posições e está entre os 13 piores sistemas avaliados pelo Fórum Econômico Mundial. Entre todas as áreas, os portos ocupam a pior posição, 130º.

"Precisamos dar um salto na infraestrutura, tanto em quantidade como em qualidade", destaca o diretor executivo da Associação dos Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa. Segundo levantamento feito por ele, hoje há uma demanda no País para construir 29 terminais de contêineres. Mas, por enquanto, não há iniciativas para transformar esses números em realidade.

Em Salvador, exemplifica Villa, só existe um terminal de contêiner, que está sendo ampliado. Há projeto de uma nova área dentro do porto público, mas a Agência Nacional de TransportesAquaviários (Antaq) deu 36 meses para fazer a licitação. "Já se passaram 14 meses e até agora não vi nada. Só a ampliação do atual terminal não será suficiente para atender a demanda das empresas, que tem buscado portos do Sul e Sudeste para exportar seus produtos", diz ele.

Fayet, da CNA, completa que a situação é semelhante, se não pior, no Norte do País. "Em Belém, a capacidade de exportação é zero; em São Luiz, o limite de 2 milhões de toneladas não muda há 18 anos; e em Santarém, o volume é o mesmo há dez anos. Não houve nenhuma expansão em uma área que poderia atender a expansão do agronegócio."

Lentidão. A maior crítica é que, apesar da forte demanda e da existência de locais disponíveis, o governo não faz licitações de áreas públicas nem permite que a iniciativa privada faça terminais privativos.

"O governo é muito moroso para liberar a construção de um porto. Só de terminais públicos, há cerca de R$ 6 bilhões aguardando liberação", destaca o presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli.

Desde que o novo ministro da Secretaria de Portos, Leônidas Cristino, tomou posse as decisões estão um pouco lentas. O ex-prefeito de Sobral, no Ceará, demorou algum tempo para tomar pé da situação e entender como funciona o sistema portuário. Enquanto isso, várias medidas importantes esperam por solução, como a tarifa pelo uso do espelho d’água (área onde ficam os navios)nos portos, que tem afastando investimentos privados, afirma Manteli. A cobrança foi suspensa, mas ninguém sabe o que ainda pode acontecer.

"O empresariado está bastante pessimista em relação à infraestrutura brasileira", afirma o coordenador do Núcleo de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda. A fundação é responsável pelos dados brasileiros constantes no Relatório Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial.

Ele afirma que a qualidade das ferrovias brasileiras foi a que recebeu a menor nota: 1,9 ponto - a mesma classificação dada pelos empresários em 2009. Apesar disso, o setor caiu 4 pontos no ranking. "É uma sinalização de que os outros países, que em 2010 estavam atrás do Brasil, conseguiram melhorar a sua infraestrutura", afirma o coordenador. Ele conta que no geral a infraestrutura brasileira recebeu nota de 3,6. "É uma posição muito ruim para o País." (Estado)


Renda feminina cresce mais do que a do homem

Mais anos de estudo. Maior presença na universidade. Participação crescente no mercado de trabalho. Expansão dos programas de transferência de renda. Juntos, esses motivos explicam o salto dos ganhos das mulheres nos últimos cinco anos: a massa da renda feminina subiu 30,8%, de 2006 a 2011, passando de R$ 519,3 bilhões para R$ 679,5 bilhões. Um ritmo de crescimento que deixou a expansão dos homens para trás. A evolução da massa de renda masculina é menor: de 22,7% (de R$ 868,3 bilhões para R$ 1 trilhão). Avanços que foram mais expressivos na classe C. A massa de renda delas avançou 48,6% em cinco anos, para R$ 333,3 bilhões; enquanto a deles subiu 38,3%, para R$ 508,8 bilhões.

As mulheres passaram a ser protagonistas do mercado de trabalho, do consumo, das decisões -- As conclusões são de pesquisa da consultoria Data Popular feita com exclusividade para o GLOBO. O levantamento evidenciou o lado feminino da nova classe média brasileira: as quase 53 milhões de mulheres da classe C detêm quase metade da renda feminina do país.

- As mulheres passaram a ser protagonistas do mercado de trabalho, do consumo, das decisões. Se a classe C cresceu, deve-se a importância da mulher. Uma relevância que ganha cada vez mais espaço ao aquecer o mercado interno em tempos de crise - afirmou Renato Meireles, diretor da Data Popular.

Mulheres têm mais escolaridade do que homens

Pelos dados da consultoria, as mulheres estão cada vez mais escolarizadas do que os homens e sua participação nas universidades cresceu quase 60% nos últimos anos - contra 47,2% da presença deles nas faculdades do país. Já representam 57% do total de estudantes de ensino superior no país. Na classe média, em cinco anos, aumentou em 65% a porcentagem de mulheres de classe C que já haviam cursado o ensino superior.

- Desta maneira, a distância entre a renda do homem e da mulher vai caindo, especialmente na classe C. Ainda que essa distância ainda exista - comentou Meirelles, acrescentando que, na nova classe média, os homens ganham, em geral, 39% a mais do que elas; já na classe A, a diferença é de 58,9%. - É bom lembrar que a escolaridade das mulheres é maior que a dos homens em todas as classes sociais. Contudo, nas classes C e D essa diferença é ainda maior, fortalecendo o protagonismo feminino na baixa renda.

Segundo Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a maior taxa de escolaridade, a queda da desigualdade e participação no mercado de trabalho explicam parte do avanço da renda das mulheres.

- Programas de transferência social, como o Bolsa Família, e os reajustes do salário mínimo também contribuíram bastante para o crescimento da renda total da mulher. É bom lembrar que o governo concede o dinheiro do Estado para a mulher, que tradicionalmente é a gestora do orçamento da família - disse Neri, acrescentando que o ganho de renda ao longo do anos é um movimento sustentado, pois tem como base o aumento da escolaridade e ainda a maior presença no mundo do trabalho. - O futuro é da mulher.

Com mais dinheiro na bolsa, a mulher também passou a ter ainda mais poder de decisão sobre as compras da família. Não à toa: seu potencial de consumo está em quase R$ 1,5 trilhão, o que é 106,2% a mais do que em 2002. Sua voz pesa na hora de a família decidir do destino das férias aos produtos de tecnologia da residência.

- A mulher é a grande gestora dos recursos da família. E isso é uma conquista que não volta mais atrás - disse Meirelles.

Elas só não escolhem o carro, brinca Hildete Pereira, professora da UFF. Com mais dinheiro e com crédito farto no varejo, a mulher, especialmente a da classe C, aqueceu o mercado interno e contribui - e muito - para segurar a economia brasileira durante a crise financeira global.

- A mulher, que ainda é a grande responsável pelos filhos, tornou o mercado de trabalho mais dinâmico e isso teve efeitos no consumo do país. Como é a maior responsável pelas decisões de compra da casa, escolhe do fogão à roupa do marido. É preciso olhar atentamente para essa mulher e garantir um cenário para que essa alegria da classe C não acabe.

Grandes varejistas já percebem a importância da classe C e, especialmente, dessa mulher - que, segundo Data Popular, 33% das mulheres da classe média são chefes de família. No Walmart, por exemplo, quase metade das vendas vem da classe C, ainda que o venda média para classe AB seja 20% a 30% maior do que o da classe C.

- Preço é primordial, mas não é mais o único quesito para atrair essa mulher.

Roupas, bolsas e sapatos podem levar Mariane Alves, de 36 anos, à loucura. "Eu sou descontrolada", brincou a universitária ao resumir o jeito como consome. "Gosto de gastar", comenta. Mas a moça faz bem mais do que ir às compras. Hoje, estuda jornalismo numa faculdade particular e, em breve, vai fazer parte do time da nova geração da família que tem diploma de nível superior. Será também um dos orgulhos de seus tios de consideração que, com esforço, ajudam a estudante a realizar seus sonhos.

- Eu e meus primos (de consideração) demos um passo a mais do que nossos tios. Com mais estudo, as oportunidades certamente serão melhores - afirmou Mariane. (O Globo)


Em greve, operários do Maracanã planejam passeata na terça-feira

Obras para Copa de 2014 estão paradas há oito dias por insatisfação dos funcionários. UGT assume negociação com Consórcio para evitar litígio

A greve dos operários envolvidos nas obras do Maracanã deve ganhar as ruas próximas ao estádio na próxima terça-feira. Ainda sem acordo com o Consórcio Maracanã Rio 2014 quanto a uma série de reivindicações financeiras e de condições de trabalho, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada Intermunicipal do Rio (Sitraicp) incentivou a ideia de haver uma passeata do grupo, munida de cartazes e ferramentas, para protestar contra o impasse.

As partes já travam disputa nos tribunais, e uma audiência com o objetivo de registrar as provas da defesa (no caso, o operariado) deverá ser confirmada para segunda. A empresa responsável parou de dialogar, alegando que cumpre o acordo vigente, já tendo concedido um aumento nos benefícios (cesta básica de R$ 110 para R$ 160) depois da primeira paralisação, em agosto, e que considera "abusiva" a insistência na ação. A comunicação com a imprensa ocorre apenas por meio de nota oficial.

União dos Trabalhadores intervém -- Segundo a diretoria do Sindicato, os trabalhadores têm se mostrado cada vez mais irritados com a suposta "passividade" dos contratantes e não cogitam voltar atrás da decisão. São cerca de 2.200 pessoas, que, inativas, pode começar a comprometer o cumprimento do prazo para a entrega do Maracanã - uma das sedes de mais infra-estrutura - prevista para dezembro de 2012.

Ainda assim, nos bastidores, a União Geral dos Trabalhadores (UGT) costura um acordo para evitar que as obras fiquem paradas por mais uma semana, o que totalizaria 21 dias de greve no somatório das últimas semanas. O presidente da entidade, Ricardo Patah, assumiu a negociação, avançou no contato com o Consórcio e espera um desfecho positivo.

Por ora, porém, ele não pôde levar a solução esperada para a assembleia da manhã desta sexta-feira, realizada com cerca de 80 operários no portão 13 do estádio, mais vazia do que costume. Existe a expectativa de que possa haver acerto nesta tarde, até porque muitos trabalhadores já não seriam mais tão simpáticos à manutenção da paralisação. (O Globo, de 9/9/11)