quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Preparando o samba da reforma

Linha de FGTS para material de construção estará disponível no início de fevereiro

A nova linha de crédito para compra de material de construção com recursos do FGTS, voltada para a classe média, estará disponível no início de fevereiro, segundo a Caixa Econômica Federal. O banco, que é operador do Fundo, baixará uma circular, a ser publicada no Diário Oficial da União, com todos os detalhes da modalidade — aprovada ontem pelo Conselho Curador do FGTS, conforme informou O GLOBO na edição de terça.

Trabalhadores que têm conta vinculada ao FGTS, independentemente da renda, poderão tomar empréstimo de até R$ 20 mil para reformar ou ampliar seu imóvel. A linha estará disponível para quem tem renda a partir de R$ 5.400. O custo efetivo total será de no máximo 12% ao ano, e o prazo de pagamento, de até 120 meses. A linha terá inicialmente R$ 300 milhões, mas, dependendo da demanda, poderá chegar a R$ 1 bilhão por ano.

Para fazer o financiamento, os interessados terão de procurar a Caixa ou outras instituições que quiserem operar a linha. Somente depois devem se dirigir às lojas de material de construção.

Será preciso ainda passar pela análise de risco do banco.

Como o FGTS está dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), somente poderão ser reformados imóveis no valor máximo de R$ 500 mil. A avaliação será feita pelo agente financeiro, de acordo com preços de mercado.

— A circular (com os detalhes da operação) sairá antes de 30 dias — garantiu o vice-presidente de Fundo de Governo e Loterias da Caixas, Fabio Cleto.  

Anefac: custo é o menor do mercado -- Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), ressalta que os custos da nova linha com recursos do FGTS para material de construção são, de longe, os menores do mercado:

— A taxa de 12% ao ano é bastante atraente, é menos que a metade dos menores juros cobrados neste tipo de crédito pelo mercado.

Uma das menores taxas para financiar a aquisição de materiais de construção do mercado hoje é a do Construcard, linha da Caixa, de 1,98% ao mês, ou 26,53% anuais, para um prazo máximo de 60 meses. No Construshop, do Itaú Unibanco, também voltado para reformas residenciais, a menor taxa é de 2,06% mensais (27,72% ao ano), com prazo de 60 meses e valor máximo de R$ 300 mil. Mas ambos só são oferecidos para clientes dos dois bancos. No entanto, diferentemente da nova linha do FGTS, eles também podem ser usados na aquisição de móveis e objetos de decoração.

O representante da Confederação Nacional do Comércio (CNC) no Conselho Curador do FGTS e presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), ClaudioConz, defendeu que a Caixa tenha agilidade e não complique a nova linha de crédito ao regulamentá-la.

— Está começando um crédito de balcão. A Caixa não pode ser burocrática — disse Conz.

Embora considere o limite de R$ 20 mil razoável, diante da média desse tipo de operação no mercado (de R$ 8 mil), Conzdisse que o Conselho Curador pode estudar ampliar o valor. Para ele, o maior benefício para os trabalhadores é uma taxa de juros mais em conta. Os percentuais cobrados pelos bancos atualmente na modalidade variam entre 23,14% e 56,27% ao ano, dependendo do perfil do tomador e do prazo de pagamento.

Apesar de as taxas de juros variarem de acordo com a captação do governo, a máxima a ser aplicada, na opinião do professor de finanças do Ibmec e da FGV Marcos Heringer, pode ser considerada baixa. Ao simular o financiamento de materiais com juros a 12%, a variação ao mês fica em 0,95%, enquanto na linha de crédito pessoal a taxa pode chegar a 5% no mesmo período, e no cartão, a 12% ao mês.

— Os depósitos no Fundo de Garantia não rendem 12% ao ano. Portanto, acho que os valores praticados poderiam ser ainda menores — explica Heringer.

Segundo Conz, da Anamaco, a medida também tem potencial para aquecer o segmento de material de construção, que cresceu menos em 2011 devido às medidas de restrição ao crédito adotadas pelo governo. A alta foi de 4,5% sobre 2010, cuja expansão tinha sido de 10,8%. Para este ano, a previsão é de um aumento entre 7% e 8%. Há no país 138 mil lojas de material de construção.

Para atender famílias de baixa renda (até R$ 5.400), o FGTS oferece linhas de financiamento de material de construção com taxas de juros ainda mais baixas, de 8,16% ao ano. Nos últimos oito anos, foram emprestados a esse segmento R$ 3,5 bilhões, segundo dados do Conselho Curador. Além de materiais, esse segmento tem acesso a financiamentos habitacionais mais em conta, no programa Minha Casa, Minha Vida.

Para o assessor especial do Ministério do Trabalho, Paulo Furtado, a nova linha de crédito é uma extensão de uma modalidade já existente. É a chamada Pró-cotista, que oferece R$ 1 bilhão anualmente para financiamentos habitacionais com taxa de juros de 7,66% por ano.

Segundo ele, a nova modalidade é mais um benefício para o trabalhador, que contribui para o FGTS. Mas, os juros a serem pagos, apesar de serem mais baixos do que os cobrados pelo mercado, estão muito acima do valor pago pelo governo para remunerar os cotistas do Fundo — que são de 3% ao ano, mais a TR.

Arquiteto sugere obra ‘de dentro para fora’

O teto de R$ 20 mil pode não ser suficiente para quem planeja uma megarreforma, dizem arquitetos. Mas, com pesquisa e criatividade, é possível dar cara nova à casa e até bancar alterações estruturais. O arquiteto Jairo de Sender recomenda um investimento "de dentro para fora":

— É melhor trocar encanamentos e a parte elétrica, se necessário. Hoje há uma variedade muito grande de materiais no mercado, e alternativas baratas como piso de cimento e instalações aparentes estão na moda. Janeiro, aliás, é uma ótima época para comprar material de construção, pois há numerosas liquidações.
Para a arquiteta Sophia Galvão, a melhor opção pode ser reformar um ambiente por vez. Mas alerta:

— Em vários casos, a mão de obra é mais cara que os materiais.
A nova linha do FGTS também poderá ser usada na instalação de Hidrômetros de Medição Individual, bem como na implantação de Sistema de Aquecimento Solar (SAS) e itens que visem à acessibilidade.

(O Globo)

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