sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Patah: "Estamos lutando por um trabalho decente. O comércio, por exemplo, tem uma taxa de rotatividade absurda e, a cada troca, baixa-se o salário."

Indústria, varejo e centrais sindicais se unem contra importações

Representantes da indústria, do comércio e dos trabalhadores decidiram se unir para pressionar o governo a tomar medidas contra o aumento das importações no Brasil. Em reunião na manhã desta quinta-feira, em São Paulo, membros da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da Força Sindical, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e das centrais UGT, CGTB e CTB concordaram em organizar manifestações e preparar sugestões de medidas para elevar a competitividade dos produtos brasileiro, que deverão ser encaminhadas a Brasília.

“Será formado um comitê técnico para avaliar as ações no decorrer da próxima semana e dia 6 de fevereiro faremos uma nova reunião de cúpula para definir as medidas”, explicou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao término do encontro desta manhã. “É o descaso do governo que está levando a essa união do setor produtivo”, ressaltou.

Ainda hoje, as centrais sindicais discutirão o assunto com Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio). Segundo o presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), não haverá greve. “O grande problema da desindustrialização é câmbio e juros. Se baixar juros e equilibrar o câmbio já se resolverá uma boa parte da questão”, disse.

Executivos e sindicalistas não apresentaram detalhes das medidas que deverão ser sugeridas ao governo, mas destacaram que a geração e a qualidade do emprego é uma preocupação. “Não é porque o índice de desemprego está baixo que está tudo bem. Estamos olhando para frente. Se não forem tomadas medidas fortes imediatamente, teremos um agravamento da situação em 2012. Estamos nos antecipando ao problema”, observou Skaf, acrescentando que já há registros de demissões na indústria.

“Estamos lutando por um trabalho decente. O comércio, por exemplo, tem uma taxa de rotatividade absurda e, a cada troca, baixa-se o salário. Esse tipo de emprego não nos interessa”, pontou Ricardo Patah, presidente da UGT.

A percepção de industriais e sindicalistas é de que o governo não está preocupado com o setor produtivo brasileiro. "A minha impressão é que o ministro [do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel] tem passeado demais e feito de menos. Ele está parecendo uma abelha. Quando não está voando, está fazendo cera”, disse o presidente da Força Sindical. (Valor)


BC muda tom e indica juro abaixo de 10%

Ata do Copom afirma que existe uma 'elevada probabilidade' de a taxa Selic cair 'para o patamar de um dígito'. Uma semana antes da reunião, Dilma se reuniu com Mantega e Tombini, mas governo nega interferência.

O Banco Central indicou, de modo claro e muito pouco usual, que vai continuar a reduzir a taxa de juros no Brasil até chegar a um patamar abaixo de 10% ao ano.

Em um movimento raro na história do regime de metas de inflação brasileiro, iniciado em 1999, os diretores que integram o Copom (Comitê de Política Monetária) praticamente se comprometem a reduzir a taxa Selic -referência para todas as operações de crédito da economia.

Com argumento de que "a desaceleração da economia brasileira no segundo semestre do ano passado foi maior do que se antecipava" e de que não há uma solução definitiva para crise financeira na Europa, "o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para o patamar de um dígito".

Na semana passada, o BC diminuiu a Selic para 10,5%. A expectativa do setor financeiro era a de que, a partir daí, o espaço para novas quedas estava diminuindo.

Essa foi a sinalização que o mesmo BC havia dado no dia 22 de dezembro, quando divulgou o último relatório trimestral de inflação de 2011. O recado do BC no relatório surpreendeu o mercado e fez os juros futuros subirem.

Por isso, no início de 2012, a expectativa era que o BC reforçasse o discurso de que os cortes seriam menores.

INDEPENDÊNCIA -- A ata divulgada ontem veio na direção oposta e, mais uma vez, gerou dúvidas sobre uma suposta falta de autonomia do BC -que estaria buscando uma retomada mais forte da economia, como deseja a presidente Dilma Rousseff, em vez de preocupar-se em manter a inflação sob controle.

Uma semana antes da reunião do Copom deste mês, a presidente interrompeu as férias do ministro Guido Mantega (Fazenda) para discutir sobre os rumos da economia. O presidente do BC, Alexandre Tombini, também participou do encontro.

A equipe econômica rebate ingerência política da presidente na decisão do BC.

Segundo a Folha apurou, nos bastidores do governo, a mudança de postura do BC se justifica porque os dados da economia à época da elaboração do relatório de inflação -que previa uma redução mais lenta dos juros- não estavam claros quanto agora.

O documento, divulgado no final do mês, usou dados com data até 9 de dezembro.

Avalia-se que, de lá para cá, o desempenho da economia ficou "mais claro" e abaixo do esperado.

Os dados referentes ao crescimento oficial do Brasil no período ainda não foram divulgados. Além disso, houve melhora nas perspectivas para inflação. Em 2011, a taxa fechou no limite da meta, de 6,5%, mas nesse ano todas as estimativas são menores.

Os defensores da decisão do BC argumentam também que pesaram o comprometimento dentro do governo com um ajuste fiscal forte neste ano e a indefinição em relação à crise internacional. (Folha)


Mercado e analistas foram pegos de surpresa com Selic de 1 dígito

O Banco Central divulgou, como é praxe, a ata detalhando a decisão do Copom da semana precedente. Em geral, a ata não traz grandes novidades para o público que acompanha com algum detalhe a conjuntura econômica e a comunicação do BC.

Tampouco é comum que elas sinalizem de modo claro o futuro da política monetária. Desta vez foi diferente.

De modo inédito, a autoridade monetária disse com todas as letras que a taxa Selic será reduzida abaixo de 10% no futuro próximo.

E deu a justificativa teórica que compatibiliza juros reais mais baixos com inflação nas vizinhanças da meta de 4,5%: a taxa de juro "neutra" -que corresponde a inflação estável e próxima à meta- teria se reduzido de modo permanente nos últimos anos.

O mercado e os economistas foram pegos de surpresa com a novidade, principalmente porque, no último relatório trimestral de inflação, o BC passara a sensação de que havia pouco espaço para reduções adicionais do juro.

Ou ao menos assim inferiram muitos analistas a partir da evidência de que o cenário prospectivo para a inflação da própria autoridade monetária sinalizava inflação acima de 5% em 2013 caso a Selic tocasse 9,5% em abril.

O erro do mercado foi duplo. Primeiro, ao ler a projeção de um dos diversos modelos empregados pelo BC de modo direto e mecânico. Segundo, ao concluir que inflação acima de 5% seria algo incômodo à atual gestão.

A Selic provavelmente chegará a 9,5% em abril. A queda da inflação no final de 2011, a ociosidade da economia derivada de um segundo semestre fraco e as más perspectivas para a economia mundial são suficientes para embasar tal escolha.

Principalmente porque o BC da era Dilma não parece muito preocupado em atingir os 4,5% estipulados pelo Conselho Monetário Nacional.

Por fim, apesar de acreditar que Alexandre Tombini pressionará o governo para ser prudente na condução da política fiscal, insistindo na meta de superavit primário de 3,1%, não creio que gastos públicos um pouco maiores do que gostaria o BC impeçam a Selic de cair até 9,5%.

A consequência de política monetária mais frouxa e fiscal menos apertada do que deveria será inflação final mais alta, e não reversão da política de juros.

Esta última soa como um cenário provável apenas se a inflação voltar a ameaçar a meta. Por enquanto, isso parece algo ainda distante. (Na Folha: CARLOS EDUARDO GONÇALVES é professor da FEA-USP.)


Serviços ligados ao Estado serão fonte de emprego, diz economista

Lawrence Summers vê a criação de vagas nos setores de educação e saúde superar a nos mais dinâmicos e produtivos.

No capitalismo do século 21, em países adiantados como os Estados Unidos, os setores mais dinâmicos e produtivos não serão a principal fonte de criação de emprego, mas sim serviços como saúde e educação, ligados ao Estado. A avaliação, que vai na direção contrária ao que a maior parte dos altos executivos e empresários no Fórum Econômico Mundial acha e defende, foi feita quinta-feira, 26, por Lawrence Summers, de Harvard, um dos economista mais respeitados do mundo.

Ex-secretário do Tesouro americano do presidente Bill Clinton, ex-principal conselheiro econômico de Barack Obama e ex-presidente de Harvard, Summers trouxe para a discussão sobre a crise do capitalismo um ângulo incômodo para a elite que frequenta Davos. O que não falta aqui, nas análises sobre o alto nível de desemprego dos países ricos, são recomendações de flexibilização trabalhista e estímulos à inovação e ao empreendedorismo, para liberar o dinamismo do setor privado e a sua capacidade de produzir empregos.

Na visão de Summers, porém, essa abordagem é ilusória. "Criar riqueza é muito mais fácil do que criar empregos." O problema, para o economista, é que a revolução da produtividade na indústria faz com que hoje se produza quantidade muito maior de bens, de qualidade muito melhor, por preços menores, e empregando muito menos gente.

Assim, criou-se a contradição de que os setores mais dinâmicos da economia, com crescimento mais rápido da produtividade, e que são normalmente aqueles que mais se buscam estimular, pelo próprio carisma que possuem, são também os que menos criam empregos.

"É uma ilusão que os iPods, iPads e Kindles vão criar mais empregos para pessoas normais", disse Summers. Para ele, a economia americana está evoluindo numa direção em que a criação de emprego terá de vir muito mais de segmentos ligados ao Estado, como saúde e educação, do que do industrial.

Ele deu um exemplo dramático. Desde os anos 60, o preço relativo de uma televisão reduziu-se 50 vezes em relação ao de serviços de saúde. Ele ressalvou que era um caso excepcional mas, ainda assim, se for tomada a evolução do preço de roupas e de serviços de consumo em geral, embora muito menos drástico, há também um substancial encarecimento relativo dos serviços.

Summers fez um paralelo entre o que ocorre hoje e a transição da economia agrícola para a industrial nos países ricos. Naquele momento, de forma similar ao que ocorre agora na indústria, a evolução tecnológica permitiu que se produzissem muito mais alimentos com muito menos gente. E o contingente desempregado no campo transferiu-se para a indústria, que produzia bens de consumo em altíssima demanda pela população.

Tendência. Hoje, de maneira semelhante, os desempregados da indústria deverão se transferir para setores nos quais o atendimento à demanda da população é notoriamente insuficiente e insatisfatório, como saúde e educação. Os serviços de saúde, aliás, segundo Summers, são o segmento previsto para gerar mais empregos nos Estados Unidos nos próximos dez anos.

A transição atual, porém, apresenta um grande problema. Empregos estão sendo transferidos de um setor industrial altamente produtivo para serviços muito vinculados ao governo que apresentam dinamismo econômico muito menor. De qualquer forma, notou Summers, outra ilusão é a de que "um governo menor combina com um governo que vai criar empregos", uma aparente estocada na agenda conservadora dos republicanos.

O desafio da política econômica na atual fase do capitalismo, portanto, seria o de preservar o dinamismo dos setores de baixa criação de emprego que, por outro lado, produzem em massa bens de qualidade para a população, ao mesmo tempo em que se tenta construir uma sociedade com trabalho digno para todos. (Estado)


Taxa de desemprego é a menor desde 2002

O índice no país diminuiu principalmente por conta da redução da procura de trabalho.

Mesmo à sombra da crise e num cenário de economia mais fraca, o mercado de trabalho das maiores metrópoles do país viveu, em 2011, seu melhor momento em nove anos, com a mais baixa taxa de desemprego desde pelo menos 2002, segundo o IBGE.

Diante principalmente da menor procura por trabalho, a taxa de desemprego cedeu de uma média anual de 6,7% em 2010 para 6% em 2011, colocando o Brasil numa posição intermediária entre os países.

O país obteve índices melhores do que os desenvolvidos e equivalentes aos latino-americanos e emergentes -exceto China e México, segundo projeções do FMI (ver gráfico ao lado).

O desempenho favorável -que levou a taxa a cair para 4,7% em dezembro, a mais baixa de todas- se deu mais por conta da redução da procura de trabalho do que pelo crescimento expressivo da abertura de novas vagas.

O contingente de pessoas desempregadas e em busca de uma colocação caiu 10,4% em 2011, enquanto o emprego subiu apenas 2,1%. Em 2010, o total de pessoas ocupadas havia tido um crescimento maior: 3,5%.

Os dados mostram que a taxa de desemprego foi mais elevada entre os jovens. Entre os com 15 a 17 anos, o índice chega a 23% e entre os de 18 a 24 anos é de 13,4%.

Das regiões metropolitanas avaliadas na pesquisa, Salvador é a que apresenta a taxa mais alta: de 9,6%.

Para a LCA Consultores, a taxa de desemprego declinou principalmente porque menos pessoas procuraram um emprego sob influência do "fato de a renda média anual ter se mantido em alto patamar, o que pode ter desestimulado a busca de uma ocupação para reforçar a renda" da família.

O rendimento perdeu fôlego e cresceu 2,7% na média de 2011, quase um ponto percentual a menos do que em 2010 (3,8%). Manteve-se, porém, em valores historicamente elevados (R$ 1.625).

Para Mauro Rochlin, professor do IBGE, nem a freada do rendimento fez de 2011 um ano ruim para o mercado de trabalho, que teve um desempenho positivo diante do avanço das importações e do consequente efeito negativo sobre a indústria.

Segundo ele, o setor de serviços, mais ligado à renda doméstica, "sustentou o dinamismo" do mercado de trabalho em 2011, algo que deve se intensificar neste ano. "Mas é provável que a taxa de desemprego aumente, pois os impactos do câmbio serão ainda mais sentidos pela indústria."

O ritmo mais lento da geração de vagas na indústria, diz, explica a piora da renda, pois o setor é o que paga os maiores salários.

Esse movimento foi mais notado em São Paulo, principal polo fabril do país e onde o rendimento subiu só 0,7% em 2011.

Já o IBGE cita ainda a inflação mais alta e o menor reajuste do salário mínimo no ano passado como causas da desaceleração da renda.

Um destaque positivo foi o aumento do número de empregos formais, cuja expansão de 6,8% em 2011 ficou acima da média de crescimento do emprego.

Segundo pesquisa do Datafolha, o desemprego deixou de ser o principal problema do país. A posição atualmente é ocupada por saúde. No levantamento feito em janeiro, desemprego ficou em terceiro lugar. (Folha)