quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Mais determinação e coragem para chegarmos a taxas decentes de juros e que acelerem a produção e a expansão na oferta de emprego", diz Patah

Falta determinação para o Brasil ter juros decentes

Ricardo Patah, presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores

O governo mantém a redução dos juros de acordo com as expectativas dos trabalhadores e das empresas que investem na produção. Mas infelizmente anda a passos de tartaruga quando se exige mais determinação e coragem para chegarmos a taxas decentes de juros e que acelerem a produção e a expansão na oferta de emprego.


BC reduz taxa para 9%, e juro real é o menor da história

Queda de 0,75 ponto já era esperada, mas autoridade surpreende e indica que ainda pode haver novos cortes. Descontada a inflação prevista, a taxa de juros real está em 3,3%, mas ainda é a segunda maior do mundo.

Ainda sem sinais visíveis de recuperação da economia, o Banco Central decidiu reduzir seus juros para a menor taxa real -descontada a inflação esperada- já medida pelas estatísticas disponíveis, desde o Plano Real.

O comunicado divulgado ontem à noite pelo Comitê de Política Monetária suscitou ainda a leitura de que novas reduções podem acontecer.

Conforme o documento, os juros do BC, que servem de base para aplicações financeiras e empréstimos bancários, cairão de 9,75% para 9% ao ano, em decisão unânime e amplamente esperada.

O dado menos evidente é que o novo patamar significa um recorde histórico para um país notório pela convivência, desde a década retrasada, com os juros mais elevados do mundo.

A Selic, como é chamada a taxa do BC, ainda está acima dos 8,75% fixados em julho de 2009, quando a indústria e os investimentos ainda sofriam os impactos mais drásticos da crise internacional.

No entanto, quando se leva em conta a alta da inflação, a taxa real de hoje, de 3,3%, está abaixo dos 3,9% daquele período.

Em outras palavras, o estímulo monetário aplicado hoje pelo BC para reanimar a atividade econômica já supera o da crise de 2009.

Desde que o fim da superinflação, em 1994, permitiu estatísticas mais confiáveis e comparáveis, a Selic chegou a ultrapassar os 40% no governo FHC, e a taxa real superou os 16% ao ano no início da administração petista.

Apesar do atual ciclo de redução, o Brasil continua com a segunda maior taxa de juros reais do mundo, atrás apenas da Rússia (4,2%), de acordo com ranking da corretora Cruzeiro do Sul.

LIMITES DA QUEDA -- As perspectivas de novas reduções dos juros são incertas. Até anteontem, as projeções mais consensuais eram de que o ciclo de queda da Selic seria encerrado ontem.

O comunicado do BC, porém, deixou dúvidas ao considerar "limitados os riscos para a trajetória da inflação" e afirmar que a medida está "dando seguimento ao processo de ajustes das condições monetárias".

"Esperava-se uma parada nos cortes, mas o comunicado trouxe um leve viés de baixa", disse Flávio Serrano, do Banco Espírito Santo.

Em nota, a Rosenberg Consultores afirmou continuar acreditando no fim da trajetória de baixa, mas com a ressalva de que é prudente aguardar a divulgação da ata da reunião do BC.

Para o economista Roberto Troster, "poucas vezes o BC foi tão explícito" ao prever novos cortes. Já Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas, entende que o texto do documento apenas justifica a medida. (Folha)


Bradesco, Itaú e Santander cedem e reduzem os juros

Bancos privados focam novas taxas e benefícios para reter atuais clientes

Itaú baixa piso de juro do financiamento de carro para 0,99%, mesma taxa da Caixa, para clientes antigos.

Bem antes do que se esperava, os bancos Bradesco, Itaú e Santander cederam às pressões do governo e anunciaram redução em algumas das taxas de juros de empresas e consumidores.

Recebida como um gesto dos banqueiros para reabertura do diálogo, a reação das instituições privadas ocorre duas semanas após Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal desafiarem a concorrência cortando juros.

Os banqueiros nem esperaram, como normalmente fazem, o Banco Central anunciar, ontem, a redução de 9,75% para 9% dos juros do governo, piso das taxas (leia mais no caderno "Poder").

Diferentemente das instituições públicas, que focaram os benefícios para conquistar novos clientes, Bradesco, Santander e Itaú priorizaram os atuais correntistas com novas taxas e tarifas.

Maior banco privado brasileiro, o Itaú focou o setor de veículos e o crédito com desconto em folha do INSS, segmentos considerados de menor risco de inadimplência.

O Itaú se igualou à Caixa na taxa mínima para financiar carros -0,99% ao mês para clientes antigos (leia mais na página B3).

No Bradesco, houve redução geral nos juros de crédito pessoal e compra de bens, além do financiamento de veículos e do empréstimo com desconto em folha do INSS.

O corte mais agressivo foi na taxa de capital de giro das empresas, de 5,56% para 2,9% ao mês. Ao todo, o banco pôs mais R$ 21 bilhões à disposição dos clientes para crédito.

O Santander, que na véspera anunciara queda nos juros para lojistas, criou nova modalidade de conta-corrente com juros a partir de 4% no cheque especial -o banco tinha taxa média de 10,33% ao mês no cheque até o dia 4.

SEM COORDENAÇÃO -- "Não tem nada de movimento [coordenado] de mercado. Reduzimos porque criamos um novo tipo de conta. Queremos dar opção ao cliente", diz Pedro Coutinho, vice-presidente do Santander.

Para o economista Roberto Troster, especialista em bancos, as ações do BB e da Caixa e agora a dos bancos privados terão efeito limitado no aumento da concorrência e na redução efetiva dos juros.

"Caixa e BB já tentaram antes e não conseguiram aumentar a concorrência. Há uma grande dificuldade para mudar de banco."

Para o economista Luiz Calado, a concorrência bancária vai esbarrar na qualidade de atendimento, em que os bancos privados são mais bem avaliados. "Não é só preço que importa", disse. (Folha)