segunda-feira, 30 de abril de 2012

Se todas as 54 milhões de pessoas com conta em banco hoje tivessem buscado crédito no sistema financeiro, cada uma teria um gasto anual de R$ 3,6 mil


Brasileiros pagam R$ 194,8 bilhões de juros bancários por ano, ou R$ 3,6 mil por cliente.
Valor inclui cheque especial, crédito pessoal, crédito consignado, aquisição de veículos e de bens.
Os brasileiros gastam R$ 194,8 bilhões por ano com pagamento de juros de empréstimos bancários. Isso equivale a dizer que, se todas as 54 milhões de pessoas com conta em banco hoje tivessem buscado crédito no sistema financeiro, cada uma teria um gasto anual de R$ 3,6 mil. Essa cifra corresponde à despesa só com juros, sem considerar a amortização do empréstimo principal.
Os cálculos da despesa com juros foram feitos, a pedido do Estado, pelo presidente da empresa de classificação de risco Austin Rating, Erivelto Rodrigues. Para chegar a esse resultado, foram consideradas cinco linhas de crédito: cheque especial, crédito pessoal, crédito consignado, aquisição de veículos e de bens. Os saldos e as respectivas taxas de juros cobradas em cada linha usadas no cálculo estão disponíveis no relatório de crédito de março do Banco Central. Ficaram de fora o crédito imobiliário e o cartão de crédito.
Os dados mostram que, para as linhas analisadas, o gasto com juros cresceu 60% em três anos. Em março de 2009, a despesa anual com juros das linhas de crédito analisadas era de R$ 121,5 bilhões e, em março deste ano, atingiu R$ 194,8 bilhões. No mesmo período, o saldo das operações de crédito correspondentes cresceu 85%: de R$ 264,5 bilhões em março de 2009 para R$ 490,7 bilhões em março deste ano.
"O ritmo de aumento do gasto com juros foi menor do que o aumento do volume dos empréstimos feitos ao consumidor exclusivamente por causa da redução da taxa básica de juros, Selic, já que o spread ficou estável no período", ressalta Rodrigues.
Em março de 2009, a Selic efetiva, que é o parâmetro do custo de captação dos bancos, estava em 11,7% ao ano. Em março deste ano, era de 9,4%. A queda é de 2,3 ponto porcentual. Durante esse período, o spread, que é a diferença entre o custo de captação e de empréstimo, ficou estável em torno de 28%.
Nas últimas semanas, o governo vem pressionando os bancos privados a reduzir os juros cobrados do consumidor para impulsionar o consumo, reativar o mercado doméstico e a atividade econômica, que enfraqueceu no primeiro trimestre. A estratégia foi baixar as taxas cobradas nas linhas de crédito dos bancos oficiais (Caixa e Banco do Brasil) para acirrar a concorrência e forçar a queda dos custos dos empréstimos aos clientes.
Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, compara o efeito atual dos juros, amarrando o consumo, com o impacto nos preços exercido pela inflação. "O Plano Real tirou o peso da inflação no mercado doméstico, que foi trocado pelos juros e impostos."
Silveira diz que, no momento atual, no qual a economia mundial deve crescer 2,5% este ano, a metade de 2011, é crucial reduzir os juros para garantir o dinamismo do mercado doméstico. "Imagina o quanto poderíamos ter crescido se não tivéssemos carregado juros elevados por quase 20 anos?", questiona. (Estado)

Recuo da inflação ajuda BC a testar novo piso para juros
Preços estão subindo menos do que haviam previsto analistas do mercado e governo no fim do ano passado. Inflação oficial deve chegar a 5% em abril, ajudada por preços mais baixos de alimentos e automóveis.
O recuo recente da inflação é o principal trunfo do Banco Central (BC) para prosseguir com os cortes na taxa básica de juros para abaixo dos atuais 9% ao ano.
Desde janeiro, a inflação cedeu mais do que haviam previsto tanto analistas de mercado quanto o próprio BC no fim do ano passado.
Acumulada em 12 meses, a inflação oficial-medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE)-recuou de 6,5% em dezembro para 5,2% em março e deve seguir em queda em abril, prevê o economista-chefe do banco Credit Suisse, Nilson Teixeira.
O patamar ainda é superior à meta do governo para este ano (4,5%) mas, diz Teixeira, está em desaceleração.
"No fim do ano, a maioria dos analistas, inclusive nós, estimava que a inflação em abril estaria mais alta do que vemos hoje. Isso não se confirmou e a dinâmica para os próximos meses é favorável, o que foi uma grande surpresa", afirma Teixeira.
Relatório elaborado pelo economista, obtido pela Folha, mostra que, retirando os serviços, a inflação já está bem abaixo da meta-3,5% em março. Graças a deflações de automóveis e eletrodomésticos com IPI reduzido.
Também contribuíram menores aumentos nos alimentos e nas tarifas públicas, como ônibus, em baixa no embalo das eleições municipais.
Mas, pondera Teixeira, mesmo os serviços-como passagens aéreas, empregados domésticos e aluguel, por exemplo-também perderam fôlego. Uma das razões é que a inflação mais branda desestimula repasses mais altos. Esse comportamento inesperado ajuda o BC a testar um novo piso para a taxa básica.
O economista integra um grupo pequeno de analistas que estima que o BC pode ser ainda mais ousado no corte de juros. Na sua avaliação, a taxa pode chegar a inéditos 8,25% ao ano em julho.
"Uma inflação relativamente bem comportada e um crescimento econômico menor são compatíveis com um ciclo mais longo de corte de juros", diz o economista.
Para Teixeira, a inflação deverá fechar o ano por volta de 5% "com risco de ser mais baixa", e seguirá script semelhante no ano que vem.
A projeção mais otimista para os preços embute, contudo, a previsão de que a economia crescerá pouco neste ano, cerca de 2,5%.
A maioria dos analistas prevê uma expansão de 3,2% e o objetivo do governo é alcançar, ainda neste ano, um crescimento de 4,5%.
"Os impulsos colocados hoje são menores do que os usados nas acelerações recentes, como em 2009", diz.
Um risco de a inflação ficar mais alta é o dólar estacionar num patamar mais elevado, como parece buscar o BC.
"Mesmo assim, veremos se o impacto do câmbio nos preços será o mesmo dos padrões dos modelos do passado". (Folha)