terça-feira, 29 de maio de 2012

A queda da inflação, o aumento do salário mínimo e o mercado de trabalho ainda aquecido ajudaram as negociações salariais deste início de ano


Ganhos reais superam os de 2011, apesar da atividade mais fraca
José Silvestre: "O efeito do salário mínimo influencia as negociações, sobretudo para quem tem piso referenciado no mínimo"
A queda da inflação, o aumento do salário mínimo e o mercado de trabalho ainda aquecido ajudaram as negociações salariais deste início de ano e garantiram aos trabalhadores aumentos reais de salário bem acima daqueles conquistados em iguais meses de 2011, apesar da desaceleração da economia doméstica e das preocupações crescentes com o cenário externo. O Valor analisou 216 convenções coletivas entre as que foram registradas no Ministério do Trabalho até 25 de maio, referentes a categorias com data-base nos cinco primeiros meses do ano. A média de ganho real negociada nesse intervalo quase dobrou, passando de 1,65% entre janeiro e maio do ano passado para 3,06% em igual período deste ano.
O recuo da inflação explica parte expressiva do aumento real dos salários. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado para deflacionar os salários, passou de 6,3% no acumulado em 12 meses encerrados em abril de 2011 para 4,88% em igual período deste ano, um recuo de mais de 1,4 ponto percentual. "Com a inflação mais baixa, é mais fácil negociar um ganho real", diz Fabio Romão, economista da LCA Consultores.
O aumento real médio foi sustentado nos primeiros meses do ano. Começou com 3,65% em janeiro (percentual influenciado pelo mínimo), mas se manteve expressivo, com 1,59% em fevereiro, 2,91% em março, 2,06% em abril e 2,17% em maio. Essa "robustez" não era esperada no início do ano, diz Romão. "Nós acreditávamos que as negociações garantiriam ganhos reais, mas a inflação surpreendeu para menos e a manutenção da taxa de desemprego em patamares historicamente muito baixos, a despeito de um cenário econômico enfraquecido, preservou um ganho real ainda maior", explica.
Salvo poucas exceções, como na construção, as categorias cuja data-base incide no começo do ano têm menor tradição em campanhas salariais do que aquelas que negociam no segundo semestre, como os metalúrgicos e bancários. Por isso, muitas negociações tendem a seguir a valorização real garantida pelo avanço de 14,1% do salário mínimo. A isso também se soma o fato de o piso dessas categorias acompanhar o piso nacional, o que leva os empresários a pagar índices mais altos de reajuste.
"O efeito do salário mínimo continua influenciando as negociações, sobretudo para as categorias que têm um piso salarial referenciado no mínimo - e não são poucas", diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ele acredita que maio é um mês termômetro para o primeiro semestre, quando negociam categorias ligadas ao setor de transportes no país inteiro. Na semana passada, os metroviários em São Paulo fizeram uma greve de um dia por um reajuste de 6,17%, o que representa 1,2% de ganho real, deflacionado pelo INPC.
Romão acredita que a falta de mão de obra qualificada aumenta ainda mais o poder de barganha do trabalhador num momento em que a taxa de desemprego calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 6,0% em abril, permanece baixa. "Não falta no mercado de trabalho apenas quem tenha ensino superior. Em alguns setores, falta quem tenha treinamento específico para aquele ramo, falta gente com ensino técnico", avalia.
No setor da construção civil, o reajuste de 7,47% negociado em São Paulo representou um aumento real de 2,47%, menor que o índice acertado em 2011, de 3,25%. Os resultados apresentados pelo setor no primeiro trimestre, com um número maior de cancelamentos de contratos imobiliários, também pautaram as negociações.
Haruo Ishikawa, diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), chama a atenção para a relação entre custo e retorno do trabalhador. "O custo da mão de obra está aumentando. Com o 'boom' do setor, foi preciso contratar muito, mas a produtividade caiu. Quando o salto no estoque de mão de obra é muito grande, é inevitável que aumente também a mão de obra menos especializada e menos produtiva", diz ele.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, 24% das vagas formais criadas no país em 2012, até abril, foram na construção civil. As negociações salariais de trabalhadores da categoria estão em andamento em vários Estados, como no Espírito Santo, onde a greve - por um reajuste equivalente aos 14% do piso nacional - dura mais de 20 dias.
Sem condições de reajustar os salários de toda a categoria em 14%, a indústria calçadista de Franca, no interior de São Paulo, negociou uma valorização mais forte do piso frente a um reajuste menor para os demais trabalhadores. "O critério utilizado pelo governo não era a nossa realidade. O setor não suportaria um reajuste tão alto para toda a cadeia", explica Lázaro Reinaldi, do sindicato patronal. A categoria conquistou um aumento nominal de 7,63%, que inclui ganho real de 1,9%. A compensação garantida foi uma valorização, apenas no piso, de 12%.
Para Silvestre, do Dieese, reajustes ainda mais robustos devem ser negociados no segundo semestre devido à espera por uma retomada da atividade econômica. "Esses números altos [do início de 2012] apontam uma tendência. O setor empresarial trabalha muito com as expectativas na hora de negociar".
A LCA projeta que o rendimento real médio do trabalhador cresça 3,9% em 2012, na comparação com o ano passado. "Desde o segundo semestre de 2011, a ocupação cresce a taxas mais controladas. A ocupação, sim, sentiu os efeitos da atividade econômica enfraquecida, mas a renda não", afirma Romão. (Valor)

Alinhados com governo, BB e Caixa cortam juro para veículos
Bancos públicos se esforçam para tentar acelerar a venda de veículos, que tem sofrido nos últimos meses com a inadimplência recorde
A ofensiva dos bancos públicos continua. Alinhado com o esforço do governo de dar fôlego à indústria automobilística, o alvo dessa vez parece ser o financiamento de veículos. Nesta segunda-feira, 28, o Banco do Brasil anunciou a quarta redução de juros para o segmento em menos de 60 dias. Na Caixa Econômica Federal, o custo desse crédito também já caiu quatro vezes desde o início de abril.
Exatamente como quer o Palácio do Planalto, bancos públicos se esforçam para tentar acelerar a venda de veículos, que tem sofrido nos últimos meses com a inadimplência recorde. Em anúncio feito nesta segunda-feira, o BB anunciou redução do custo do crédito para compra de veículos pelas micro e pequenas empresas. A taxa mínima nesse segmento caiu para 0,77% ao mês. Antes, era 0,97%. A taxa máxima caiu de 2,37% para 1,75% mensal.
Para as empresas de pequeno porte interessadas em comprar veículos, o BB dá crédito em montante de mais de 100% do valor do veículo, pois permite que o financiamento inclua, além do carro propriamente dito, os acessórios e também Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pago na operação. São até 60 meses para pagar, com os três primeiros meses de carência.
Ao explicar a nova decisão, o BB afirma que a medida anunciada foi possível graças às ações anunciadas na semana passada que incentivam o financiamento para carros via benefício no recolhimento compulsório, parte do dinheiro dos clientes que é destinada obrigatoriamente para depósito no BC.
Na Caixa, o quarto corte de juro para a compra de veículos foi anunciado na semana passada. Com as quatro reduções seguidas, a taxa mínima para financiar um carro na instituição financeira caiu de 1,19% ao mês - antes do início dos cortes - para os atuais 0,75%, taxa divulgada na última quarta-feira. (Estado)