quinta-feira, 31 de maio de 2012

Com juros mais baixos é a chance de o Brasil concentrar seus esforços na produção, prestação de serviços e comércio para alavancar nossa economia, cada vez menos refém dos especuladores


Queremos um novo Brasil com Selic a 8,5%Ricardo Patah, presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores
A Taxa Selic a 8,5%  é uma referência histórica que deve ser confirmada pela redução do spread bancário e dos juros astronômicos cobrados no crédito rotativo do cartão de crédito e do cheque especial. Com juros mais baixos é a chance de o Brasil concentrar seus
esforços na produção, prestação de serviços e comércio para alavancar nossa economia, cada vez menos refém dos especuladores.


Taxa de juros atinge piso histórico, e rendimento da poupança muda
Ritmo lento da atividade econômica faz Banco Central reduzir taxa Selic de 9% para 8,5% ao ano. Nova fórmula de cálculo do rendimento da caderneta entra em vigor com a redução da taxa a partir de hoje
O Banco Central aproveitou o momento de pasmaceira na economia brasileira e reduziu ontem a taxa básica de juros do país para seu menor patamar histórico.
Com a medida, entrará em vigor a nova regra para a remuneração das cadernetas de poupança, que resultará a partir de agora em ganhos inferiores -ligeiramente, por enquanto- aos tradicionais 6,17% anuais.
A taxa Selic, que serve de base para o rendimento das aplicações financeiras e o custo dos empréstimos bancários, caiu de 9% para 8,5% ao ano. Trata-se do menor percentual desde a criação da taxa, em 1986.
Se descontada a expectativa de inflação, o juro real no Brasil caiu para 2,8%, ainda um dos mais altos do mundo, mas o menor desde a edição do Plano Real, em 1994. Comparações com períodos anteriores são dificultadas pela sequência de planos econômicos e trocas de moedas.
Foi justamente a nova regra da poupança, editada no início do mês, que permitiu a redução das taxas, um objetivo perseguido pela presidente Dilma Rousseff e por sua equipe econômica desde que ela chegou à Presidência.
Sem a mudança na poupança, cortes mais ousados dos juros levariam as demais aplicações de renda fixa a renderem menos que as cadernetas, provocando um desequilíbrio no mercado.
Pela nova metodologia, a poupança renderá o equivalente a 70% da Selic quando a taxa do BC for igual ou inferior a 8,5%. O rendimento passará, portanto, a 5,95% ao ano, além da TR (Taxa Referencial), que tende a se aproximar de zero.
Esse ganho valerá para todos os depósitos feitos a partir de hoje. Para os depósitos entre a edição da regra e ontem, a remuneração será aplicada depois do aniversário da aplicação. Depósitos anteriores à regra mantêm a antiga remuneração.
CRISE -- Mesmo com a inflação ainda acima da meta oficial de 4,5% ao ano, o BC vem reduzindo os juros desde o final de agosto do ano passado, devido ao impacto da crise internacional sobre o crescimento econômico do país.
Os indicadores mostram, no entanto, que o consumo e o investimento têm reagido com lentidão ao estímulo monetário. Os números do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre, que serão divulgados amanhã, deverão mostrar expansão modesta.
O cenário permitiu ao governo Dilma Rousseff, ao menos, faturar politicamente a queda dos juros. Depois da pressão pública para a redução dos juros cobrados pelos bancos, já se fala, reservadamente, em uma taxa abaixo de 8% até o final do ano.
A decisão de ontem, já esperada pelo mercado, foi tomada por unanimidade do Comitê de Política Monetária, formado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, e os seis diretores da instituição.
No comunicado divulgado após a reunião, o primeiro em que os votos dos membros do Copom foram indicados nominalmente, o comitê repetiu a justificativa apresentada em abril, quando os juros caíram de 9,75% para 9%. (Folha)

O mundo do juro zero é um horror
Investidores na prática pagam para emprestar dinheiro à Alemanha ou aos EUA; isso é pânico grave
O JURO REAL no Brasil se aproxima de 2% ao ano. Para quem vive o dia a dia de juros no cheque especial a 180% ao ano e paga em torno de 25% ao ano para financiar a compra do carro, a frase parece fantástica ou, no melhor dos casos, irrelevante.
Mas, sim, a taxa de juros real no Brasil se aproxima de 2%. Trata-se aqui da taxa de juros para grandes transações no mercado, para 360 dias, descontada a expectativa de inflação no período. Mais precisamente, a taxa real de juros estava ontem em 2,3% ao ano. Deve ir a 2% até agosto. Talvez abaixo disso.
O juro real baixa na praça do mercado porque a política do Banco Central é de reduzir a "sua" taxa de juros, a taxa que o BC influencia, a Selic, sobre a qual toma decisões mais ou menos a cada mês e meio, como o fez ontem.
A política de juros do BC é baixista porque a autoridade monetária brasileira acredita que a inflação não deve ser um problema no futuro próximo. O BC acredita nisso porque, entre outros motivos complexos, a economia brasileira tem andado muito devagar e a do mundo rico pode ir para o vinagre.
No mundo euroamericano, as taxas de juros são negativas, menores que zero, mais ou menos desde 2008, 2009, e continuam caindo.
Negativas? Sim. Descontada a inflação, quem empresta aos governos dos Estados Unidos e aos governos solventes da Europa (Alemanha e países menores do norte europeu) recebe menos do que emprestou.
Isso é sinal de pânico.
Há pânico porque os grandes investidores do mundo temem que a Espanha e/ou seus bancos possam ir à breca, o que pode provocar quebras em outras instituições financeiras da Europa e do mundo, deflagrando nova e feia recessão.
Para Espanha e Itália, no bico do corvo, os juros e outras demandas de segurança do mercado continuavam a subir para níveis críticos.
Mas as taxas de juros para empréstimos de dez anos para os governos dos Estados Unidos, da Alemanha e de países solventes da Europa chegaram a mínimas não vistas faz mais de 60 anos.
Outro modo de dizer a mesma coisa: investidores aceitavam ontem ficar com títulos dos governos americano e alemão, com prazo de dez anos, pelas taxas de 1,62% ao ano e 1,26% ao ano, respectivamente. Isso quer dizer que esses títulos estão caros. Grosso modo, os juros que pagam esses papéis resulta da diferença do valor de face, do "preço inicial" desses títulos, e o preço pelo qual são negociados no mercado.
Tais papéis estão caros porque multidões de investidores querem comprá-los. Quanto maior a procura, maior o preço, menores os juros.
Por que há tanta procura? Porque muitos donos do dinheiro grosso temem aplicar seus recursos em qualquer outra coisa menos segura ou procuram transferir aplicações em negócios mais arriscados para títulos de governos que não dão calote, como EUA, Alemanha e mesmo em países como a Dinamarca.
O nome disso é "fuga do risco". O medo é tamanho que os donos do dinheiro colocam seus recursos em aplicação de rentabilidade menor que zero (descontada a inflação).
Pode ser que o medo passe, como passou em outras rodadas dessa crise que já dura meia década (ou não passe...). Mas o pânico vai deixar sequelas, aqui no Brasil também. (Folha)